RIO DE JANEIRO - Às vésperas de completar cinco anos sem uma solução, o assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes foi classificado pelo ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino (PSB), na manhã destas segunda-feira, 13, como um caso ‘do que o Brasil não deve ser’. Dino afirmou ainda que que políticos e autoridades do Judiciário se dedicaram a ‘matá-la’ novamente nos dias seguintes ao crime.
"O que foram os últimos 10 anos da política brasileira? A hegemonia do ódio. Marielle foi assassinada e no dia seguinte políticos e autoridades, inclusive do Poder Judiciário, se dedicaram a matá-la novamente. E até hoje é como se houvesse um homicídio por dia. Esse caso da Marielle serve de referência para o que o Brasil não pode ser, não deve ser", afirmou Dino em um seminário na sede da Fundação Getúlio Vargas (FGV), no Rio.
O ministro comparou o atual cenário de polarização e disseminação de desinformação e discurso de ódio à ascensão do nazismo na Europa há 100 anos atrás.
"Só é possível entender esse debate compreendendo que vivemos uma quadra histórica, que é a mesma da Europa de 100 anos atrás, em que a manipulação de afetos é constituinte da luta política, sobretudo com uso do ódio", completou o ministro.
Investigações intensificadas
O ministro determinou que a Polícia Federal (PF) apoie o Ministério Público do Rio de Janeiro (MP-RJ) nas investigações dos mandantes do assassinato de Marielle e Anderson. Antes de determinar a abertura de inquérito pela PF, Dino negociou os termos da cooperação federal com o MP do Rio. O governo petista procurou evitar atritos com promotores fluminenses e, ao mesmo tempo, cumprir a promessa de campanha feita por partidos de esquerda de colocar órgãos federais na apuração do caso.
Dino colocou um grupo da PF à disposição do MP do Rio na intenção de dar uma resposta em nível federal às pressões sobre a conclusão da investigação do assassinato da vereadora carioca e não criar uma crise institucional com o órgão estadual.
A decisão foi tomada após encontro entre Dino e o procurador-geral de Justiça fluminense, Luciano Mattos. O inquérito da PF é um caminho alternativo à discussão sobre a federalização do caso. Após os dois se reunirem em Brasília, ficou definido que a PF no Rio vai auxiliar o MP na apuração do mandante do crime, sem que os promotores sejam 'atropelados'.
Avanços
Após sua palestra no evento, Dino disse que as investigações da PF no novo inquérito têm avançado. Segundo o ministro, conforme o “diálogo” com o MP-RJ, já houve o compartilhamento com a PF do que foi investigado até aqui. “Não há duvida que temos hoje linhas de investigação postas. Estamos trabalhando junto com o Ministério Público do Estado do Rio”, disse ele.
O ministro frisou que a atuação da PF se concentra na identificação de “outras pessoas” que participaram do crime, além dos suspeitos de terem cometido, sob encomenda, os assassinatos da parlamentar e de seu motorista. Dino inclui entre as “outras pessoas” quem “mandou matar, quem tramou, quem financiou” o crime.
“Não podemos antecipar as investigações, mas o que posso afirmar é que a PF está trabalhando”, afirmou o ministro. “O trabalho está evoluindo bem. Claro que os resultados teremos nos próximos meses. Não é possível no momento fixar prazos. Há uma equipe dedicada na PF só para isso”, completou.
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