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Tocaias, grampo ilegal e chantagem: ex-chefe da Polícia Civil do DF vira réu por perseguir a ex

Preso preventivamente na Operação Vigia, o delegado Robson Cândido vai responder por seis crimes, entre eles stalking e violência psicológica

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Foto do author Rayssa Motta
Foto do author Fausto Macedo
Atualização:

O ex-diretor da Polícia Civil do Distrito Federal, o delegado Robson Cândido, virou réu nesta sexta-feira, 17, por suspeita de perseguir a ex. Ele vai responder pelos crimes de stalking, violência psicológica e outros quatro delitos relacionados ao uso indevido do cargo para conseguir informações sobre a ex.

Cândido foi preso preventivamente no dia 4 de novembro na Operação Vigia. A preventiva foi mantida pelo juiz Frederico Ernesto Cardoso Maciel, do Juizado de Violência Doméstica e Familiar Contra a Mulher de Águas Claras, que recebeu a denúncia. Ele deu dez dias para as defesas enviarem seus argumentos.

Veja todos os crimes imputados ao ex-diretor da Polícia Civil do DF:

  • Stalking;
  • Violência psicológica;
  • Interceptação telemática sem autorização judicial e com objetivos não autorizados em lei;
  • Corrupção passiva privilegiada;
  • Peculato;
  • Violação de sigilo funcional qualificado.

Além do ex-diretor da Polícia Civil, o delegado Thiago Peralva Barbirato França, da 19.ª Delegacia de Polícia, em Ceilância, também foi denunciado. Ele é acusado de ter ajudado o chefe a grampear clandestinamente o celular da ex para ter acesso a ligações, mensagens e localização em tempo real.

Robson Cândido está preso preventivamente. Foto: Reprodução/processo judicial

‘Predador’

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A denúncia foi oferecida pelo Ministério Público do Distrito Federal na terça-feira. Os promotores de Justiça do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) afirmam que Roberto Cândido não aceitava o fim do relacionamento e ameaçou, constrangeu, humilhou e chantageou a ex para tentar retomar a relação.

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O relacionamento durou de janeiro de 2022 a agosto de 2023. Segundo o Ministério Público, era marcado por episódios de controle e manipulação e comportamentos “possessivos e ciumentos”.

“Robson agiu como um predador da mulher que não mais pretendia manter com ele qualquer relação ou contato. Mesmo contra a expressa vontade da vítima, ele insistiu, de forma continuada, em se fazer presente, ameaçando-lhe a integridade psicológica, restringindo-lhe a capacidade de locomoção e invadindo sua esfera de liberdade”, afirma o Ministério Público.

A mulher narrou que, desde o início do relacionamento, o delegado lia suas mensagens no WhatsApp e chegou a dar de presente um celular novo para ter acesso à localização dela em tempo real.

Ela foi diagnosticada, em laudo psiquiátrico, com quadro de angústia, medo, ansiedade excessiva, insônia, crises de choro e fragilidade.

Denúncia afirma que Robson Cândido chegou a ligar mais de 50 vezes para a ex em um dia. Foto: Reprodução/Processo judicial

Tocaia em casa

Provas reunidas na investigação apontam que Cândido fazia campana no endereço da ex e chegou a invadir, em mais de uma ocasião, o condominio. O delegado pulava o muro e cercava a casa, segundo o inquérito. A denúncia narra que, em uma das vezes, ele esmurrou e quebrou uma janela de vidro. A mulher decidiu se mudar após o episódio.

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“Típica atitude de um perseguidor de tocaia aguardando para se acercar da sua vítima e constrangê-la a conversar, a acompanhá-lo ou realizar qualquer outra interação”, diz a denúncia.

Perseguição no trânsito

A investigação também aponta que o delegado usou o banco de dados do Detran do Distrito Federal para ter acesso à localização do carro da ex e persegui-la no trânsito.

Em dos episódios, gravado pela mulher, Cândido aproveita o semáforo vermelho, desce do próprio carro, caminha em direção ao veículo dela e tenta abrir a porta.

Os investigadores cruzaram as placas e descobriram que, além de viaturas oficiais, ele também usou veículos da frota descaracterizada da Polícia Civil para seguir a ex.

Mensagens e ligações

Após o fim do relacionamento, o ex-diretor da Polícia Civil do DF passou a enviar mensagens no WhatsApp e e-mails e a fazer ligações insistentemente. Ele usava não só o próprio celular, mas números desconhecidos, alguns funcionais da corporação. Em um dia, a mulher chegou a receber mais de 50 ligações de Cândido.

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“A perseguição, mediante o uso de linhas corporativas da PCDF e de números desconhecidos e ocultos, tornou inócuo o bloqueio telefônico efetivado por Jéssica. Além da sensação de impotência, os contatos telefônicos realizados por números variados causaram perturbação, ofenderam sossego e paz e violaram a vontade da vítima de cessar o contato e terminar o relacionamento”, aponta o MP.

Chantagem e ‘extorsão sentimental’

A mulher é funcionária do setor de Recursos Humanos do Metrô do DF. O cargo é comissionado e, segundo o Ministério Público, o delegado teria influenciado para conseguir a indicação, mas após o fim do relacionamento teria passado a ameaçar pedir a exoneração da ex se eles não reatassem. A dispensa chegou a ser publicada no Diário Oficial, mas foi revogada na sequência.

Em mensagem obtida pelos investigadores, o delegado escreve: “Se você me deixar, tiro seu emprego e você vai ter que se prostituir.” O MP classifica a conduta como “extorsão sentimental”.

Cândido também chegou a persegui-la no trabalho, segundo a denúncia. Um funcionário acionou a segurança da empresa e o caso foi registrado internamente pela gerência de segurança operacional. O boletim afirma que o delegado “esbravejava” e “chegou a levantar a blusa”, o que para os promotores foi uma tentativa de ameaçar a mulher, mostrando a arma na cintura.

Boletim de ocorrência registrado pela gerência de segurança operacional do Metrô após Cândido perseguir ex no trabalho. Foto: Reprodução/Processo judicial

COM A PALAVRA, ROBERTO CÂNDIDO

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Procurada pela reportagem, a defesa informou que, por ora, não vai comentar o caso.

COM A PALAVRA, THIAGO FRANÇA

A reportagem busca contato com a defesa do delegado. O espaço está aberto para manifestação (rayssa.motta@estadao.com, fausto.macedo@estadao.com).

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