PUBLICIDADE

Foto do(a) blog

Notícias e artigos do mundo do Direito: a rotina da Polícia, Ministério Público e Tribunais

Opinião|Legado moral de Pedro II

PUBLICIDADE

convidado
Por José Renato Nalini

O Imperador Pedro II é uma personalidade que precisaria ser redescoberto a cada tragédia moral que envolve a vida pública brasileira, a fim de servir como paradigma e alerta. Já fomos melhores nesse campo. Nem existem termos de comparação.

PUBLICIDADE

Um documento pouco explorado nas aulas de História é aquele chamado “Minha Fé de Ofício”, redigido em Cannes, em abril de 1891. São seis laudas escritas com letrinha fina, original atribuído ao Conde Motta Maia e glosas manuscritas pelo Imperador. De cujo punho provêm, também, as linhas finais.

Vale a pena reproduzir ao menos algumas partes:

“Sempre tive sentimento religioso, por ser inato no homem, e despertado pela contemplação da natureza. Creio em Deus, e a reflexão me fez sempre conciliar suas qualidades infinitas. Onisciência, Providência e Misericórdia. Sempre tive fé, e acreditei nos dogmas, mesmo por argumentos da razão.

O que sei, devo-o sobretudo à pertinácia. Reconheço que sou muito somenos no que é relativo aos dotes de imaginação, que posso, aliás, bem apreciar em outros. As leis sociais sempre me preocuparam, e não sou o mais competente para dizer a parte, que sempre tomava em seu estudo e aplicação. Sempre me interessei pelas questões econômicas, estudando com todo o cuidado pautas de alfândegas, no sentido de proteger indústrias naturais até o período do próspero desenvolvimento. Sempre pensei no sentido da instrução livre, havendo somente inspeção do Estado quanto à moral e à higiene, e aos ministros pertencer a parte religiosa às famílias e aos ministros das diversas religiões. Também no estabelecimento de duas Universidades, uma ao norte e outra ao sul, com as faculdades e institutos necessários e portanto apropriadas às diferentes regiões, sendo o provimento das cadeiras por meio de concurso.

Publicidade

Igreja livre no Estado livre, mas isso quando a instrução do povo pudesse aproveitar de tais instituições.

Sempre estudei com muito cuidado o que era relativo à moeda corrente, que se prende à questão dos bancos. Legislação sobre privilégios, opondo-me sempre aos que se ligam à propriedade literária, sustentando as opiniões de Alexandre Herculano, e antes que ele as tivesse manifestado.

Estudei muito questões de imigração, sobre a base da propriedade, e o aproveitamento das terras. Explorações para o conhecimento das riquezas naturais. Navegação de rios e diferentes vias de comunicação. Pensava na instalação de um Observatório Astronômico, moldado nos mais modernos estabelecimentos desse gênero e que, segundo minhas previsões e estudos, poderia ser superior ao de Nice.

Sempre cogitei em todos os melhoramentos para o exército e marinheiros, a fim de que estivéssemos sempre preparados para qualquer eventualidade, embora contrário às guerras, evitando-as assim.

Preocupavam-me seriamente os estudos de higiene pública e particular, a fim de evitar as grandes epidemias, e isso sem grande vexame para as populações. Acompanhava-me sempre a ideia de ver o meu Brasil sem ignorância, sem falsa religião, sem vícios e sem distâncias.

Publicidade

Sempre pensei que o homem devia ser regenerado e não suprimido, e por isso estudava muito a penalidade, tomando grande parte no que se fez relativamente às prisões e estudando todas as questões modernas que tendiam a seu melhoramento.

PUBLICIDADE

Procurei abolir a pena capital por lei, tendo-se encarregado o Visconde de Ouro Preto de apresentar às Câmaras um projeto para a abolição legal da mesma pena.

Estudava, cuidadosamente, todos os processos para a comutação da pena última, e quando não encontrava base para isso, guardava-os, sendo a incerteza já uma pena gravíssima para os réus.

Sempre me esforcei pela liberdade das eleições, e, como medida provisória, pugnei pela representação obrigada do terço, preferindo a representação uninominal de círculos bem divididos. Pois que o sistema ainda por agora impraticável, deve ser o da maioria de todos os votantes de uma nação”.

Esta verdadeira “profissão de fé” permite constatar que Pedro II acreditava no contencioso administrativo, algo que até o momento não se implementou e que faz do Estado brasileiro o maior cliente do Poder Judiciário. Situação autofágica, propiciadora de dispêndio incompatível com as reais carências da Nação. Voltarei ao tema.

Publicidade

Convidado deste artigo

Foto do autor José Renato Nalini
José Renato Nalinisaiba mais

José Renato Nalini
Reitor da Uniregistral, docente da pós-graduação da Uninove e secretário executivo de Mudanças Climáticas de São Paulo
Conteúdo

As informações e opiniões formadas neste artigo são de responsabilidade única do autor.
Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Estadão.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.