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Fux diz que Cid é ‘delator recalcitrante’, mas crítica não abala STF alinhado por Bolsonaro réu

Ministro do Supremo Tribunal Federal foi o único a apresentar contrapontos na primeira etapa do julgamento sobre o recebimento ou não da denúncia do inquérito do golpe que atinge o ex-presidente e outros sete acusados, mas Primeira Turma caminha para instaurar processo criminal

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Foto do author Rayssa Motta

O ministro Luiz Fux foi o único que apresentou ressalvas nesta terça-feira, 25, na primeira etapa do julgamento sobre o recebimento ou rejeição da denúncia que atribui ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e a outros sete denunciados do “núcleo crucial” o plano do golpe. Os contrapontos, no entanto, foram específicos e demonstram o alinhamento da Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) para julgar o caso.

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Os ministros rejeitaram todos os questionamentos processuais apresentados pelas defesas. Os advogados alegaram irregularidades na condução do inquérito para tentar anular o caso antes mesmo da instauração de uma ação penal. A estratégia não prosperou e a Primeira Turma do STF abriu caminho para, na sessão desta quarta, 26, colocar Bolsonaro e seus aliados no banco dos réus.

Até o momento, houve consenso absoluto entre os ministros sobre a regularidade do inquérito do golpe. Esse era um ponto crucial para legitimar a investigação e a atuação do ministro Alexandre de Moraes, relator do caso e alvo preferencial do bolsonarismo.

A Primeira Turma foi unânime ao cravar, por exemplo, que todas as provas do inquérito foram obtidas dentro da legalidade e ao rejeitar os pedidos para afastar Moraes da relatoria do processo. O posicionamento contrapõe a defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro, que alegou que ele foi vítima de “pesca probatória” - investigação genérica que mira um alvo específico e tenta produzir provas contra ele sem uma hipótese criminal previamente delineada.

Ministro do STF apresentou ressalvas no julgamento do recebimento denúncia do golpe. Foto: Antonio Augusto/STF

Os ministros também asseguraram que as defesas receberam todas as provas disponíveis nos autos, ao contrário do que alegam os advogados dos denunciados, que dizem só ter tido acesso a documentos selecionados pela acusação.

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O contraponto mais importante de Fux envolve a delação premiada do tenente-coronel Mauro Cid. Fux votou com a maioria para rejeitar os pedidos do ex-presidente Jair Bolsonaro e do general Braga Netto para anular o acordo de colaboração. Apesar disso, sinalizou que desconfia da versão do tenente-coronel.

Fux afirmou que Mauro Cid é um “colaborador recalcitrante” e que o tenente-coronel omitiu informações. “Vejo com muita reserva nove delações de um mesmo colaborador, cada hora acrescentando uma novidade.”

O ministro teve cuidado para apresentar as ressalvas sem rivalizar abertamente com os colegas. Ele fez questão de esclarecer que as críticas são dirigidas ao delator e não a Alexandre de Moraes, que homologou o acordo de colaboração.

“A abordagem que eu fiz foi em relação à participação do colaborador. Não há nenhuma contaminação da delação por parte do Poder Judiciário. O delator cometeu omissões, tanto que completou em nove delações. O colaborador que não agiu como deveria agir, conforme determina a lei, com boa fé”, disse Fux.

Apesar dos desagravos e afagos a Alexandre de Moraes, que nas palavras de Fux atuou com “exação e competência” no inquérito do golpe, o ministro foi o único que demonstrou alguma disposição para se afastar, ainda que pontualmente, da corrente majoritária.

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Luiz Fux também apresentou a única divergência formal no julgamento. Ele defendeu que o processo deveria ser remetido à primeira instância ou ao plenário do STF e ficou vencido. O ministro afirmou que a posição “não levou em consideração nem capa de processo nem nome de ninguém”.

“Essa matéria não é tão pacífica assim. Essa matéria já foi mudada e remudada e voltou-se à tese originária várias vezes. Peço todas as vênias para manter a minha coerência”, justificou. “Ou estamos julgando pessoas que não exercem mais função pública ou estamos julgando pessoas que têm essa prerrogativa e, o lugar correto, seria o plenário.”

Independente dos contrapontos, a Primeira Turma do STF caminha para acolher a acusação formal apresentada pela Procuradoria-Geral da República (PGR) e tornar réus Bolsonaro e os demais denunciados.