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Opinião | Função da primeira-dama da República

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convidado
Por Ney Lopes*
Janja, Ruth Cardoso, Marly Sarney e Sarah Kubitschek Foto: Wilton Junior/Estadão, Paulo Giandalia/Estadão, Ricardo Chaves/Estadão e Acervo Estadão

Não se nega a importância dos movimentos feministas pela igualdade e isonomia dos sexos.

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O Brasil tem evoluído e precisa evoluir mais para agregar os valores feministas, sobretudo nas áreas de governo e política.

Portanto, não há dúvida sobre a valorização da mulher como princípio inserido na própria democracia.

O tema vem a propósito do protagonismo da atual primeira dama Janja Lula da Silva, sempre presente ao lado do esposo e com gabinete instalado próximo ao do presidente Lula, identificado como Gabinete de Assuntos Estratégicos em Políticas Públicas, segundo a imprensa.

Neste final de semana, alguns episódios ocorridos deram destaque ao estilo da primeira dama.

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O presidente Lula anunciou que não desejava dar conotação política ao 7 de setembro para diferenciar-se de Bolsonaro.

Entretanto, Janja fez o “L” enquanto desfilava, de vestido vermelho (símbolo do PT), em carro aberto ao lado do presidente.

Já na Índia, para onde viajou após o desfile militar, Janja na abertura da atual reunião do G20 foi a única primeira-dama a acompanhar o marido às sessões de negociações do G20, fechadas ao público e à imprensa.

A imprensa registrou que houve certo constrangimento de autoridades indianas, porém resolveram liberar o acesso da esposa do presidente brasileiro na sala fechada de debates.

O presidente da Coreia do Sul, Yoon Suk-yeol, também viajou ao G20 acompanhado da esposa, Kim Keon-hee.

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Ela não participou, porém, das discussões da cúpula.

Ainda sobre a primeira dama brasileira, ao desembarcar na Índia divulgou publicação nas redes sociais (em seguida apagou), imitando uma dança indiana.

Na legenda do vídeo, Janja comemorava a chegada à Índia e afirmava: “Me segura que eu vou sair dançando”.

O fato gerou críticas em razão da situação de calamidade pública no Rio Grande do Sul.

Os registros feitos não têm a intenção de desabonar a pessoa e a conduta da primeira dama, mas apenas comparar historicamente as tradições brasileiras de ex-primeiras damas.

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No Brasil, ser uma primeira-dama nada mais é do que ter uma posição meramente simbólica.

Não há nenhuma competência para esses cônjuges, salvo a prática discreta de ações assistencialistas, em caráter voluntário.

Recentemente, o presidente francês Emanuel Macron tentou oficializar a função da primeira-dama em seu país, mas sofreu críticas e até um abaixo-assinado por parte da população que achou que se tratava de nepotismo.

Na história brasileira, somente a partir de 1915, as primeiras-damas começam a aparecer fazendo caridade.

É naquele ano que Maria Pereira Gomes, mulher do então presidente Venceslau Brás, promove uma festa na Quinta da Boa Vista, no Rio, para arrecadar dinheiro e ajudar às pessoas que estavam sofrendo com a seca no Nordeste.

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A senhora Darcy Vargas, mulher do presidente Getúlio Vargas, definiu o caráter assistencialista das primeiras damas, ao criar a LBA, entidade que abrigou o trabalho voluntário feminino no país.

Seguindo a característica assistencialista das primeiras-damas dona Sarah, esposa do presidente Juscelino Kubitschek, criara em em Minas Gerais - as Pioneiras Sociais, quando o marido era governador.

Como primeira dama ampliou o trabalho da entidade para mais dez Estados.

Além disso, ela inaugurou diversos hospitais, incluindo alguns flutuantes para atender à população ribeirinha no Amazonas.

No governo José Sarney, a sua esposa dona Marly Sarney trabalhava áreas sociais.

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Homenageada no Senado Federal, após o término do período de governo do esposo, o senador Antônio Leite assim se referiu a dona Marly Sarney:

“Longe dos holofotes e das badalações, no silêncio e no recolhimento de sua personalidade, Dona Marly tem a dimensão do sublime, consciente da importância de sua presença, sem palavra, manifestação de desagrado ou exuberância diante do poder”.

A antropóloga e professora Ruth Cardoso, na presidência de seu marido, Fernando Henrique Cardoso, acabou com a Legião Brasileira de Assistência, em 1995 e criou a Comunidade Solidária, organização responsável por programas sociais e de voluntariado.

E também o Alfabetização Solidária, que envolvia estudantes universitários na alfabetização de jovens e adultos pelo Brasil.

A senhora Marisa Letícia, esposa falecida do presidente Lula, optou por manter-se discreta durante o governo do marido.

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Acompanhava o presidente em atividades oficiais.

A advogada e ex-miss Marcela Temer, esposa do ex-presidente Michel Temer, foi embaixadora do Criança Feliz, programa social que o governo de seu marido lançou em 2016.

É um projeto que trabalha com o desenvolvimento das crianças que recebem o Bolsa Família.

Michelle Bolsonaro, esposa do ex-presidente Bolsonaro, trabalhou com programas de ações sociais - principalmente os surdos.

Preservou uma linha de absoluta discrição.

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Estes são exemplos históricos do papel da primeira dama brasileira.

Não se nega que a atual primeira dama, Janja Lula da Silva, é uma mulher de formação intelectual e com notória vocação pública.

Por tal razão, dá sinais do desejo de influir no governo.

Há exemplos no mundo de mulheres esposas de presidentes, que se destacaram e terminaram disputando cargos eletivos.

São os casos de Cristina Kirchner, na Argentina; Hillary Clinton e Michelle Obama, nos Estados Unidos.

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O que se conclui é que a primeira dama tem o direito de exercer atividades, que não sejam apenas assistenciais. Isso porque há realmente espaço e visibilidade para esse tipo de atuação.

O importante, entretanto, é não esquecer o conselho de Bob Marley:

“Ser humilde, pois até o sol com toda sua grandeza se põe e deixa a lua brilhar”.

*Ney Lopes, jornalista, advogado, ex-deputado federal; professor de direito constitucional da UFRN; ex-presidente do Parlamento Latino-Americano, procurador federal

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