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Opinião | Enganaram a imperatriz

Afeiçoada às ciências naturais, fizeram-na crer que Pedro, o pretendente, era também muito aplicado àqueles estudos. Antes de partir de Viena, ocupou-se em reorganizar sua coleção mineralógica e escrever um catálogo francês, ‘uma vez que meu futuro esposo também é mineralogista, assim minha alegria é duas vezes maior’

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Por José Renato Nalini
Atualização:

A Imperatriz Leopoldina é personagem da História brasileira que mereceria mais destaque e mais reverência. Ela se casou com Pedro I sem nunca vê-lo. Foi um daqueles casamentos de conveniência, pois seu pai, o Imperador Francisco I, enxergava as vantagens de casar a filha Leopoldina com um Bragança, assim como casara a filha Maria Luísa com Napoleão.

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O príncipe herdeiro do trono português nascera em 12 de outubro de 1798, um ano e oito meses depois da futura mulher. A educação de ambos fora muito diferente. Leopoldina merecera toda a atenção por parte do pai, da mãe e da madrasta e tivera uma preceptora muito zelosa. O príncipe fora entregue à criadagem e morava no Palácio de Queluz, com a avó a Rainha Louca, Maria I. Sua educação fora interrompida com a viagem da família real para o Brasil, em fuga diante da invasão daquele que seria seu cunhado.

Pedro era indisciplinado. Embora tivesse aulas todos os dias, se alguma coisa diversa lhe interessasse, dispensava os mestres. Ainda assim, aprendeu artes manuais, chegou a ser bom marceneiro e escultor. Construiu um modelo de navio de guerra e uma completa mesa de bilhar. Também aprendeu música, poesia e desenho.

Leopoldina foi cercada de carinho e agrados por parte dos emissários de Dom João VI que entabularam o casamento. Em carta à sua irmã Maria Luísa, vê-se que sonhava com ansiedade pelo Brasil. Parecia acreditar na versão do “bom selvagem” de Jean-Jacques Rousseau, conforme o “Contrato Social” de 1755. Dizia que “o Brasil é um país magnífico e ameno”. Depois, em carta para a família, diria que o país seria o paraíso, não fora o calor infernal e os mosquitos”. Ela acreditava que em breve retornaria à Europa. Também lhe fizeram crer que a Corte portuguesa no Brasil lembraria Paris, confessando em correspondência, estar certa “de que a nobreza será linda e agradável; graças a Deus, a nobreza e os costumes da corte portuguesa são como em Paris”.

Afeiçoada às ciências naturais, fizeram-na crer que Pedro, o pretendente, era também muito aplicado àqueles estudos. Antes de partir de Viena, ocupou-se em reorganizar sua coleção mineralógica e escrever um catálogo francês, “uma vez que meu futuro esposo também é mineralogista, assim minha alegria é duas vezes maior”.

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O Marquês de Marialva, encarregado de contratar o casamento, prometeu à Arquiduquesa, esse o título de Leopoldina em Casa de Áustria, um retrato do príncipe D. Pedro. A miniatura foi apresentada a Leopoldina e, num relato de 8 de abril de 1817, Marialva descreve: “Por extremo agradou à Sereníssima Senhora Arquiduquesa a fisionomia de S.A. o Príncipe Real, dizendo-me a mesma senhora que muito coincidiam as feições que observava naquele retrato com a ideia que ela formava das virtudes morais possuídas pelo augusto original dele. Sem dúvida foi grande a impressão que fez no ânimo de S.A.I. a magnificência da cercadura que guarnecia o retrato”. Pois a minúscula pintura era emoldurada com brilhantes e acompanhada de um colar. Foi a mais valiosa joia da futura Imperatriz e custou cerca de sessenta e oito contos de réis.

Para impressionar a Corte austríaca, Marialva ofereceu uma festa em sua residência, a Embaixada em Viena, a pretexto de celebrar a ascensão de João IV ao trono português, mais de um ano após a morte de Maria I. Leopoldina conta a respeito da recepção: “foi esplêndida: nunca vira antes pompa e elegância como aquelas, pois tudo brilhava de ouro, prata e só se viam, graças a Deus, rostos alegres; para o meu maior constrangimento, ele (Marialva) danou comigo a primeira polonaise e isso só nós, pois nenhum outro casal nos seguiu; a embaixatriz espanhola fez as honras de anfitriã (...) depois de ter atravessado todo o salão e de as damas quase terem me arrancado o retrato do príncipe, fiquei com ela e falamos um pouco em português, para me informar direito sobre minhas cunhadas, pois as outras damas não precisavam saber dos detalhes; aliás, te asseguro que me senti muito melhor entre os portugueses do que em meio à nobreza vienense”.

O casamento realizou-se por procuração. A noiva usava um vestido terrivelmente pesado, assim como o adorno na cabeça. O retrato do esposo, rodeado de diamantes, levava ao peito. Escolheu-se a Igreja dos Agostinianos, a paróquia da Corte e o arquiduque Carlos, tio da jovem arquiduquesa, representou o noivo. Houve recepção, beija-mão e, dias depois, um grande baile. Marialva escolheu por cenário o Real Jardim de Augarten. Foi necessária uma reforma de dois meses. Construiu-se um templo com um pórtico sustentado por seis colunas. Estátuas gigantescas, tudo iluminado por dezenas de milhares de velas, todas colocadas em cúpulas de vidro. Era o esplendor, que ela esperava também encontrar no Brasil. Todos sabemos o que aconteceu depois.

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José Renato Nalini
Reitor da Uniregistral, docente da pós-graduação da Uninove e secretário executivo das Mudanças Climáticas de São Paulo. Foto: Daniela Ramiro/Estadão
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