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Desembargador deu liminar sem ler para favorecer procurador fazendeiro em ação de R$ 5 mi, afirma PF

Alvo da Operação Ultima Ratio, que põe sob investigação cinco desembargadores do Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul por suspeita de venda de sentenças, procurador do Ministério Público Estadual Marcos Sottoriva se valeu de decisão redigida e assinada por um assessor do desembargador Marcos Brito para fazer acordo e esticar parcelas na compra de uma fazenda; ‘Obrigado de coração’; Estadão pediu manifestação do procurador

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Atualização:
Operação Última Ratio mira suposta venda de sentenças no TJ-MS Foto: Polícia Federal

A Operação Ultima Ratio, da Polícia Federal, indica que o procurador de Justiça Marcos Antônio Martins Sottoriva - do Ministério Público de Mato Grosso do Sul -, que também é fazendeiro, se valeu de suposto esquema de tráfico de influência no Tribunal de Justiça estadual para obter uma liminar favorável a seus interesses na compra de uma fazenda de R$ 5 milhões.

O Estadão pediu manifestação do procurador. O espaço está aberto.

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A decisão foi assinada pelo desembargador Marcos José Brito Rodrigues, mas a PF suspeita que ele sequer se deu ao trabalho de ler os autos, nem mesmo de fazer o despacho. O magistrado teria encarregado um assessor de redigir o texto da liminar e, ainda, assinar o documento por ele.

O procurador estava incomodado com o que chamou de ‘parcelas onerosas’ do negócio. Alegava ‘extraordinária valorização da arroba do boi, motivada pelo fato de a China enfrentar grave surto de peste suína africana’.

Após a concessão da liminar, Sorrotiva escreveu para o magistrado. “Graças a Deus e ao seu trabalho... acabamos por fechar um acordo ... consegui alongar a dívida em mais uma parcela.”

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A Operação Ultima Ratio foi deflagrada nesta quinta, 24, por ordem do ministro Francisco Falcão, do Superior Tribunal de Justiça. Cinco desembargadores foram afastados de suas funções por 180 dias e vão usar tornozeleira eletrônica.

Além de Marcos Brito, estão sob suspeita seus colegas de Corte Vladimir Abreu da Silva, Alexandre Aguiar Bastos, Sideni Soncini Pimentel e Sérgio Fernandes Martins, o presidente do TJ. Um sexto desembargador, Júlio Roberto Siqueira Cardoso, que se aposentou em junho, também é investigado - em sua casa, a PF apreendeu R$ 3 milhões em dinheiro vivo.

O procurador Sottoriva, beneficiado em razão de seu cargo, segundo a PF, foi alvo de buscas. Os investigadores avaliam que o episódio, ocorrido em 2020, representa uma ‘decisão judicial em favorecimento indevido em razão do cargo de uma das partes’. Eles consideram que o procurador foi beneficiado por ‘subterfúgio criado pelo juízo para obter vantagem em uma questão negocial em clara violação aos princípios da imparcialidade e da equidistância da jurisdição’.

As suspeitas que recaem sobre o procurador e o desembargador partem de mensagens recuperadas pela PF e que ‘demonstram fatos bastante graves’.

Em diálogo recuperado pelos agentes, Sottoriva envia ao magistrado o número de um recurso ajuizado por ele contra uma decisão de primeiro grau que negou seu pedido no caso da fazenda.

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O procurador pedia a suspensão das parcelas da compra, sua manutenção na posse da área até a devolução dos valores que já havia repassado e a devolução de três imóveis que entregou como parte do pagamento. No mesmo pedido, Sottoriva incluiu a suspensão de aluguéis referentes a um imóvel que ele entregou como pagamento, mas seguia usando.

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No processo, para contrapor a versão de Sottoriva sobre a ‘extraordinária valorização da arroba do boi’, a outra parte sustentava que ele não apenas é procurador, mas também um pecuarista. “Tem pleno conhecimento dos termos do contrato e do mercado do boi gordo, não podendo suscitar ignorância ou desconhecimento do negócio que celebrou, sendo que o contrato foi redigido pelo filho dele, que é advogado.”

Segundo a Polícia Federal, sem ter acessado os autos, o desembargador Marcos Brito pediu a seu assessor que providenciasse a elaboração de uma liminar, nos termos que atendesse o procurador. Orientou o assessor a assinar sua decisão.

Os investigadores estão convencidos de que o magistrado ‘não elaborou a decisão, não a conferiu e nem assinou’. Desta forma, a decisão judicial seria nula, vez que a atuação do desembargador se limitou a ‘uma ordem a seu assessor que favorece indevidamente um procurador de justiça’.

O inquérito diz que a ‘fundamentação para a concessão da liminar é genérica, sem base concreta, limitando-se a citar textos de dispositivos legais’.

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A investigação aponta que, menos de um mês depois da concessão da liminar, Sottoriva enviou mensagem a Marcos Brito informando sobre o acordo selado com a outra parte. E fez um agradecimento reverencioso ao desembargador. “Obrigado de coração. Boa Páscoa na bênção de Deus e de seu filho Jesus Cristo.”

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