Com o avanço das investigações da Operação Ptolomeu, que mira desvios em contratos públicos do Governo do Acre, a Polícia Federal (PF) mapeou ao menos doze contratações suspeitas na fase mais recente do inquérito.
Os contratos somam mais de R$ 68 milhões e envolvem as Secretarias de Saúde, Educação, Justiça e Segurança Pública, Infraestrutura e Meio Ambiente, além do Departamento de Estradas e Rodagens e a Polícia Militar.
Elas acenderam o alerta dos investigadores e revelaram um modus operandi de atuação: o direcionamento de contratos para empresas de fachada que repassariam o dinheiro a CNPJs ligados a parentes do governador Gladson Cameli (PP). O político é apontado como principal beneficiário do esquema.
Relatórios da Controlaria-Geral da União (CGU) lançam suspeitas de que os contratos foram superfaturados e as empresas contratadas não prestaram os serviços pelos quais receberam.
O primeiro contrato classificado como suspeito pela PF foi fechado entre a Secretaria de Infraestrutura e Desenvolvimento Urbano do Estado do Acre (Seinfra) e a empresa Murano Construções, em maio de 2019, no primeiro mandato do governador, para manutenção de prédios públicos.
A PF afirma que, um dia após a assinatura do contrato, a Murano fechou uma parceria com a Rio Negro, administrada por Gledson Cameli, irmão do governador, que teria recebido quase R$ 2 milhões. Para os investigadores, está claro que houve um acerto para a contratação indireta da empresa do irmão do governador e uma tentativa de ocultar sua participação para não chamar atenção de órgãos de investigação e controle.
Os policiais federais também encontraram elos entre a Murano e a Rio Negro com uma terceira empresa, a Aquiri Engenharia, descrita em um dos relatórios de investigação como 'umbilicalmente ligada' ao clã Cameli. Quando a primeira fase da Operação Ptolomeu foi aberta, carros de luxo registrados em nome da Aquiri estavam na casa de Eládio Cameli, pai do governador, e de Gledson Cameli.
Outra empresa na mira da PF é a Seven Construções e Empreendimentos. Ela foi contratada pela primeira vez, em 2021, para reformar a recepção e a sala de espera de uma Unidade de Atenção Especializada em Saúde (UAES) por R$ 618 mil. Segundo a investigação, a empresa foi ' instrumentalizada em benefício da família Cameli' e servia como 'conta de passagem' para lavar o dinheiro desviado a partir dos contratos públicos e repassá-los ao governador.
Um relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) apontou transações suspeitas e um fluxo financeiro atípico envolvendo a Rio Negro, a Seven, a Murano e a Aquiri. As duas últimas fecharam pelo menos 12 contratos com o governo.
Uma conversa encontrada no celular do sócio da Murano, Gabriel Larcher, afirma que o 'governador chegou até nós'. "Foi comercial... Divulgaram nossa ata", escreve o empresário. Em outro diálogo com a mulher, ele reclama da situação financeira e diz que 'só precisa ganhar uma licitação'. "Vamos economizar. Não vamos comprar o apartamento agora", responde a esposa.
COM A PALAVRA, O GOVERNADOR DO ACRE
Quando a terceira fase da Operação Ptolomeu foi deflagrada na quinta-feira, 9, o governador do Acre, Gladson Cameli, divulgou nota em que afirmou:
"Essa é mais uma etapa da operação de mesmo nome. Com o andamento do processo, o governador confia que tudo será apurado e esclarecido;
Mais uma vez, o governador se coloca à disposição das autoridades, colaborando com mais essa etapa das investigações;
O governador reafirma o seu apoio e confiança na Justiça, para que a verdade sempre prevaleça."
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