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Opinião | Milei na Argentina: o que o Brasil tem a ganhar ou perder?

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convidado
Por Ney Lopes*

Durante toda campanha eleitoral na Argentina, o candidato do governo Sergio Massa, de esquerda, usou a estratégia de que a eleição do seu opositor, Javier Milei, de direita, era um “perigo” para o país.

Os argentinos ontem, 19, nas urnas disseram: “Perigo é a vida como ela está agora”.

E para escapar desse perigo, votaram na mudança, optando por Javier Milei.

Javier Milei Foto: Rodrigo Abd/AP

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Milei é eleito num cenário de inflação galopante, que pode chegar aos 200% no final deste ano e fez campanha contra aquilo que designou como a “casta política”, que acusa de viver das receitas do Estado como parasita, empobrecendo a população, amarrando a economia e impedindo que o país cresça.

Em seu discurso, já eleito, Milei alertou sobre uma possível resistência social às suas reformas.

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No Brasil, o processo eleitoral na Argentina foi acompanhado com atenção, tanto por motivos político, quanto econômicos.

Apesar da crise econômica vivida pelo país nos últimos anos, a Argentina ainda é um dos nossos principais parceiros comerciais.

Dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) mostram que a Argentina é, há anos, o terceiro maior parceiro comercial do Brasil, atrás apenas dos Estados Unidos (2º) e China (1º).

Surge a indagação: Brasil o que ganha e perde com a eleição de Javier Milei?

O eleito se apresenta como representante do “anarcocapitalismo”, uma filosofia política e econômica que busca reduzir o papel do estado na economia e em outros aspectos da sociedade.

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Ele defende, por exemplo, que as pessoas poderiam ter o direito de vender seus próprios órgãos.

Formou-se em Economia na Universidade de Belgrano, e fez mestrado no Instituto de Desenvolvimento Econômico e Social (IDES) e na Universidade Torcuato Di Tella (UTDT).

Teve passagens pela iniciativa privada, ficou famoso nos últimos anos ao defender propostas para resolver a crise econômica do país consideradas “extremas” por analistas.

Milei faz pesadas críticas ao Brasil atual.

Na eleição de 2022 declarou seu apoio ao então candidato Jair Bolsonaro (PL) e chamou Lula de “presidiário”.

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Após o fechamento das urnas, Lula enviou mensagem à Argentina, felicitando pela realização de eleições livres, mas não citou o nome de Milei.

O ponto mais polêmico do novo presidente ameaça não apenas o Brasil, mas todo o cone sul.

Milei disse que acredita ser necessário “eliminar” o Mercosul, porque é uma união aduaneira defeituosa, que prejudica os argentinos de bem.

Considera um comércio administrado por estados para favorecer empresários.

Extinto ou enfraquecido o bloco, refletirá na economia brasileira, negativamente.

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A atual relação do Brasil com o Mercosul fortalece a economia regional, aumenta o intercâmbio de tecnologia e favorece as nossas exportações.

A principal vantagem dos países associados do Mercosul é a diminuição ou mesmo eliminação de barreiras tarifárias sobre o comércio de bens.

O Mercosul foi criado em 1991, com a assinatura do Tratado de Assunção.

Atualmente, a maior parcela dos produtos industriais brasileiros é exportada para os países do Mercosul e para os países associados por acordos de livre comércio, como Chile, Peru e Colômbia.

Outra possível perda do Brasil é uma demora ou até mesmo a inviabilidade do acordo comercial entre Mercosul e União Europeia, negociado desde 1999.

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Em 2019, o acordo foi fechado entre os dois blocos, mas ainda precisava passar por um processo de revisão jurídica.

Agora é aguardar a reação de Milei.

Um dos planos brasileiros que Milei pode atrapalhar, seria o ingresso da Argentina nos BRICS, grupo inicialmente formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul.

Milei disse que retiraria a Argentina do BRICS.

Sabe-se que a incorporação da Argentina aos BRICS é uma parte central da estratégia do presidente brasileiro para a sua liderança na América do Sul e na América Latina, e, por isso, preocupa Lula.

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Há, entretanto, opiniões de que não se deve levar ao pé da letra algumas das declarações de Milei e que ele, na presidência, será obrigado a adotar dose de pragmatismo.

Espera-se que sim, mas é uma incógnita, que gera apreensões ao Brasil.

Analistas enxergam pontos positivos com a vitória de Milei, em relação ao Brasil.

Talvez seja a possibilidade dos argentinos experimentarem uma mudança nos rumos na condução da economia que, ao longo de várias décadas, na verdade tem seguido uma linha na direção negativa, que provocou a crise atual.

A tese é de que se o receituário de Milei der certo e a Argentina superar a crise econômica, isso poderá ter efeitos positivos na economia brasileira.

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Se a macroeconomia Argentina se estabiliza, o Brasil ganhará um mercado importante para as exportações de produtos industrializados.

Há quem ache também que a dolarização total da economia argentina, poderia ter efeitos positivos para o Brasil, se implementada com sucesso.

Se houvesse a dolarização, teríamos só uma cotação (do dólar) e isso agilizaria a relação comercial entre os países.

Facilitaria as transações comerciais da Argentina com o resto do mundo, uma vez que seria utilizada uma moeda mundialmente aceita.

O peronismo perdeu, após ter vencido quatro das últimas cinco eleições presidenciais.

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O peronismo é um movimento político que surgiu na Argentina durante a década de 1940 com o então presidente Juan Domingo Perón (1895-1974).

Na eleição presidencial de 2023, Sergio Massa (Unión por la Pátria) representou essa corrente política.

Após luta tão acirrada só resta esperar, que se realizem as expectativas do povo argentino.

Milei em seu discurso após o resultado das urnas deu o rumo do seu governo, dizendo:

“Hoje começa o fim da decadência argentina… hoje termina o modelo do Estado empobrecedor. Todos os que quiserem se unir à nova Argentina serão bem-vindos.

Como dizia o ex-ministro Roberto Simonsen: “Otimismo é esperar pelo melhor”.

Vamos esperar!

*Ney Lopes, jornalista, advogado, ex-deputado federal, ex-presidente do Parlamento Latino Americano (PARLATINO), ex-presidente da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara, procurador federal, professor de Direito Constitucional da UFRN

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