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Opinião | É preciso ganhar escala

Enquanto Brasília vive uma fantasia, o restante do Brasil assiste à eliminação da biodiversidade, ao desaparecimento da água doce, à destruição da cobertura vegetal que se escasseia rapidamente, enquanto o negacionismo se mantém na falácia de que sobram verde, água e demais recursos naturais para o país da prodigalidade

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Por José Renato Nalini

O mundo caminha rapidamente para o caos e não leva a sério os recados da natureza. De igual forma, ignorou as advertências dos cientistas. Celebram-se acordos e eles não são cumpridos. Realizam-se encontros e eles são manipulados, a favor da continuidade do ecosuicídio provocado pela incessante e crescente emissão de gases venenosos, os causadores eo efeito estufa.

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Se hoje não se fala mais em “soltar a boiada”, a retomada de política estatal verde é insuficiente para retornar à fase do “Brasil promissora potência ecológica”.

Anunciou-se o lançamento de uma plataforma que promete mapear e listar projetos de economia verde alinhados a planos do governo federal para o tema. O objetivo é reunir investidores e financiadores dos setores público e privado e instituições financeiras globais. A plataforma se chama BIP e contará com projetos validados pelo BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, validados com um selo de certificação. Isso garante alinhamento ao Plano de Transformação Ecológica do Brasil.

Seria interessante que o governo brasileiro aproveitasse a presidência do G20 e a próxima COP30, para mostrar que existe vontade política no sentido de coibir o desmatamento, adotar atitudes consistentes quanto à descarbonização, enfrentar o saneamento básico e brecar a infame produção de resíduos sólidos contaminantes do solo, da atmosfera e da água.

Não bastam o anúncio e a proclamação oficial. É preciso encarar com seriedade a gravíssima situação em que o extermínio da floresta lançou o Brasil. O detentor da maior quantidade de água doce vê chegar uma escassez hídrica mais do que preocupante. Verdadeiramente aflitiva. O país que detinha a maior floresta tropical do planeta oferece ao mundo o espetáculo dantesco de incêndio em todos os biomas e a notícia surreal: o Pantanal, a área mais úmida do globo, tende a desaparecer.

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O Brasil tarda ao regulamentar o mercado de créditos de carbono, que atrairia investimento internacional capaz de fazer a diferença diante da insuficiência de recursos públicos. Isso é muito mais interessante do que discutir emendas Pix, orçamento secreto, Fundões Eleitoral e Partidário e outros gastos inconsequentes e incompatíveis com uma República a ostentar legiões de famintos, o aumento dos miseráveis e dos moradores de rua.

Poucas e isoladas iniciativas, como a produção de novo biocombustível pela Be8, em Passo Fundo, no RS, merecem ganhar escala. É inconcebível que uma frota flex continue a ser abastecida por gasolina e diesel, quando o Brasil tem o sucesso do etanol, que deveria ser utilizado em todas as frotas e obrigatoriamente.

A República não presta atenção nos macroproblemas, como a piora dos índices vinculados à higidez da Terra, com o atraso nas medidas de contenção na emissão do veneno gerador do efeito-estufa, a lentidão na descarbonização, a perseverança na destruição do verde, a poluição que mata silenciosamente. O aquecimento global causa milhões de mortes que nem sempre indicam a verdadeira causa do falecimento desses humanos vitimados pela insensatez da sociedade, imersa em sua rotina e em busca da sobrevivência.

Mas também há microproblemas, aqueles que afligem apenas a nação tupiniquim. Não se deve celebrar o controle da inflação, quando variáveis econômicas apontam para um futuro incerto, como advertiu o Presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto.

Enquanto Brasília vive uma fantasia, o restante do Brasil assiste à eliminação da biodiversidade, ao desaparecimento da água doce, à destruição da cobertura vegetal que se escasseia rapidamente, enquanto o negacionismo se mantém na falácia de que sobram verde, água e demais recursos naturais para o país da prodigalidade.

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Existem patriotas que perpetram anônimos heroísmos. Porém é preciso escala e participação da sociedade civil, para exigir que o governo federal, aquele que recebe a maior parte dos tributos e que tudo indica, os dilapida sem piedade, assuma a responsabilidade pelo futuro da nação. Por enquanto, um cenário tétrico e apocalíptico, já experimentado em algumas partes deste imenso país continental, mas que atingirá, com certeza, outros espaços. Inclusive aquele em que nos encontramos.

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José Renato Nalini
Reitor da Uniregistral, docente da pós-graduação da Uninove e secretário executivo das Mudanças Climáticas de São Paulo. Foto: Felipe Rau/Estadão
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