Foto do(a) blog

Notícias e artigos do mundo do Direito: a rotina da Polícia, Ministério Público e Tribunais

Na véspera da virada do ano, Dino libera R$ 370 milhões em emendas para saúde

Decisão do ministro do STF no último dia da execução orçamentária de 2024 acata pedido da Advocacia-Geral da União para garantir o gasto mínimo em saúde previsto na Constituição

PUBLICIDADE

Foto do author Pepita Ortega
Atualização:

O ministro Flávio Dino, do Supremo Tribunal Federal, autorizou nesta quarta-feira, 31, o governo Lula a empenhar R$ 370 milhões em emendas de comissão apadrinhadas por senadores e deputados - espólio do orçamento secreto - para garantir o gasto mínimo em saúde previsto na Constituição. A decisão atende a um pedido da Advocacia-Geral da União e se dá no último dia da execução orçamentária de 2024.

PUBLICIDADE

O ministro viu ‘grave colisão entre direitos e obrigações constitucionais’. “De um lado, a imperativa adequação das emendas parlamentares ao devido processo orçamentário, de matriz constitucional; de outro, o alcance do piso constitucional de despesas com a Saúde, sendo que o Poder Executivo alega que somente com um determinado montante de “emendas de comissão” isso se torna possível”, explicou.

A avaliação final foi a de que é adequada e necessária a continuidade da execução de ‘emendas de comissão’, “com a finalidade exclusiva de permitir o alcance do patamar mínimo constitucional de despesas com Saúde”.

O ministro do STF Flávio Dino Foto: Gustavo Moreno/STF

No entanto, Dino determinou que as emendas parlamentares que serão empenhadas devem ser ratificadas nas Comissões temáticas sobre Saúde do Senado e da Câmara até o dia 31 de março, sob pena de anulação imediata e automática. Só após a confirmação elas poderão ser executadas - ou seja, pagas.

“Até tal aprovação, não haverá nenhum ato subsequente de execução, que fica expressamente bloqueada a partir de 31 de março de 2025, caso não atendidas as condições elencadas”, advertiu.

Publicidade

Ainda de acordo com o despacho, as emendas liberadas para empenho devem atender, se possível, a proporção usual de partilha entre Câmara e Senado. O presidente do Congresso, Rodrigo Pacheco deverá ajustar as emendas com o Ministério da Saúde.

A decisão foi assinada após a AGU enviar a Dino um parecer argumentando que valores que estavam bloqueados por ordem do ministro, no bojo da ação que derrubou o orçamento secreto, eram imprescindíveis para garantir o gasto mínimo em saúde previsto na Constituição.

A lei estabelece que o governo tem que gastar pelo menos 15% da receita líquida do ano. Em 2024, ela está prevista para R$ 1.436 bilhões. Assim, o piso da saúde para este ano está em R$ 215,5 bilhões.

Dino determinou nesta terça, 30, que a AGU fizesse o cálculo de qual valor em emendas seria imprescindível para cumprir o piso constitucional em saúde. O braço jurídico do governo Lula respondeu ao questionamento nesta quarta, 31, último dia do ano: R$ 370 milhões, pelo menos.

O órgão diz que o governo se compromete a cancelar o empenho das emendas de comissão caso, eventualmente, seja constatado que o piso constitucional foi atingido sem necessidade das emendas de comissão.

Publicidade

O bate-bola entre o ministro do STF e a AGU se deu com urgência em razão da virada do ano. Nesta quarta, 31, termina o prazo para o empenho dos recursos do Orçamento de 2024 e o dinheiro que não for reservado para pagamento voltará para o Tesouro.

PUBLICIDADE

O pedido específico da Advocacia-Geral da União pelos R$ 370 milhões para a Saúde ocorreu após o órgão sugeriu cautela ao governo Lula e o não pagamento – pelo menos por hora - de R$ 4,2 bilhões em emendas parlamentares apadrinhadas por líderes partidários. O braço jurídico do Executivo defendeu que o governo adotasse uma “interpretação mais segura” da decisão de Dino que liberou, no domingo, 29, parte das emendas de comissão que estavam bloqueadas desde o dia 23.

Após a emissão do parecer da AGU, a Secretaria de Relações Institucionais informou que, até o dia 23 de dezembro – data estipulada por Dino - foi realizado o empenho R$ 1,7 bilhão em emendas de comissão, dentro do universo de projetos que totalizavam R$ 4,2 bilhões. Segundo a SRI, tais recursos estão distribuídos entre seis Ministérios: Turismo, com R$ 441 milhões empenhados; Cidades, com R$ 335,1 milhões; Saúde, com R$ 330,2 milhões; Esportes, com R$ 307,9 milhões; Integração, com R$ 278,2 milhões e Agricultura, com R$ 83,2 milhões.

O valor informado é ao empenho de parte das 5.449 emendas citadas no ofício subscrito por 17 líderes partidários – o qual foi derrubado pelo ministro Flávio Dino. Segundo o despacho assinado por Dino neste domingo, 29, o ofício dos líderes apresenta uma “nulidade insanável”, com “motivos determinantes falsos. O ministro ressaltou que o Poder Executivo está “definitivamente vedado a empenhar o que ali consta”.

No despacho assinado nesta quarta, 31, Dino oi categórico ao fazer o esclarecimento solicitado pela AGU. Apontou que são nulos os ofícios, tanto da Câmara como do Senado, que haviam indicado emendas de comissão apadrinhadas por parlamentares.

Publicidade

“Os referidos ofícios são nulos, o que, por óbvio, resulta na impossibilidade de que produzam efeitos jurídicos. Sendo assim, qualquer empenho de “emenda de comissão” que esteja neles indicada, a princípio, é nulo, independentemente da data em que o empenho tenha ocorrido. Em resumo: empenhos de “emendas de comissão” listadas nos ofícios realizados antes de 23 de dezembro de 2024 - nulos; empenhos de “emendas de comissão” listadas nos ofícios realizados após 23 de dezembro de 2024 - nulos”, frisou.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.