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Opinião|Milímetros da morte: o que a ciência pericial nos ensina sobre o atentado a Trump

A impressão de “filme de Hollywood” fica por conta da dissociação do barulho dos disparos e da reação ao impacto de Trump. Facilmente explicado pelo deslocamento do projétil em velocidade acima do som que significa dizer: se você ouviu o som do disparo provavelmente não foi atingido de forma fatal. Literalmente o projétil chega antes do som

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convidado
Por Caroline Daitx

Em um comício realizado no último sábado, 13 de julho, o que era para ser mais uma demonstração de apoio ao ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, rapidamente se transformou em um cenário de tensão e medo. O atentado contra Trump, ocorrido em meio a uma multidão de apoiadores fervorosos, chocou a nação e o mundo, lançando um novo olhar sobre a segurança de figuras públicas e a polarização política crescente.

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Donald Trump, estava ainda no início do seu discurso quando um movimento de cabeça instintivo salvou sua vida. Esse gesto, uma reação quase inconsciente, desviou a trajetória de um projétil que, sem dúvida, tinha o potencial de ser fatal.

O atirador, Thomas Matthew Crooks, posicionado a uma distância considerável de mais de 120 metros, escolheu para sua tentativa nefasta um fuzil AR-15, uma arma notoriamente associada a incidentes de violência de alto perfil nos Estados Unidos. A escolha dessa arma específica não foi aleatória; sua capacidade de disparar projéteis a velocidades que ultrapassam a barreira do som faz dela uma ferramenta destrutiva nas mãos erradas. Além disso, a conformação desse armamento permite que mesmo em longas distâncias possua precisão.

A única justificativa para o alvo não ter sido acertado é o movimento que Trump fez com a cabeça milésimos de segundos antes. A impressão de “filme de Hollywood” fica por conta da dissociação do barulho dos disparos e da reação ao impacto de Trump. Facilmente explicado pelo deslocamento do projétil em velocidade acima do som que significa dizer: se você ouviu o som do disparo provavelmente não foi atingido de forma fatal. Literalmente o projétil chega antes do som.

A capacidade do fuzil AR-15 de infligir danos não se limita apenas ao impacto direto de seus projéteis. A energia liberada pelo disparo é tão significativa que pode causar danos catastróficos além do contato direto, através da onda de choque gerada pela velocidade do projétil. Dentro do organismo existe a formação de uma cavidade durante a passagem do projétil, que é bem maior que o seu próprio calibre. É como se uma “bomba” explodisse dentro do corpo.

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Esse poder destrutivo foi quase demonstrado de maneira trágica, pois o projétil disparado passou a uma distância alarmantemente próxima da cabeça de Trump, quase penetrando a caixa craniana. A diferença de milímetros evitou danos a estruturas vitais que teriam resultado em consequências fatais provavelmente instantâneas.

Para se ter uma ideia do potencial desse armamento em termos numéricos a velocidade alcançada nesse equipamento de alta energia é de mais de 600 m/s. Armamentos fora dessa classificação alcançam em média de 300 a 600 m/s. O aumento do alcance efetivo com o desenvolvimento da tecnologia desses equipamentos permitiu que disparos fossem feitos a longa distância com alcance efetivo saindo de 100m para até 3000m. Infelizmente em algumas regiões metropolitanas brasileiras como por exemplo o Rio de Janeiro é comum que traficantes utilizem rotineiramente esse tipo de equipamento.

A perícia baseia seu estudo na parte mecânica do deslocamento desses projéteis através da balística. E pode ainda ser dividida em balística interna (estudo da estrutura e mecanismos das armas e propelentes), balística externa (preocupa-se em estudar os movimentos do projétil após o disparo) e a balística terminal. Na balística terminal é onde os médicos legistas entrarão em cena para avaliar os efeitos no corpo humano.

O potencial lesivo desses dispositivos é relacionado a sua energia cinética e os efeitos terminais desse deslocamento. Em algumas situações os ferimentos podem adquirir formato que se assemelham a feridas causadas por explosões com verdadeiras deformidades quando por “sorte” não forem responsáveis pelo óbito.

Quando um projétil atinge o corpo, ele não apenas causa um dano direto ao tecido por meio de uma cavitação permanente, mas também gera uma cavidade temporária muito maior que pode afetar tecidos, órgãos e vasos sanguíneos distantes do ponto de impacto. Além disso, projéteis, como os disparados por um AR-15, podem fragmentar-se ao atingir ossos ou objetos duros, multiplicando os caminhos de destruição dentro do corpo. Essa dinâmica é agravada pelo choque hidrostático, onde a energia transferida pelo projétil aos fluidos corporais provoca danos adicionais a órgãos e tecidos mesmo que estejam distantes do trajeto inicial do projétil, ampliando significativamente o potencial lesivo do impacto.

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Qualquer armamento com projétil pode produzir esses efeitos. Entretanto, quando trata-se desse tipo em especial (alta energia: velocidade maior que 600m/s) os efeitos de cada um desses itens serão potencializados e a destruição dos tecidos será ainda maior. É como se realmente uma bomba explodisse dentro do corpo.

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Por centímetros, talvez milímetros, o desfecho poderia ter sido diferente. Uma vez que exista a penetração no corpo os efeitos descritos acima se desenvolveriam dentro de uma estrutura vital. Nesse caso a morte seria de grande probabilidade ou sequelas neurológicas graves e irreversíveis.

O movimento de Trump o fez escapar sem ferimentos graves. A tentativa de assassinato é um episódio que, sem dúvida, entrará para a história, simbolizando a fragilidade da vida humana.

A tentativa de assassinato de Donald Trump é um lembrete sombrio da realidade da violência política e da importância da vigilância e da segurança. Enquanto a nação lida com as repercussões deste evento, a esperança de um futuro mais seguro e unido permanece, apesar dos desafios que temos pela frente.

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Caroline Daitx
Médica especialista em medicina legal e perícia médica. Foto: M2 Comunicação Jurídica/Divulgação
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