De acordo com a Polícia Federal, o ex-presidente Jair Bolsonaro e seus principais assessores, entre eles o tenente coronel Mauro Cid, teriam usado um mesmo modus operandi para retirar do País pelo menos quatro conjuntos de presentes recebidos pelo ex-chefe do Executivo em viagens internacionais, enquanto líder de Estado.
- Um conjunto da marca Chopard contendo uma caneta, um anel, um par de abotoaduras, um rosário árabe (“masbaha”) – presente recebido pelo então ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, após viagem a Arábia Saudita, em outubro de 2021
- Um kit de joias contendo um anel, abotoaduras, um rosário islâmico (“masbaha”) e um relógio da marca Rolex, de ouro branco – presente entregue ao ex-presidente Jair Bolsonaro quando visitou a Arábia Saudita em outubro de 2019
- Uma escultura de um barco dourado e uma escultura de uma palmeira dourada - entregues ao ex-presidente em 16 de novembro de 2021, quando ele participou do Seminário Empresarial da Câmara de Comércio Árabe-Brasileira, na cidade de Manama, no Barhein
- Um relógio da marca Patek Philippe - possivelmente recebido por Bolsonaro quando de sua visita oficial ao Reino do Bahrein em 16 de novembro de 2021.
Os investigadores colocam Bolsonaro e seus assessores no centro de um esquema de desvio de presentes recebidos pelo ex-presidente, com sua remessa, de forma oculta, para os Estados Unidos, com o avião presencial.
A PF indica que, naquele País, os presentes foram encaminhados para lojas especializadas nos estados da Flórida, Nova Iorque e Pensilvânia, ‘para serem avaliados e submetidos à alienação, por meio de leilões e/ou venda direta’.
Em seguida, o grupo teria ocultado a ‘origem, localização e propriedade dos recursos financeiros decorrentes da alienação dos bens desviados do acervo público brasileiro’.
Segundo os investigadores, após o Estadão revelar o recebimentos de kits de joias por integrantes do governo Bolsonaro, os investigados da Operação Lucas 12:2 estruturaram uma ‘verdadeira operação para resgatar os bens’, que estavam em estabelecimentos comerciais nos Estados Unidos, para retornarem ao Brasil e serem devolvidos ao governo brasileiro, tudo para cumprir uma decisão exarada pelo Tribunal de Contas da União’.
A PF narra que o conjunto da marca Chopard teria sido resgatado da Fortuna Auctions, em Nova Iorque, e encaminhado, por meio de serviço de transporte, para um endereço de Orlando onde Bolsonaro estava hospedado. Depois, o kit foi transportado para o Brasil e entregue, em 24 de março, em uma agência da Caixa em Brasília.
O anel, as abotoaduras, e o rosário islâmico que integravam o segundo kit de joias foram recuperados em Miami, por Mauro Cid. Ele pegou o kit no dia 27 de março de 2023 e, no mesmo dia, voltou ao Brasil. Ao desembarcar em Brasília, o tenente coronel entregou o kit para Osmar Crivelatti, assessor de Bolsonaro.
Já o relógio de ouro branco, que compunha o mesmo kit, foi resgatado da empresa Precision Watches, localizada na Pensilvânia. Ele foi ‘recuperado’ em março, pelo advogado Frederick Wassef, que repassou o objeto a Cid em abril. O ex-ajudante de ordens de Bolsonaro então voltou à Brasília e entregou o relógio a Crivelatti, assessor do ex-chefe do Executivo. O conjunto foi devolvido no dia 4 daquele mês, em uma agência da Caixa.
As esculturas douradas de barco e palmeira passaram por diversas lojas especializadas nos Estados Unidos para avaliação e tentativa de venda, mas as tentativas de repassar os itens acabaram frustradas. Os bens ficaram então sob a guarda de Mauro Cesar Lourena Cid, pai de Mauro Cid.
Já o quarto item, o relógio da marca Patek Philippe Calatrava foi levado para os Estados Unidos e vendido também para a Precision Watches, em junho de 2022. Segundo os investigadores, não há indícios de que tenha sido recuperado.
COM A PALAVRA, A DEFESA DE BOLSONARO
“A defesa do presidente Jair Bolsonaro voluntariamente e sem que houvesse sido instada, peticionou junto ao TCU — ainda em meados de março, p.p. —, requerendo o depósito dos itens naquela Corte, até final decisão sobre seu tratamento, o que de fato foi feito. O Presidente Bolsonaro reitera que jamais apropriou-se ou desviou quaisquer bens públicos, colocando à disposição do Poder Judiciário sua movimentação bancária.”
Paulo Amador da Cunha Bueno, Daniel Bettamio Tesser e Fábio Wajngarten
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