A quatro dias do fim da intervenção na segurança pública do Distrito Federal, decretada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e confirmada pelo Congresso após os protestos golpistas na Praça dos Três Poderes, o gabinete do interventor Ricardo Cappelli divulgou um relatório sobre os atos de vandalismo.
Ao longo de 62 páginas, o documento detalha a ação dos radiciais e aponta falhas no trabalho da Secretaria de Segurança Pública do DF para desmobilizar os manifestantes.
Documento
Leia a íntegra do relatórioVeja os principais pontos do relatório:
Acampamento em frente ao QG do Exército
O documento dá destaque ao acampamento montado por apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PL) em frente do Quartel General do Exército no dia 1º de novembro. O relatório destaca que, desde o início, a estrutura teve uma "complexa e engenhosa organização", com cozinhas coletivas, banheiros com chuveiro quente, geradores de energia e uso de rádios-comunicadores.
O interventor também registra que, em 6 janeiro, a dois dias dos atos golpistas, haviam aproximadamente 300 pessoas no acampamento e o estacionamento estava vazio. A informação confirma que a maior parte dos manifestantes viajou a Brasília às vésperas do protesto golpista.
Cappelli afirma ainda que, por não ter sido desmobilizado, o acampamento serviu de "apoio logístico e local de concentração" para os radiciais que invadiram os prédios do Planalto, do Congresso e do Supremo Tribunal Federal (STF).
"O acampamento, desde a sua instalação, foi elemento crucial para o desenvolvimento das ações de perturbação da ordem pública que culminaram nos atos do dia 8 de janeiro", diz um trecho do relatório.
O governo do DF chegou a organizar um plano de ação para retirar os manifestantes do acampamento, mas a operação foi cancelada por determinação do Exército.
O relatório também aponta que os manifestantes tinham "conhecimento dos locais invadidos e de técnicas de confronto".
Nomeação de Anderson Torres como secretário de Segurança Pública
O relatório também fala sobre a nomeação do delegado de Polícia Federal e ex-ministro da Justiça Anderson Torres para comandar a Secretaria de Segurança Pública do DF, cargo que ele ocupava antes de aceitar o convite de Bolsonaro para integrar o governo federal. Cappelli afirma que as trocas promovidas por Torres em postos de comando "afetaram atividades operacionais" da pasta.
Anderson Torres estava com a família nos Estados Unidos quando estouraram as manifestações radiciais em Brasília no domingo. De acordo com o relatório, as férias estavam marcadas oficialmente para o dia 9 de janeiro.
Alerta
A Subsecretaria de Operações Integradas, que compõe a estrutura administrativa da Secretaria de Segurança Pública do DF, convocou uma reunião com representantes das Polícias Civil, Militar, Legislativa e Judicial para alinhar um plano operacional para o dia 8 de janeiro. O órgão disse que tomou conhecimento, pelas redes sociais, sobre a possibilidade de manifestações na Praça dos Três Poderes.
Um relatório de inteligência foi enviado no dia 6 de janeiro ao gabinete de Anderson Torres alertando sobre a possibilidade de invasão e ocupação de prédios públicos e de bloqueios em refinarias e distribuidoras.
"Pode-se concluir que não houve falta de informações e alertas sobre os riscos da manifestação", afirma o relatório.
Efetivo
O interventor afirma que, apesar das informações sobre o risco de protestos radiciais, o efetivo de policiais mobilizado foi "insuficiente" para conter os manifestantes.
O relatório também sugere que o comando das forças de segurança demorou a agir: "Houve, portanto, um intervalo de aproximadamente duas horas entre o início da manifestação e a tomada de providências operacionais de reforço para reprimir as ações em andamento."
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