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Mais de 40% das habilidades atuais se tornarão obsoletas nos próximos anos. E o Brasil enfrenta perigosa lacuna de habilidades, não só em termos de tecnologia avançada, mas em conhecimento de matemática, português e inglês

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Por José Renato Nalini

Os privilegiados brasileiros que conseguem chegar à Universidade e levam o seu estudo a sério ainda são vítimas de uma cultura anquilosada. O vestibular para Direito, Medicina, Engenharia, parece levar o percentual maior dos jovens que ultrapassaram a barreira do ensino fundamental e médio.

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Mas o mundo mudou. Não há mais, pelo menos no Brasil, essa profusão de bacharéis em Direito. A maior parte deles vai continuar a fazer o que fazia antes dos cinco exaustivos anos do bacharelado. Um dia haverá o breque na proliferação de carreiras jurídicas. Nem sempre elas trazem mais Justiça ao país. Trazem, sim, é judicialização. Excesso de demandas. Discussões intermináveis. Elaboração de teorias sofisticadas. Continuamos o país mais desigual sobre a face da Terra.

Medicina parece caminhar no mesmo sentido. Médicos nem sempre formados à base da prática. Há mais faculdades do que hospitais. O despreparo é fatal. Nem cabe lembrar o que os advogados diziam para os médicos na França Antiga: “A diferença entre nossos erros é que os de vocês, médicos, a terra cobre. Os nossos, ficam eternizados por escrito”. A internet que o diga. Nada se elimina. Tudo volta a aparecer. Principalmente o que as pessoas querem esconder.

O mundo precisa de outras profissões. Há fatores escancarados que muita gente ainda não enxerga: as emergências climáticas; a revolução tecnológica; as incertezas econômicas; a urgente transição para o mundo verde. Ironia: ele já foi verde. Nós o envenenamos. Agora queremos vê-lo verde novamente.

O Relatório Futuro do Trabalho 2025, elaborado pelo Fórum Econômico Mundial – WEF, na sigla em inglês, com parceria com a Fundação Dom Cabral, apurou que serão extintas 92 milhões de funções e serão substituídas por 170 milhões de novos postos de trabalho.

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A Universidade brasileira tradicional não tem investido nas habilidades mais relevantes, que são, pela ordem, pensamento analítico, resiliência, flexibilidade e agilidade, liderança e influência social, pensamento criativo, motivação e autoconhecimento, alfabetização tecnológica, empatia e escuta ativa, curiosidade e aprendizado contínuo, gestão de talentos, orientação para o serviço e atendimento ao cliente, IA e Big Data, pensamento sistêmico, gestão de recursos e operações, confiabilidade e atenção aos detalhes e controle de qualidades.

O ensino nas Faculdades continua ser a transmissão, por um docente que se considera detentor de todo o conhecimento, de informações transmitidas por aulas orais, presenciais ou virtuais, a um alunado que é considerado jejuno. As avaliações são feitas de acordo com a capacidade de memorização desses dados.

Ora, o mundo é outro. As informações estão todas disponíveis e a cada momento dobra o número de saber amealhado no mundo web. Quem tem curiosidade encontra tudo. Quem não tem, fica submisso àquilo que o professor fala. Não será um profissional para o futuro. Perecerá.

Na relação das profissões que vão acabar, estão os carteiros, os caixas bancários e cargos relacionados, os operadores de entrada de dados, caixas e atendentes, assistentes administrativos e secretárias executivas, trabalhadores de impressão e cargos relacionados, contadores, auxiliares de contabilidade e de folha de pagamento, assistentes de registro de materiais e controle de estoque, vendedores porta a porta, de jornal, ambulantes e similares, designers gráficos, peritos de seguro, examinadores e investigadores, profissionais jurídicos, inclusive secretárias e operadores de telemarketing.

Enquanto isso, o mundo precisa de especialistas em big data, engenheiros de fintech, especialistas em IA e machine learning, desenvolvedores de software e aplicativos, especialistas em gestão de segurança, em armazenamento de dados, em veículos elétricos e autônomos. Especialistas em internet das coisas, analistas e cientistas de dados, engenheiros ambientais, botânicos, jardineiros, profissionais encarregados de viveiros de muda, engenheiros florestais, de energia renovável e outros.

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Treinamento e requalificação estão no centro das estratégias para acompanhar as mudanças. Mais de 40% das habilidades atuais se tornarão obsoletas nos próximos anos. E o Brasil enfrenta perigosa lacuna de habilidades, não só em termos de tecnologia avançada, mas em conhecimento de matemática, português e inglês.

Quem se preparar sobreviverá. Os demais, não se sabe.

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Foto do autor José Renato Nalini
José Renato Nalinisaiba mais

José Renato Nalini
Reitor da Uniregistral, docente da pós-graduação da Uninove e secretário executivo das Mudanças Climáticas de São Paulo. Foto: Werther Santana/Estadão
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Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Estadão.

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