O ex-chefe do Comando de Operações Terrestres do Exército (Coter), general Estevam Theóphilo, admitiu em depoimento à Polícia Federal (PF) no inquérito do golpe que esteve três vezes no Palácio do Alvorada após o segundo turno das eleições de 2022. Os investigadores acreditam que as reuniões tenham sido convocadas pelo então presidente Jair Bolsonaro (PL) no ocaso do seu governo para articular um plano golpista com oficiais das Forças Armadas. A defesa do ex-presidente foi procurada, mas ainda não se manifestou.
O general prestou depoimento ao delegado Fábio Alvarez Shor no dia 23 de fevereiro, mas só agora o ministro Alexandre de Moraes, relator da investigação no Supremo Tribunal Federal (STF), levantou o sigilo das respostas.
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O militar confirmou os encontros na residência oficial, entre novembro e dezembro de 2022, mas negou que tenham conversado sobre a minuta golpista apreendida pela Polícia Federal ou sobre o uso de Garantia da Lei e da Ordem (GLO), estado de defesa, estado de sítio ou intervenção federal para anular o resultado da eleição. Um dos encontros, segundo ele, foi para entregar um “presente institucional” do Exército ao então presidente.
Theóphilo também relatou que outros generais estiveram no Palácio do Alvorada com Bolsonaro, mas não deu nomes. As reuniões, segundo ele, foram intermediadas pelo ex-comandante do Exército Marco Antônio Freire Gomes – que, ao contrário do subordinado, confirmou à PF ter ouvido propostas golpistas do então presidente.
Mensagens obtidas pela PF no curso da investigação colocam o general Estevam Theóphilo no centro das suspeitas de articulações golpistas. Ele foi apontado pela Polícia Federal como o “responsável operacional” por arregimentar as Forças Especiais do Exército, os chamados “Kids Pretos”, para prender o ministro Alexandre de Moraes. Em depoimento, disse não sabia do plano.
Em um dos momentos mais tensos do depoimento, o general foi confrontado com um áudio encontrado no celular do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens da Presidência, que sugere que Bolsonaro ajudou a redigir e editar uma minuta golpista e pretendia conversar com Theóphilo sobre alternativas para se manter no poder.
“O presidente vem sendo pressionado aí, por vários atores, a tomar uma medida mais radical né, mas ele ainda tá naquela linha do que foi discutido, que foi conversado com os comandantes e com o ministro da Defesa. Ele entende as consequências do que pode acontecer”, diz a parte inicial da fala de Cid.
“Hoje ele mexeu naquele decreto, né? Ele reduziu bastante, fez algo muito mais direto, o objetivo e curto, e limitado, né? E acho que a ideia de falar com General Theóphilo é conversar como ele. Ele tá muito preso no Alvorada, então, é uma maneira de ele desabafar e falar um pouco o que ele tá pensando e ouvir”, segue o áudio.
Ao ser questionado sobre a mensagem, o general ficou em silêncio. Ele justificou que preferia não comentar a mensagem “por não ter o contexto das conversas”.
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