O tema ardente na imprensa é a questão ambiental no Brasil. De um lado, aqueles que veem a frouxidão nas regras de proteção ambiental e no combate às atividades que devastam a flora e a fauna brasileira. De outro lado, temos aqueles que afirmam categoricamente que os incêndios florestais são normais por causa da estiagem e que as queimadas produzidas pelo homem são frutos da atividade rural rudimentar. O governo federal adota essa última posição.
Pode-se evoluir esse tema para o aquecimento global, em que temos posições antagônicas. A maioria esmagadora dos cientistas afirma que o aquecimento global é uma decorrência do excesso de gás carbônico e metano produzidos pela atividade humana no planeta e que, se não houver controle, estaremos fadados ao armagedom climático. Numa corrente contrária e muito menor, afirma-se que o aquecimento global é inexorável e é decorrente de mudanças climáticas naturais do planeta.
Sob qualquer ótica que se analise o tema da preservação ambiental, uma questão é indiscutível: temos que preservar o meio ambiente, pois a sobrevivência da raça humana dependerá dele.
Seja qual for a causa do aquecimento global, a sociedade humana tem que tomar todas as medidas para se evitar o futuro colapso do meio ambiente. Ora, queimadas fora do controle e incêndios florestais não fazem bem ao planeta e nem aos seres que nele vivem.
O Brasil já foi o exemplo na questão ambiental, sendo respeitado mundialmente por isso. Nosso país tem uma das legislações mais avançadas do mundo para a proteção ao meio ambiente e mantinha órgãos de fiscalização e de controle rigorosos. Agora, alardeia-se a tentativa do afrouxamento legal de controle do meio ambiente e a distensão da fiscalização em prol da atividade econômica.
É claro que não se pode impedir a atividade econômica, pois dela decorre a evolução social e, em certos casos, a própria sobrevivência do ser humano. Contudo, não se pode imolar o bem maior, que garantirá a sobrevivência da raça humana. É como matar a galinha dos ovos de ouro. Isto é clarividente.
É pífio o argumento de que outros países, que devastaram suas florestas, não podem nos recriminar por nossos deslizes na proteção ambiental. É como dizer que podemos tocar fogo na nossa casa, já que o vizinho fez isto no passado na casa dele.
O governo federal tem que voltar a tomar as rédeas do controle da exploração e da preservação do meio ambiente. E rápido, não só para o bem da sociedade brasileira, mas também para não ofuscar a imagem do país perante a comunidade internacional.
Se não houver uma correção de rota, além dos problemas econômicos decorrentes das restrições comerciais que teremos pela má conservação do meio ambiente, teremos também a fuga de investimento.
Numa hipótese remota, as grandes potências podem chegar à conclusão de que não sabemos conservar nosso meio ambiente e que estamos pondo em risco a sobrevivência humana no planeta. Daí poderemos perder a soberania de parte de nosso território, uma vez que a força dissuasória militar do Brasil, infelizmente, não faz sombra às grandes potencias militares. A história nos mostra que, por muito menos, países foram invadidos. Pode parecer absurda esta hipótese, mas é plausível. Alguém pode se apoderar da galinha, para preservar seus ovos de ouro.
*Edson Miranda, advogado, professor universitário e escritor
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