Áudios encontrados no celular do general de brigada Mário Fernandes, ex-secretário executivo da Presidência da República, mostram que os militares que tramavam um golpe de Estado de 2022 sugeriram ao ex-presidente da República Jair Bolsonaro o retorno do general Braga Netto ao Ministério da Defesa em uma estratégia para concretizar a ruptura democrática. A mudança serviria para que Bolsonaro tivesse “um apoio mais efetivo” no golpe em contraposição à conduta do alto comando do Exército de não embarcar no golpe.
A ideia de recolocar Braga Netto no Ministério da Defesa, no apagar das luzes do governo Bolsonaro, foi citada por Fernandes em uma conversa com Marcelo Câmara, ex-assessor de Bolsonaro, em 10 de novembro de 2022. Fernandes chamava o aliado do ex-presidente de ‘Caveira’. Segundo ele, Braga Netto estava “indignado”, possivelmente com a posição do alto comando de não comprar a narrativa golpista.
Após ser indiciado no inquérito de tentativa de golpe de Estado, Braga Netto alegou que nunca houve tratativas para se dar golpe de Estado no Brasil.
“Olha só, eu aproveitei e te mandei aí acima uma mensagem que eu elaborei e mandei pro comandante do exército. Cara, eu tô aloprando por aqui. E eu queria que tu reforçasse também, pô, eu falei com o Cordeiro ontem, falei com o presidente. Porra, cara, eu tava pensando aqui, sugeri o presidente até, porra, ele pensar em mudar de novo o MD, porra. Bota de novo o General Braga Neto lá. General Braga Neto tá indignado, porra, ele vai ter um apoio mais efetivo. Reestrutura de novo, porra. Ah, não, porra, aí vão alegar que eu tô mudando isso pra dar um golpe. Porra, negão. Qualquer solução, Caveira, tu sabe que ela não vai acontecer sem quebrar ovos, né, sem quebrar cristais. Então, meu amigo, parti pra cima, apoio popular é o que não falta”.
Os áudios de Fernandes também citam o ex-ministro da Justiça e Segurança Pública Anderson Torres. Em uma conversa com o ex-subcomandante do Batalhão de Forças Especiais, o coronel Roberto Criscuoli, Fernandes menciona Torres e uma suposta interferência do então ministro para investigar uma suposta denúncia de fraude nas urnas, “blindando ao máximo” Bolsonaro.
“Falei com o ministro da justiça, o Ministro Anderson, tá? Ele interviu diretamente e colocou um cara desse, dele, lá, que é esse delegado Guilherme. Tá ok? Então qual é a intenção? Como, porra, é muita denúncia e pô, pra eles blindarem ao máximo o presidente, que parece, parece ter optado por uma outra estratégia, que o Câmara não me avançou qual é, certo? Eles pediram pra que ele fizesse o registro da denúncia lá, tá? E a gente vai manter contato com esse cara pra futuramente, aí talvez amanhã mesmo, fazer um contato com ele. Mas o importante é que ele faça a denúncia lá. O ministro da justiça já me garantiu que ele mesmo vai assumir esse caso aí pra investigar, porque realmente parece que existe verdade no que o cara tá dizendo. Agora, a estratégia do presidente, que a gente vai conhecer agora no pronunciamento dele, é que vai... aí talvez a gente entenda o que o Câmara disse. Não, segura, porque mesmo a denúncia depois do pronunciamento, ela vai surtir efeito”, narrou Fernandes.
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