Minoria na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid, do Senado, aliados do presidente Jair Bolsonaro apresentaram relatórios com visões bem diferentes sobre o enfrentamento da pandemia do que que foi descrito no parecer do senador Renan Calheiros (MDB-AL), relator da comissão. Enquanto o emedebista acusa o Bolsonaro por nove crimes e propõe o indiciamento de 66 pessoas, além de 2 empresas, senadores governistas livram o chefe do Executivo de qualquer responsabilidade pelas mais de 600 mil mortes pela doença e elogiam ações tomadas pelo governo federal, pontuando que a vacinação no País foi um "sucesso".
Os senadores Marcos Rogério (DEM-RR) e Eduardo Girão (Podemos-CE) estão entre os parlamentares próximos ao Planalto que formularam relatórios separados. Junto com os senadores Luiz Carlos Heinze (PP-RS) e Jorginho Mello (PL-SC), os quatro integrantes da tropa de choque do Planalto devem votar contra o parecer de Renan.
No relatório de Marcos Rogério, o senador governista afirma que a CPI não levantou nenhuma prova contra Bolsonaro e integrantes do governo. No caso das denúncias sobre supostos crimes de corrupção na compra de vacinas, o parlamentar afirma que não "não foi possível comprovar, nem pelos depoimentos e nem pelos documentos recebidos pela CPI, o cometimento de ilícitos e de corrupção na aquisição de vacinas por parte do governo federal".
Marcos Rogério também tentou blindar o Executivo das acusações envolvendo as apostas na imunidade de rebanho, na defesa do chamado "tratamento precoce" com medicamentos ineficazes e do gabinete paralelo. "Considero, contudo, que as ações do Ministério da Saúde, assim como dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, foram feitas no afã de enfrentar a pandemia e salvar o maior número possível de vidas de brasileiros", escreveu o senador.
Em outro trecho, diz que "o inegável sucesso da vacinação no Brasil pode ser visto a observar que, no dia 6 de outubro de 2021, o país alcançou a marca de 60%", ignorando a demora do governo federal para comprar imunizantes e as falhas de distribuição em várias cidades.
O senador, aliado de Bolsonaro, propõe rejeitar o relatório de Renan, encaminhar informações a órgãos de controle para a investigação de Estados e municípios e enviar sugestões ao governo federal para incrementar as medidas de combate à pandemia, sem apontar crimes. Marcos Rogério colocou na capa do parecer uma imagem da bandeira nacional com a frase "vai vendo, Brasil", expressão usada por ele em vários momentos na CPI.
"Como visto, ao longo da CPI, restou claro que se pretendia confirmar uma narrativa política que busca atribuir ao Presidente da República a total responsabilidade desse grave problema de saúde pública, sem, em nenhum momento, considerar a atuação dos Governadores de Estado e do Distrito Federal e dos Prefeitos, no enfrentamento da pandemia", diz o parecer paralelo de Rogério.
O senador Eduardo Girão também preparou um relatório paralelo, que ainda não foi protocolado. Ao Estadão/Broadcast Político, ele antecipou que vai se concentrar em denúncias envolvendo o Consórcio do Nordeste e suspeitas de desvios de recursos públicos em Estados e municípios. O parlamentar avalia pedir o indiciamento de autoridades ligadas a esses casos, como o secretário-geral do Consórcio, Carlos Gabas, alvo de uma CPI na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Norte.
Girão aponta "ações equivocadas" do presidente Jair Bolsonaro, como causar aglomeração, desincentivar o uso de máscara e declarações contra a eficácia da vacina. Para o senador, porém, não houve caracterização de crimes nesses atos pelo chefe do Planalto. "O relatório que estou trabalhando é para fazer justiça de forma imparcial e independente. Acho que vou ter um voto só, acho que vai ser só o meu", disse o senador ao Broadcast Político.
Girão foi autor de um requerimento que incluiu no escopo da CPI a investigação das transferências de recursos federais a Estados e municípios em função da pandemia de covid-19. Para ele, no entanto, a CPI "fugiu" dessa parte por ligações com governadores do Norte e do Nordeste. "A CPI perdeu a mão usando o ódio como instrumento de vingança pessoal com propósitos politiqueiros", disse.
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