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Opinião | Inaugurar gente é transformar o futuro

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convidado
Por Alceu Moreira
Alceu Moreira. Foto: Arquivo pessoal

O Brasil precisa se reindustrializar, como uma maneira de retomar o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), que patina há anos. Por outro lado, temos um contingente de novas empresas, que chegam na esteira da Indústria 4.0 e da tecnologia de informação, que vai demandar profissionais com valências que ainda estão sendo descobertas, com habilidades específicas que representarão uma revolução no setor. O Brasil está preparado para esses desafios? Infelizmente não, porque temos dificuldades para formação de mão-de-obra profissional qualificada que atenda às demandas do novo mercado de trabalho.

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Para se ter uma ideia, nosso país tem 66 milhões de pessoas - uma Argentina e meia - não remuneradas ou sub-remuneradas por falta de qualificação profissional. Pessoas aptas, mas que estão à margem do mercado de trabalho porque as mãos não conseguem produzir o que a cabeça não conhece. Trata-se de uma legião de indivíduos que precisa de treinamento para se manter em níveis satisfatórios de empregabilidade diante dos desafios que se descortinam ao longo dos próximos anos.

Há anos ouvimos e repetimos que a educação - formal e profissionalizante - é o grande caminho para uma nação romper os grilhões do subdesenvolvimento. Mas como o aluno que escuta sem ouvir os professores nas aulas matinais ou vespertinas, insistimos em não aprender a lição, repetindo velhos erros, reprovando em conceitos óbvios, perdendo tempo na linha evolutiva de país.

A educação enfrenta um dos piores momentos das últimas décadas. Sabemos que não são desafios simples de serem equacionados. Vivemos em um país de dimensões continentais, com desigualdades históricas igualmente grandes. Além disso, enfrentamos desafios - estruturas precárias, desvalorização de professores, falta de tecnologia e conectividade, diferenças entre redes pública e privada, perdas na aprendizagem, dificuldade de acesso ao mundo do trabalho -, que foram agravados pela pandemia de covid-19.

As dificuldades naturais e inerentes não podem nos afastar da premissa principal de que buscar a educação de qualidade é essencial como base para o desenvolvimento humano. E que a educação é o mais poderoso instrumento democrático de cidadania. Sem ela, não se tem acesso, não se tem emprego, não se tem renda. Não se tem nação no sentido latu sensu da palavra. Ou damos um passo firme na direção de uma educação pública transformadora ou permanecemos desiguais em vários aspectos, fragilizando ainda mais aqueles que já se encontram em situação de vulnerabilidade.

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Esse assunto me toca profundamente na Fundação Ulysses Guimarães e sei que também é um ponto central nos debates da Frente Parlamentar pelo Brasil Competitivo e do Movimento Brasil Competitivo. No ano passado, a Frente lançou um documento essencial para o país, chamado 12 compromissos para um Brasil Competitivo. E um dos eixos foi o acesso à educação profissional e tecnológica.

Isso porque, em um país que o acesso ao Ensino Superior ainda é uma oportunidade para poucos, criar mecanismos para que a educação caminhe pari passu com formação profissional, experiência que funciona muito bem em países como a Alemanha, por exemplo, pode ser uma ótima alternativa para inclusão. E os números mostram um terreno fértil e extenso que precisa ser arado - tomando emprestada uma metáfora de outro setor que me apaixona e atrai: o agro.

Dados de 2018 mostram que 4% dos jovens entre 15 e 24 anos estão matriculados em cursos técnicos ou profissionalizantes. Isso nos coloca como a pior performance entre os países da OCDE e o que apresenta a maior taxa de desemprego entre os jovens. A proposta da Frente é termos 40% de participação de matrículas do ensino médio técnico no total de matrículas do ensino médio regular até 2030. Quando você pergunta para um jovem de 18 anos, que passou todo esse tempo na mão do Estado, nos bancos escolares, o que ele vai fazer da sua vida e ele responde "Eu não sei", é porque estamos falhando em nossa missão.

Não podemos ter compromisso com o erro e insistir na falta de eficiência em um setor tão estratégico para nossa competitividade. O Estado e os governos insistem sempre em inaugurar coisas. Quando nós precisamos inaugurar corações. Está mais do que na hora de inaugurar gente, e com o poder e a independência de cada um, transformar o nosso futuro.

*Alceu Moreira (MDB-RS) é deputado e diretor de Integração Global e Cadeia de Suprimentos da Frente Parlamentar pelo Brasil Competitivo

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