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Opinião | Conservemo-nos sãos

Quem já não experimentou a desagradável sensação daquela “mão mole”, que não segura com vontade a mão alheia? Apertar as mãos, não como torniquete, mas com carinho, alivia as tensões, reduz o estresse, aumenta o sentido de acolhida e pertencimento

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convidado
Por José Renato Nalini

Como o português é um idioma plural. Quantos tempos verbais disponíveis, embora raramente conjugáveis. A geração tik-tok não se interessa por isso. Estudar Letras é para nefelibatas. Outro verbete que obrigará a consulta ao dicionário para merecer compreensão.

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O título desta reflexão poderia ser “Conservar-se são”. Quase cacófato: “sessão”. “Conservemo-nos sãos” também é esquisito. Mas o importante é pensar que a saúde mental gera preocupações. Nunca houve tanta anomalia, tantos sintomas distintos, tantas síndromes como nesta era informatizada, algoritmicamente manipulada e detentora do controle sobre as consciências.

Por isso, é de cautela e precaução cuidar de encontrar veredas propiciadoras de preservação de um mínimo de discernimento individual. Pensadores com expertise em cuidados psicológicos recomendam alguns exercícios singelos, que resultam em benefícios tangíveis.

Um deles é usar mais a mão para cumprimentar, tocar, acariciar. Quem já não experimentou a desagradável sensação daquela “mão mole”, que não segura com vontade a mão alheia? Apertar as mãos, não como torniquete, mas com carinho, alivia as tensões, reduz o estresse, aumenta o sentido de acolhida e pertencimento.

Pessoas providas de um talento de liderança inconteste são aquelas que não hesitam em tocar o amigo enquanto conversam. Lembro-me de Antonio Ermirio de Moraes, que sempre segurava o braço do interlocutor, ou colocava a mão direita sobre seu ombro. Isso transmite segurança e transparência ao diálogo.

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Um outro exercício que pouca gente pratica é subir escadas. Todos preferem elevador, até para um só andar. E as escadas do metrô ficam vazias, enquanto as rolantes são apinhadas. Subir escadas reduz doença cardíaca, pois é um desempenho aeróbico, movimento que acelera a frequência cardíaca e níveis de oxigênio. Diminui a hipertensão, o colesterol prejudicial e equivale a caminhar, correr ou andar de bicicleta.

Também se recomenda consumir ao menos uma castanha-do-pará por dia. Ela supre a deficiência de selênio e melhora as funções cognitivas dos idosos. O selênio é parte da produção de uma enzima chamada glutationa peroxidase, de ação antioxidante. Combate a nocividade dos radicais livres.

Observar e conversar com a natureza. É científica a constatação de que se deter diante de árvores ou qualquer outra espécie de vegetação tranquiliza e reabastece o ânimo dos humanos. Melhor ainda, cultivar um jardim ou manter alguns vasos dentro de casa. E existem seres privilegiados que conseguem “conversar” com as árvores. Nos passeios que fiz com Lygia Fagundes Telles, era comum que ela pusesse as mãos no tronco das tipuanas dos Jardins e transmitisse à “irmã árvore” os seus puros sentimentos de ecologista praticante.

Paulo Nogueira Neto, o paradigma de ambientalista brasileiro, não só foi pesquisador, cientista e criador das Unidades de Conservação, exitoso ao dialogar com ideologias antagonistas, mas possuía exuberante vegetação em sua casa, onde também criava abelhas sem ferrão. Ambos, Lygia e Paulo, ultrapassaram a casa dos noventa anos.

Outra prática mais benéfica a quem a faz do que aos seus destinatários, é a do bem. Empregar dinheiro, tempo ou energia com o próximo é fazer bem para a própria alma, além de ajudar o semelhante. Comprovou-se que os altruístas sentem menos dor física, recuperam-se mais rapidamente, conservam a sanidade mental com vantagens quando comparados aos que não descobriram a magia da caridade, da filantropia, ou do mecenato.

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O cultivo das amizades é outro medicamento eficaz. Quem tem amigos não tem depressão, não sofre de solidão, de crises de ansiedade ou de profundo desalento. Fazer amizades é tarefa permanente e desenvolve um senso de expertise em detectar aproximações interesseiras ou falaciosas, que na verdade não são relações fraternas e devem ser evitadas.

Por derradeiro, é sempre oportuno fazer uma revisão da própria vida. Os sonhos infantis não equivaleram aos da adolescência. Assim como a maturidade reposicionou expectativas e aspirações. A cada fase da vida, é importante revisar aquilo que se propôs e adaptar-se para a realidade com que se conta no presente estágio. A busca de novos compromissos, o abandono de algumas utopias, faz bem para a cabeça e para a alma.

Existem outras fórmulas para se conservar são. Para preservar a saúde do corpo e da mente. Cada qual saberá escolher aquelas que melhor se adaptem ao seu estilo de vida ou à sua concepção sobre o que deva ser esta peregrinação transitória, efêmera e frágil por este nosso maltratado planeta.

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José Renato Nalini
Reitor da Uniregistral, docente da pós-graduação da Uninove e secretário executivo das Mudanças Climáticas de São Paulo. Foto: Daniela Ramiro/Estadão
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