O ex-diretor superintendente da Odebrecht Ambiental/Saneatins no Tocantins, Mário Amaro da Silveira, reclamou da senadora Kátia Abreu (PMDB-TO), que recebeu R$ 500 mil de contribuição para a campanha eleitoral. A peemedebista foi mencionada na lista do ministro do Supremo Tribunal Federal, Edson Fachin, e citada nos depoimentos dos ex-executivos da empresa.
Na audiência para o Ministério Público Federal, após acordo de delação premiada, Amaro reclamou que, mesmo com as doações eleitorais, Kátia não ajudou a empresa no Estado. "A senadora foi eleita, mas nunca fez nada por nós no Tocantins", disse aos investigadores.
Amaro declarou que, em setembro de 2014, foi procurado por José Carvalho, que trabalha no escritório da Oderbretch em Brasília, dizendo que Katia iria procurá-lo para pedir doações. Ao saber que poderia ser contatado, procurou Fernando Reis, presidente da Odebrecht Ambiental/Saneatins (Companhia de Água e Saneamento Básico do Estado). Na conversa, Reis autorizou uma doação de R$ 500 mil.
Alguns dias depois, Amaro foi procurado por Moisés Pinto Gomes, marido da senadora, em um hotel em Palmas, capital do Estado. Gomes fez um pedido de contribuição por causa da atuação da senadora a favor da empresa durante um conflito com a prefeitura de Palmas.
Segundo Amaro, Tocantins é o único Estado em que a companhia de saneamento é uma empresa privada. Interessados em investir na área, a Odebretch deu início à compra da Saneatins em 2011.
O negócio custou cerca de R$ 400 milhões aos cofres da empresa. O plano era investir outros R$ 700 milhões, mas, de acordo com o depoimento de Fernando Reis, uma série de fatos prejudicou os negócios, como a criação de uma CPI na Assembleia Legislativa para investigar a atuação da Odebrecht Ambiental/Saneatins.
A empresa suspendeu os investimentos temporariamente. Após a atuação de Kátia Abreu, além do então governador Siqueira Campos (PSDB) e do senador Vicentinho (PR/TO), a Odebrecht chegou a um acordo com a prefeitura de Palmas e o caso foi resolvido.
Após ser autorizado a fazer a doação, Amaro marcou uma reunião com Moisés em um hotel em São Paulo. Ao ser informado do valor oferecido, o marido de Katia Abreu reclamou: "É muito pouco", disse. Além disso, também não gostou do modo que a doação seria feita, através de caixa dois. "Ele ficou desconfortável", disse Amaro no depoimento.
Moisés sugeriu que a doação fosse via Braskem, braço petroquímico da Odebrecht. Mas, para ser dessa maneira, Amaro alegou que era 'outro contato, outra conversa'. Após o impasse inicial, em que Amaro disse que não poderia fazer uma 'doação oficial', Moisés aceitou as condições.
Uma nova reunião foi marcada para alguns dias depois. Nesse encontro, foram entregues os dados para a retirada do dinheiro. Segundo Amaro, o pagamento foi feito em duas parcelas de R$ 250 mil, na primeira semana e na segunda de outubro.
Por causa dessas doações, Katia Abreu é acusada de falsidade ideológica eleitoral.
COM A PALAVRA, KATIA ABREU
Em nota, a senadora Katia Abreu nega que as doações tenham sido feitas de forma ilegal. Disse que, apesar de ainda não saber o conteúdo da decisão do ministro Edson Fachin, relator da Lava Jato no Supremo Tribunal Federal, nunca participou de corrupção e nunca aceitou participar de qualquer movimento de 'grupos fora da lei'. "Estarei à disposição para prestar todos os esclarecimentos necessários de maneira a eliminar qualquer dúvida sobre a nossa conduta", declarou.
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