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Opinião|Lixo pode ser luxo

O Brasil desperdiça muito. Descarta o que é valioso e tem utilidade. Ainda não tem a expertise na economia circular e na logística reversa

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convidado
Por José Renato Nalini

Dos três vilões causadores do aquecimento global e das mudanças climáticas, o lixo é aquele que mais de perto tem a ver com a cidade. O primeiro é o transporte. Só para ficar na capital, são mais de sete milhões de veículos transitando dia e noite. Treze mil ônibus. Um milhão e duzentas mil motocicletas. Tudo expelindo veneno, pois funciona a combustão fóssil.

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O segundo é a energia estacionária. Aquela que gastamos para manter tudo em funcionamento: indústrias, serviços, hospitais, escolas, igrejas, clubes e residências.

Ora, transporte e energia – lamentavelmente – são assunto federal. A Federação assimétrica e bem caolha que se implantou no Brasil deixa o município com todas as incumbências e com renda insuficiente. Tudo se canaliza para a perdulária União, com estruturas tentaculares e incapacidade para administrar a complexidade do Brasil.

Já os resíduos sólidos, estes são produzidos na cidade e é esta a responsável por cuidar deles. O Brasil desperdiça muito. Descarta o que é valioso e tem utilidade. Ainda não tem a expertise na economia circular e na logística reversa. Daí o contrassenso de se pagar para concessionárias varrerem e coletarem o que se descarta. Para isso, o povo de São Paulo paga cerca de 13 bilhões, mais do que 10% do orçamento da cidade.

É preciso reinventar esse sistema. Começando com educação intensiva da população, para não desperdiçar tanto e para reaproveitar tudo aquilo que tem utilidade. Exigir do governo observância da economia circular e implementação de obrigatória logística reversa. Estimular as cooperativas de catadores, verdadeiros heróis que ajudam a limpar a cidade. Incluir nos contratos de concessão a obrigatoriedade de estimular as cooperativas, de colocar contêineres para coleta seletiva, de também educar a sociedade civil, para que pense com seriedade naquilo que desperdiça e lança às ruas.

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A solução dos aterros sanitários não pode se eternizar. Eles se encontram em áreas ambientais. Glebas que deveriam ser parques, reservas naturais, florestas urbanas. Não os “lixões” que só existem nos países atrasados e defasados.

Há sinais promissores naqueles que detectam a possibilidade de obtenção de lucro no tratamento consentâneo com a economia verde. A empresa Orizon, que tem no seu Conselho a figura notável de Jerson Kelman, transforma aterros sanitários em grandes complexos de captação de biogás e geração de energia. Prevê seu CEO, Milton Pilão, que a geração de biometano nos aterros é mais propícia a curto prazo do que aquela obtida da cana. Esta se submete a sazonalidade e as plantações estão espalhadas pelo Estado inteiro, enquanto os aterros estão mais próximos.

A Orizon possui dezesseis ecoparques, dotados de tecnologias de triagem para reaproveitamento de material reciclado, compostagem para fertilizantes e combustível extraído de resíduo.

O Brasil gera oitenta milhões de toneladas por ano, dos quais 40% vão para lixão e 60% para aterros. A Orizon adquire aterro e o transforma em ecoparque, onde se instalam indústrias de energia, biometano, reciclagem e fertilizantes.

A explicação para a subsistência de lixões diz com a falta de regulamentação do Estado quanto ao desperdício praticado por toda a população. No mundo civilizado, existe uma taxa de destinação de resíduo, paga por toda a cidadania. Aqui, por não ser responsável pelo lixo que produz, a sociedade acredita que a Prefeitura é que tem de cuidar de tudo.

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O aproveitamento do lixo brasileiro se faz em baixíssima escala. Na capital, apenas 3% da coleta é que chega à reciclagem. Isso por uma série de causas, das quais não é a menor ou menos importante a falta de educação ecológica da população.

É preciso que o governo cumpra seus acordos internacionais, torne concreta a sua promessa de fazer a transição verde e obrigue a utilização do biometano, pois é menos poluente do que o gás natural. Sem imposição governamental, sem sanções – que podem ser positivas, no estímulo e negativas, com punições para as infrações – dificilmente se chegará à consciência de que a tentativa de salvar a humanidade é responsabilidade de todos, não apenas dos Prefeitos. Lixo pode ser luxo, se houver mentalidade tal. Vamos cuidar disso?

Convidado deste artigo

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José Renato Nalini
Reitor da Uniregistral, docente da pós-graduação da Uninove e secretário executivo das Mudanças Climáticas de São Paulo. Foto: Daniel Teixeira/Estadão
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Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Estadão.

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