O general Marco Antônio Freire Gomes, ex-comandante do Exército, foi fundamental para evitar que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e seus aliados colocassem em prática o golpe que vinham articulando. A investigação da Polícia Federal sobre o plano golpista mostra que ele se recusou a aderir ao golpe, mesmo após sofrer ampla pressão de militares da ativa e da reserva para mobilizar as Forças Armadas a apoiar uma ruptura institucional.
A investigação da PF já havia demonstrado a influência do general Walter Braga Netto, ex-ministro da Casa Civil, em uma campanha velada, mas agressiva, de pressão ao comandante do Exército.
O relatório final da Polícia Federal, tornado público nesta terça-feira, 26, revelou um novo personagem ativo no lobby junto a Freire Gomes: o coronel reformado Laércio Vergílio. Ele está entre os 37 indiciados pela PF por golpe de Estado, abolição violenta do Estado Democrático de Direito e organização criminosa.
Mensagens obtidas pelos investigadores mostram tentativas insistentes de convencer o comandante do Exército a apoiar o plano golpista. As mensagens foram enviadas em 2022.
Em uma delas, ele defende uma intervenção das Forças Armadas para manter Bolsonaro no poder: “Se o Bolsonaro cair, a nação brasileira cairá junto”, escreveu. “O que vocês estão esperando? O povo todo pede que nós salvemos o Brasil.”
As mensagens são ignoradas por Freire Gomes. O coronel então faz um ultimato: “Ou você toma uma decisão ou pede pra sair, é uma questão de ‘foro íntimo’ seu. Conheço seu caráter, seu profissionalismo, mas você vai amargar essa mácula na sua reputação e passar para a História como o ‘Covarde TRAIDOR DA PÁTRIA’? Não tem outra leitura, infelizmente, meu amigo.”
Aos investigadores, Freire Gomes confirmou que sofreu pressão para aderir ao plano golpista e colocou Bolsonaro no centro as articulações para anular o resultado da eleição e impedir a posse do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Em prestado à Polícia Federal no dia 1º de março, no inquérito do golpe, o general afirmou que Bolsonaro convocou reuniões no Palácio do Alvorada, após o segundo turno, e “apresentou hipóteses de utilização de institutos jurídicos como GLO (Garantia da Lei e da Ordem), estado de defesa e sítio em relação ao processo eleitoral”.
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A “Carta ao comandante do Exército de oficiais superiores da ativa do Exército Brasileiro” também foi considerada um instrumento de pressão. O documento escrito por oficiais da ativa pedia medidas das Forças Armadas para “manutenção da Garantia da Lei e da Ordem e da preservação dos poderes constitucionais”. Segundo a PF, Bolsonaro sabia que o documento estava sendo preparado.
Para a Polícia Federal, o plano golpista só não foi adiante porque o general Freire Gomes e a maioria dos militares de alta patente “mantiveram a posição institucional, não aderindo ao golpe de Estado”, “apesar de todas as pressões”. Diante da negativa, Bolsonaro e seus aliados não tiveram “confiança suficiente” para “avançar na consumação do ato final”, afirmam os investigadores.
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