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Opinião|Ideias políticas de Francisco Glicério

Em 1867 ingressa no Clube Radical em São Paulo e, em 1872, no Clube Republicano em Campinas. Organiza e participa ativamente da Convenção de Itu, realizada em 18 de abril de 1873. Estavam lançadas as raízes do republicanismo, que veio desaguar no movimento vitorioso de 1889

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convidado
Por José Renato Nalini

O campineiro Francisco Glicério foi um dos próceres da República. Ardoroso defensor dessa forma de governo deflagrada a partir de 15 de novembro de 1889, era o único dos republicanos paulistas que se encontrava no Rio de Janeiro. Recebeu expressa delegação de seus companheiros de partido para representa-los nas reuniões realizadas em casa de Aristides Lobo e Deodoro da Fonseca.

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Era um idealista pensador e cultor de utopias. Acreditava que a República fizesse do Brasil a grande nação, moderna, eficiente na prestação de serviços públicos, afinada com as grandes potências da época. Sua correspondência foi doada pela família à Prefeitura de sua cidade natal. Nada obstante sua luta de uma vida em prol do aprimoramento da vida pública nacional, seu nome é esquecido. Mais mencionado em razão do toponímico em vias públicas de todo o Brasil.

Algo que mereceria a atenção dos professores de História, assim como de todos os apreciadores das várias etapas e percalços percorridos pela experiência republicana tupiniquim, seria a releitura do livro “Ideias Políticas de Francisco Glicério”, publicado em dois volumes na coleção “Ação e Pensamento da República” do Senado Federal, em parceria com a Casa de Rui Barbosa e MEC.

Ali estão os pronunciamentos de Francisco Glicério na Câmara e no Senado, abordando praticamente todos os assuntos que passaram por debates naquela fervilhante fase da nação que abandonava um Império consolidado e expulsava Dom Pedro II, magnânimo estadista, que veio a falecer de desgosto pouco tempo depois.

Antes da leitura atenta de todos os discursos, é bom lembrar que Francisco Glicério Cerqueira Leite nasceu em Campinas em 15 de agosto de 1846, filho de Antonio Benedito Cerqueira Leite, humilde agricultor e depois Major da Guarda Nacional e Zelinda da Conceição Cerqueira.

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Em 1861 perde o pai e teve de interromper seus estudos, prestes a ingressar na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco. Entre 1864 e 1867, reside em Campinas e Rio Claro, ganhando a vida como tipógrafo, professor de primeiras letras, escrevente de cartório, o que o habilitou a receber carta de advogado provisionado. Tão estudioso e competente era, que seu escritório prosperou, assegurando-lhe recursos para ascender socialmente.

Em 1867 ingressa no Clube Radical em São Paulo e, em 1872, no Clube Republicano em Campinas. Organiza e participa ativamente da Convenção de Itu, realizada em 18 de abril de 1873. Estavam lançadas as raízes do republicanismo até então incipiente e que veio desaguar no movimento vitorioso de 1889.

Em primeiro de julho de 1873, é fundado o Partido Republicano de São Paulo. Glicerio assume a direção das campanhas eleitorais para as Câmaras Municipais, Assembleia Provincial e Assembleia Geral do Império. Eleito vereador à Câmara Municipal de Campinas em 1886, seu berço natal que já o consagrara como legítimo defensor dos interesses locais.

Viaja a Porto Alegre e a Buenos Aires, encontrando-se na capital gaúcha com Júlio de Castilhos, a quem cativa para a causa republicana e obtém sua aliança com os paulistas.

Em 21 de agosto de 1889, candidato a deputado geral por São Paulo, vence no primeiro escrutínio e perde no segundo. Um episódio nunca devidamente esclarecido é o de ter sido assaltado por uma gangue de facínoras na cidade de São José do Rio Pardo.

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Em novembro está na capital do Império, onde participa com entusiasmo e fervor do movimento que instaurou o regime republicano, representando São Paulo. Em 31 de janeiro de 1890, assume o Ministério da Agricultura do Governo Provisório, exercendo-o até 22 de janeiro de 1891. Em 15 de novembro desse ano é eleito Deputado por São Paulo ao Congresso Constituinte. Entre 1892 e 1893, deputado federal por São Paulo à primeira legislatura republicana e líder do governo a partir de abril de 1892. Continua a representar São Paulo na Câmara Federal na segunda e terceira legislatura.

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Em 5 de novembro de 1897 é acusado de ser um dos mandantes do atentado contra Prudente de Morais. Isso o levou ao ostracismo político, mas não o impediu de advogar no Rio de Janeiro. Em 29 de setembro de 1903 é eleito Senador, em substituição a Bernardino de Campos, que renunciou para assumir o governo de São Paulo. É reeleito senador para mandato de nove anos, em 30 de janeiro de 1906. Integra a chapa Rui-Glicério em 1913 e em 1915 é reeleito Senador por São Paulo para mandato de nove anos. Falece em 12 de abril de 1916, no Rio de Janeiro.

Essa uma síntese, bem resumida mesmo, do que representou para Campinas, São Paulo e Brasil, a personalidade inesquecível de Francisco Glicério Cerqueira Leite.

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José Renato Nalini
Reitor da Uniregistral, docente da pós-graduação da Uninove e secretário executivo das Mudanças Climáticas de São Paulo. Foto: Werther Santana/Estadão
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