O cantor de pagode e ex-vereador Netinho de Paula é citado na denúncia oferecida pelo Ministério Público de São Paulo (MP-SP) contra os “homens do dinheiro” do Primeiro Comando da Capital (PCC), empresários acusados de lavar dinheiro para a poderosa facção. Ele não é alvo da investigação.
Conversas obtidas pelos investigadores mostram que o cantor mantinha contato com um dos denunciados, o empresário Ademir Pereira de Andrade, apontado como agiota, operador financeiro do PCC e laranja da facção em imóveis de luxo comprados para lavar dinheiro do tráfico de drogas.
As mensagens foram transcritas na denúncia como prova de que o empresário incorreu na “prática criminosa de empréstimo a juros”. Em uma das conversas, Netinho chama Ademir Andrade de “Banco da Gente”.

O Estadão busca contato com a defesa do cantor. Em entrevista ao SBT, Netinho confirmou que fazia empréstimos com o empresário, mas negou ter conhecimento da ligação dele com o PCC. O cantor explicou que fez operações de antecipação de recebíveis após a pandemia da covid-19.
“Assim que passou a pandemia, o nosso setor de música foi praticamente o último a voltar a trabalhar. Os contratantes dos shows pediam prazo para poder pagar. Davam duplicadas de 30, 60 e às vezes 90 dias para pagar. A gente vai ao banco e tenta negociar uma boa taxa. O banco estava com uma taxa alta. Esse moço, o Ademir, tinha uma taxa boa.”
Netinho também contou que chegou a ser contratado pelo empresário para fazer uma apresentação no aniversário da mãe dele. “Por isso, nós ficamos inclusive amigos. Ele era muito fã. Era essa nossa relação.”

Outra conversa chamou a atenção dos investigadores e foi usada para subsidiar a denúncia contra Ademir Andrade. No diálogo, ele pede a ajuda de Netinho de Paula para inspecionar a Penitenciária Federal de Mossoró (RN), onde na época estavam presos Gilberto Aparecido dos Santos, o Fuminho, e Décio Gouveia Luiz, o Décio Português, ambos integrantes do PCC.
O cantor pergunta se havia denúncias de maus tratos a presos. “Precisa perguntar pro mano se eles tem um advogado com cliente sofrendo no lugar que será visitado pelos deputados. Isso porque o sindicato que estará na ação precisa de uma denúncia”, responde o cantor. “Para esses deputados fazerem uma visita, eles vão precisar de uma denúncia.”
Netinho também compartilha um ofício da Associação Brasileira dos Advogados Criminalistas (Abracrim) à Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados pedindo uma visita técnica na Penitenciária de Mossoró para “apuração de violações de direitos humanos”.
“Dá uma lidinha com calma. Não é os deputados que precisam ir, é o pessoal do Ministério dos Direitos Humanos”, escreve o artista.
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O Ministério Público afirma que o empresário, “agindo no contexto da organização criminosa, tenta articular, por meio dos contatos políticos” com o cantor, uma “ofensiva em relação à penitenciária”. As conversas, afirmam os promotores, “mostram o alcance que a organização criminosa possui, movimentando as mais variadas esferas do Estado em favor de seus integrantes”.
Além de Ademir Andrade, outras 11 pessoas foram denunciadas pelo Ministério Público de São Paulo. Foram denunciados: os delegados Alberto Pereira Matheus Júnior e Fábio Baena Martin; os investigadores Marcelo Marques de Souza, o Bombom, Marcelo Roberto Ruggieri, o Xará, e Eduardo Lopes Monteiro; os policiais Rogério de Almeida Felício, Valdemir Paulo de Almeida, o Xixo, e Valmir Pinheiro, o Bolsonaro; os empresários Ademir Pereira de Andrade e Robinson Granger de Moura, o Molly; o advogado Ahmed Hassan Saleh, o Mude; e Danielle Bezerra dos Santos, mulher de Rogério.