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Dia Mundial do Parkinson e a importância de um olhar individualizado para a doença

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Por Marcos Alexandre Carvalho Alves
Marcos Alexandre Carvalho Alves. Foto: Arquivo pessoal

Em 11 de abril de 2023, comemoramos 206 anos da publicação da monografia famosa e influente do Dr. James Parkinson: "Um ensaio sobre a paralisia agitante" ( An Essay on the Shaking Palsy). Foram 66 páginas em cinco capítulos que mudaram a história da neurologia. Mas, por que a atenção do Dr. James Parkinson dada a esses pacientes, sendo ele um cirurgião geral, com uma vida social e política agitada, ainda não é perfeitamente clara? O Dr. Parkinson era um cirurgião geral em Londres, membro do colégio real de cirurgiões e curiosamente conhecido por seus conhecimentos em geologia, paleontologia, sociologia e considerado um reformador social. Ironicamente, esse gênio também era um ativista político radical e escrevia panfletos políticos com o pseudônimo "Old Hubert" .

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No entanto, os seis casos que ele descreveu em detalhes estavam cheios de observações corretas e deduções astuciosas. Era um gênio. Dos seis casos supramencionados, dois deles foram identificados nas ruas de Londres. Sua mente analítica era capaz de reconhecer características comuns a todos os seis pacientes que o inspiraram a considerar que isso deveria corresponder a uma doença, que posteriormente foi definida por Charcot como "la maladie de Parkinson", que posteriormente foi traduzida erroneamente como mal de Parkinson. Assim, o Dr. Parkinson escreveu: "os casos parecem pertencer à mesma doença, talvez apenas no tempo em que a doença está e no estágio em que ela se encontra". Há 206 anos, James Parkinson já havia observado, com apenas seis casos, que a doença tinha estágios e que o quadro clínico mudava com o tempo. Brilhante.

Desde a descoberta do Parkinson, a Medicina em geral e a Neurologia sofreram grandes mudanças e, como o resto da sociedade, estão totalmente imersas em uma revolução tecnológica, que está modificando drasticamente a arte do exercício médico. Neste contexto, a percepção clínica do Dr. Parkinson é de suma importância e uma lição que vale a pena enfatizar e tomar como exemplo, particularmente pelos mais jovens. As observações originais do Dr. James Parkinson permanecem válidas até hoje e suas preocupações e deduções quanto à etiologia e à terapia curativa persistem sem solução, embora eu acredite que em breve estaremos usando uma medicação anti alfa sinucleína ou um novo tratamento neurocirúrgico.

Contudo, uma grande quantidade de informações foi recolhida, particularmente desde a segunda metade do século XX, que modificou substancialmente a visão original de Parkinson. Notável o crescimento de publicações periódicas, reuniões, associações de pacientes e fundações, etc., em um esforço para produzir um avanço radical na compreensão e no tratamento da doença de Parkinson. Importante pesquisar sobre a história da construção do que é atualmente chamado de Doença de Parkinson. Apesar de incompleta, a pequena monografia sobre a "Paralisia agitante", escrita por James Parkinson em 1817, continua sendo um documento importante.

 Foto: Reprodução

A Doenc?a de Parkinson (DP) e? uma das doenc?as neurolo?gicas mais comuns e intrigantes dos dias de hoje. Tem distribuic?a?o universal e atinge todos os grupos e?tnicos e classes sócio-econo?micas. Estima-se uma prevale?ncia de 100 a 200 casos por 100.000 habitantes. Sua incide?ncia e prevale?ncia aumentam com a idade. Estudos epidemiológicos confirmam que, com o avançar da idade, há um aumento da prevalência da doença, aumentando progressivamente em até dez vezes por volta dos 50 a 80 anos. Dados nacionais estimam que a expectativa de vida no Brasil, em 2030, será de 78,6 anos e, em 2060, de 81,2 anos. O que significa dizer que teremos um maior número de idosos e, portanto, de casos de Parkinson.

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Não existem estatísticas oficiais brasileiras, mas estudos internacionais estimam que o número de pacientes com Doença de Parkinson no Brasil dobrará até 2030. Dados publicados por meio de pesquisa realizada em uma cidade brasileira, estimou que o número de pessoas com Doença de Parkinson representaria cerca de 3% da população com 60 anos ou mais. Levando em consideração que a população brasileira nessa faixa etária seria de 21 milhões de pessoas, chegamos a um número provável de 630 mil brasileiros com Parkinson. Esses números são alarmantes. Estamos vivendo a pandemia da doença de Parkinson. Estima-se que em 2040 serão 12 milhões de pessoas no mundo portadoras de Doença de Parkinson e que 4% desses pacientes estarão no Brasil.

Do ponto de vista patolo?gico, a DP e? uma doenc?a degenerativa cujas alterac?o?es motoras decorrem principalmente da morte de neuro?nios dopamine?rgicos da substância negra . Suas principais manifestac?o?es motoras incluem tremor de repouso, bradicinesia, rigidez com roda dentada e anormalidades posturais. No entanto, as alterac?o?es na?o sa?o restritas a? substa?ncia nigra e podem estar presentes em outros nu?cleos do tronco cerebral (por exemplo, nu?cleo motor dorsal do vago), no co?rtex cerebral e mesmo em neuro?nios perife?ricos, como os do plexo mioente?rico . Seria como uma conexão entre o intestino e o cérebro através do nervo vago, que foi descrita em 2003 como Teoria de Braak ou Teoria intestinal da doença de Parkinson de Braak.

Portanto, a presenc?a desse processo degenerativo ale?m do sistema nigroestriatal pode explicar uma se?rie de sintomas e sinais na?o motores, tais como alterac?o?es do olfato, distu?rbios do sono, hipotensa?o postural, constipac?a?o, mudanc?as emocionais, depressa?o, ansiedade, sintomas psico?ticos, prejui?zos cognitivos, deme?ncia, entre outros. Na verdade, estamos diante de uma síndrome com muitos sintomas, influência ambiental , genética e totalmente distinta clinicamente em cada paciente. Isso, associado ao envelhecimento da população, será uma explicação para o aumento dramático da prevalência da Doença de Parkinson nas próximas décadas.

* Marcos Alexandre Carvalho Alves, graduado em Medicina pela Universidade Federal de Alagoas (UFAL), com especialização em Neurologia. Atua como neurologista no Instituto de Neurologia de Goiânia, do grupo Kora Saúde, e é referência no tratamento da doença de Parkinson

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