Uma família de São Paulo foi condenada a 199 anos de prisão sob acusação de lavar dinheiro de um poderoso esquema do tráfico que usava o aeroporto de Viracopos, em Campinas, no interior do Estado, para enviar cocaína à Europa.
A Procuradoria da República atribui a Roberley Eloy Delgado o comando da ‘rede familiar’ de lavagem da fortuna do tráfico. A mulher dele, suas duas irmãs e seus dois cunhados também foram denunciados e condenados.
Roberley pegou, sozinho, uma pena de 112 anos de prisão. A mulher dele foi condenada a 35 anos. Uma irmã, 31 anos. Outra, sete anos. Os cunhados sete anos cada.
A sentença é da juíza Raquel Coelho Silveira, da 1.ª Vara Federal de Campinas, por organização criminosa e lavagem de dinheiro. “Ao contrário do que alegam as defesas, a denúncia encontra-se formalmente perfeita e com provas suficientes da materialidade dos crimes apurados”, escreveu Raquel.
A estratégia para lavagem de dinheiro consistia, segundo a denúncia, no saque de valores em espécie, operações financeiras ilegais em nome dos familiares, usados como ‘laranjas’, e compra de imóveis e veículos.
A Polícia Federal apreendeu, durante a investigação, em setembro de 2020, R$ 342 mil em dinheiro vivo com Delgado, além de ‘grande quantidade’ de dólares e euros - o valor exato não foi divulgado.
Lavagem
As investigações apontaram que, além da movimentação de dinheiro vivo, uma parcela do lucro circulava pelo sistema bancário por meio das contas das irmãs de Roberley Eloy Delgado, da própria filha dele – menor de idade – e de empresas registradas em nome de laranjas.
Em outra frente, uma empresa de ‘consultoria em gestão empresarial’, em nome de André Avelino, também denunciado como operador do esquema, era usada para simular contratos que justificavam a movimentação do dinheiro.
O Ministério Público Federal afirma ter identificado ainda um terceiro braço da lavagem: a compra de 13 veículos e nove imóveis, todos sem registro. Entre essas propriedades está uma chácara em Monte Mor (SP). A piscina tem a inscrição ‘Família Delgado’ feita com azulejos.
Histórico
Roberley Eloy Delgado foi investigado na Operação Overload, deflagrada em 2020, e apontado como ‘peça-chave’ das remessas de cocaína à Europa via aeroporto de Viracopos. Funcionários do terminal também foram denunciados. A droga era acondicionada em bagagens convencionais, sem o conhecimento dos passageiros.
“Informações internas repassadas aos traficantes permitiam à organização criminosa mapear as rotinas de vistoria de cargas, as trocas de turno das equipes e as brechas de segurança que possibilitariam o trânsito das malas até as aeronaves”, detalha o MPF.
Delgado seria responsável por fazer a ponte com fornecedores e por distribuir o lucro do esquema. Sua primeira condenação no caso foi imposta no ano passado e soma 26 anos e 9 meses de prisão.
COM A PALAVRA, A DEFESA DA FAMÍLIA DELGADO
“O escritório Alex Lúcio Advogados já entrou com recurso e não tem dúvida que a decisão de primeira instância será reformada pelo Tribunal Regional Federal da Terceira Região - tendo em vista que ocorreu ‘bis in idem na sentença’ uma vez que Roberley já foi condenado em outro processo pelos mesmos fatos. Além do mais, a sentença se valeu de premissa inidônea ao aplicar concurso material ao invés de concurso formal próprio, isso gerou essa pena absurda. As provas são frágeis e, após análise do TRF3, meus clientes serão absolvidos.”
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.