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'Lamentável ver a volta do perfil autoritário que tanta apreensão causa nos democratas', diz Santa Cruz ante ameaça de Bolsonaro a repórter

Presidente disse a repórter que tinha vontade de 'encher a sua boca de porrada' após ser questionado sobre os cheques no valor de R$ 89 mil depositados por Fabrício Queiroz e Márcia Aguiar na conta da primeira-dama, Michelle; entidades repudiam ameaça e alertam para legitimação de violência contra a imprensa

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Por Paulo Roberto Netto
Atualização:

O presidente da OAB, Felipe Santa Cruz. Foto: Wilton Júnior / Estadão

O presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Felipe Santa Cruz, classificou como 'lamentável' a declaração do presidente Jair Bolsonaro que, ao ser questionado sobre os depósitos de R$ 89 mil de Fabrício Queiroz à primeira-dama Michelle, disse a repórter do O Globo que tinha vontade de 'encher a sua boca de porrada'.

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Segundo o presidente da entidade máxima da advocacia, a postura do presidente traz de volta 'o perfil autoritário que tanta apreensão causa nos democratas'.

"O presidente vinha muito bem nas últimas semanas. Com sua moderação estava contribuindo para a pacificação do debate público. Lamentável ver a volta do perfil autoritário que tanta apreensão causa nos democratas", afirmou Santa Cruz. "Nossa solidariedade ao jornalista ofendido e ao jornal O Globo".

Bolsonaro declarou mais cedo em resposta a um repórter do jornal O Globo que tinha vontade de 'encher a sua boca de porrada'. O presidente havia sido questionado sobre os cheques detectados pelo Ministério Público do Rio no valor de R$ 89 mil que foram depositados pelo ex-assessor Farício Queiroz e sua mulher, Márcia Aguiar, na conta da primeira-dama, Michelle.

Jornalistas que acompanhavam a visita de Bolsonaro à Catedral de Brasília questionaram se a declaração era uma ameaça, mas o chefe do Executivo não respondeu mais. O Palácio do Planalto foi questionado pelo Estadão sobre o teor da frase, mas respondeu que não iria comentar.

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As informações foram anexadas à investigação sobre suposto esquema de 'rachadinha' (apropriação parcial ou total de salário de servidores públicos) no gabinete do senador Flávio Bolsonaro enquanto era deputado estadual no Rio. As informações foram reveladas pela revista Crusoé e pelo jornal Folha de S. Paulo e confirmadas pelo Estadão.

Em nota, o jornal O Globo repudiou a 'agressão do presidente. "Tal intimidação mostra que Jair Bolsonaro desconsidera o dever de qualquer servidor público, não importa o cargo, de prestar contas à população. Durante os governos de todos os presidentes, O Globo não se furtou a fazer as perguntas necessárias para cumprir o papel maior da imprensa, que é informar os cidadãos. E continuará a fazer as perguntas que precisarem ser feitas, neste e em todos os governos."

Entidades repudiam declaração de Bolsonaro e alertam para legitimação de violência contra imprensa

A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), o Observatório da Liberdade de Imprensa da OAB e as ONGs Artigo 19, Conectas Direitos Humanos e Repórteres Sem Fronteiras divulgaram nota neste domingo,23, repudiam a declaração do presidente Bolsonaro contra o repórter do jornal O Globo. As entidades alertam ainda que a fala pode legitimar atos de violência contra a imprensa.

"O discurso hostil e intimidatório de Bolsonaro contra a imprensa vem incentivando sua militância a assediar jornalistas nas redes sociais nos últimos meses, inclusive com ameaças de morte e agressões aos profissionais e a seus familiares", afirmam. "A frase 'minha vontade é encher tua boca com uma porrada' pode ser entendida como uma legitimação do cometimento de crimes como esses".

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As entidades afirmam que a ameaça do presidente 'marca um novo patamar de brutalidade' que se soma ao histórico de hostilidade de Bolsonaro contra jornalistas. Desde o início do mandato, o presidente 'vem demonstrando carecer de preparo emocional para prestar contas à sociedade por meio da imprensa'. "Uma responsabilidade de todo mandatário nas democracias saudáveis", apontam.

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"Jornalistas têm sido vítimas de agressões verbais constantes ao cumprir sua obrigação profissional de questionar o presidente sobre ações do governo federal e indícios de corrupção ao longo de sua carreira política", afirmam. "Tal comportamento inadmissível por parte de um presidente da República deveria ser condenado por todas as instituições e cidadãos comprometidos com a estabilidade e o progresso do Brasil".

LEIA A ÍNTEGRA DA NOTA DAS ENTIDADES:

Durante uma visita à Catedral de Brasília no domingo, 23.ago.2020, o presidente do Brasil disse a um jornalista que gostaria de agredi-lo fisicamente. Abraji, Artigo 19, Conectas Direitos Humanos, Observatório da Liberdade de Imprensa da OAB e Repórteres sem Fronteiras se solidarizam com o repórter e condenam mais um episódio violento protagonizado por Jair Bolsonaro, cuja reação, ao ouvir uma pergunta incisiva, foi não apenas incompatível com sua posição no mais alto cargo da República, mas até mesmo com as regras de convivência em uma sociedade democrática. Um presidente ameaçar ou agredir fisicamente um jornalista é próprio de ditaduras, não de democracias.

A ameaça se deu quando um repórter questionou o presidente sobre os depósitos realizados por Fabrício Queiroz na conta bancária da primeira-dama, Michelle Bolsonaro. O mandatário respondeu à pergunta com a frase: "Minha vontade é encher tua boca com uma porrada, tá". Os colegas do jornalista perguntaram se a resposta era uma ameaça ao profissional, ou mesmo à imprensa como um todo, mas o presidente deixou o local sem responder.

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Essa ameaça de agressão física se soma a um histórico de forte hostilidade de Bolsonaro contra jornalistas e marca um novo patamar de brutalidade. Desde o início de seu mandato, em jan.2019, Jair Bolsonaro vem demonstrando carecer de preparo emocional para prestar contas à sociedade por meio da imprensa, uma responsabilidade de todo mandatário nas democracias saudáveis. Jornalistas têm sido vítimas de agressões verbais constantes ao cumprir sua obrigação profissional de questionar o presidente sobre ações do governo federal e indícios de corrupção ao longo de sua carreira política.

A questão da segurança do trabalho dos jornalistas que cobrem a Presidência da República sob Bolsonaro é uma preocupação recorrente. Em jun.2020, organizações da sociedade civil entraram com uma ação na justiça do Distrito Federal solicitando ao governo que garanta a segurança de jornalistas que cobrem a agenda presidencial - sobretudo os que ficam diante do Palácio do Alvorada e que vinham sendo atacados com frequência por apoiadores do presidente. As agressões levaram diversos veículos a interromper a cobertura diária na frente do palácio.

O discurso hostil e intimidatório de Bolsonaro contra a imprensa vem incentivando sua militância a assediar jornalistas nas redes sociais nos últimos meses, inclusive com ameaças de morte e agressões aos profissionais e a seus familiares. Em pelo menos dois casos, um em Minas Gerais e outro em Brasília, este último no Dia Mundial da Liberdade de Imprensa (03.mai.2020), apoiadores do presidente agrediram repórteres que estavam no desempenho de suas funções. A frase "minha vontade é encher tua boca com uma porrada" pode ser entendida como uma legitimação do cometimento de crimes como esses.

Tal comportamento inadmissível por parte de um presidente da República deveria ser condenado por todas as instituições e cidadãos comprometidos com a estabilidade e o progresso do Brasil. As organizações abaixo assinadas esperam sobretudo dos líderes dos Poderes Legislativo e Judiciário uma reação contundente contra mais essa atitude violenta e irresponsável de Jair Bolsonaro.

AbrajiArtigo 19Conectas Direitos HumanosObservatório da Liberdade de Imprensa da OABRepórteres sem Fronteiras

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