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Opinião|Não é fácil advogar

Os advogados precisam entender e identificar que possuem nas mãos um imenso poder. Poder de decisão, de assumir ou não riscos, identificar problemas, trazer soluções, estratégias, mas além de tudo isso, temos o poder de transformar. Somos nós, advogados, que damos voz e oportunidade àqueles que buscam por justiça ou são silenciados

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convidado
Por Giselle Vergal Lopes

A bem da verdade, historicamente, o dia 11 de agosto é a data na qual se celebra a criação dos primeiros cursos de Direito no Brasil em 1827, com a abertura das duas primeiras academias: a do Largo de São Francisco, no Estado de São Paulo, e outra em Olinda, Estado de Pernambuco. Antes disso, os pretendentes brasileiros que almejavam se aprimorar nas ciências jurídicas, deveriam se aventurar a cruzar o Oceano Atlântico e se candidatar perante a Universidade de Coimbra, em Portugal.

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Aos curiosos, recomendo a leitura do “projeto de regulamento” da lei dos cursos jurídicos (https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lim/lim.-11-08-1827.htm), que antecede a sua promulgação e é, praticamente, além de um “manual” com todas as diretrizes que deveriam ser aplicadas aos cursos de Direito, naquela época, uma verdadeira exposição de motivos, por meio da qual se justifica a necessidade que a sociedade brasileira observou, naquele momento histórico e cultural, de iniciar aqui uma nova cultura que fomentasse a instrução e capacitação de “homens hábeis” à carreira jurídica — o termo “homens hábeis” foi utilizado propositalmente, claro, e extraído do próprio estatuto aqui mencionado, assinado à época por Dom Pedro, no Palácio no Rio de Janeiro, em 11 de agosto de 1897, um vez que as mulheres somente tiveram o direito de ingressar nas universidades muitos anos depois (e, mesmo assim, somente representadas por seus maridos ou pais), mas esse assunto, como deve-se imaginar, merece tratamento adequado e em outra oportunidade.

Neste contexto histórico e político, absolutamente relevante ao Brasil e a toda a sociedade daquela época, a data emblemática também foi adotada por nós, advogados, como forma de lembrança, homenagem e comemoração, com sua intitulação como o “Dia do Advogado”, forma como conhecemos hoje o dia 11 de agosto.

A partir da compressão e do entendimento dessa construção do papel do advogado na sociedade, conclui-se que a nossa relevância e nossa atuação são indispensáveis à administração da Justiça no País, além de assumirmos, quando nos propomos a ocupar o cargo, o encargo de defender e garantir a aplicação correta das leis, das instituições, assegurar o cumprimento da ordem e dos princípios fundamentais.

Sem perder de vista este contexto — que é relevante para saber “quem somos” e “de onde viemos” — vamos tentar atualizar esse olhar?

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Não é novidade que hoje precisamos nos adaptar às mudanças cada vez mais velozes e transformações constantes a que somos submetidos, além de “enfrentar” o relacionamento humano e choque de, pelo menos, quatro gerações diferentes. Soma-se a isso o surgimento de muitas outras profissões, além do Direito, outras áreas, frentes de atuação, e outras profissões que já existiam e também se destacaram por sua relevância à sociedade atual.

Com isso, tenho refletido bastante sobre qual seria o (novo) espaço ou (novo) papel que nós, advogados, nos encaixamos.

Arrisco dizer que dentro do contexto atual da nossa sociedade, o enquadramento daqueles que exercem a advocacia e o papel do advogado dentro de qualquer situação que se submeterá a sua atuação, mudou. Isso para quem atua na esfera consultiva, preventiva ou contenciosa. Àqueles que saem da arquibancada e se arriscam a entrar em campo hoje, conseguem experimentar a necessidade deixar o individualismo um pouco de lado e se despojar da pretensão de que o conhecimento jurídico em si basta, uma vez que a capacitação técnica e a constante atualização, estudos e aprimoramento teórico do Direito já é um pressuposto da nossa profissão.

Necessário pensarmos e debatermos cada vez mais a quebra de alguns paradigmas e a necessidade de capacitação de advogados — em especial àqueles que ocupam cargos de gestão, liderança, relacionamento com clientes, equipes, parceiros etc. — em outras habilidades que, infelizmente, não nos são ensinadas na graduação, tampouco em quaisquer outros cursos voltados à área jurídica.

O desenvolvimento de habilidades comportamentais, por exemplo, é fundamental. Entender que nosso trabalho envolve relacionamentos humanos o tempo inteiro, interação com indivíduos totalmente diferentes entre si, cada um com suas complexidades, pretensões e enfrentamentos próprios, bem como que também nos enquadramos na mesma categoria dos “seres humanos” e, portanto, temos as mesmas particularidades, complexidades e fragilidades. Precisamos refletir e enxergar a relevância de estarmos sempre disponíveis a entender o outro e aprender com ele, complementar as nossas habilidades e adotar uma postura de um verdadeiro agente de transformação (porque, de fato, somos).

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Os advogados precisam entender e identificar que possuem nas mãos um imenso poder. Poder de decisão, de assumir ou não riscos, identificar problemas, trazer soluções, estratégias, mas além de tudo isso, temos o poder de transformar. Somos nós, advogados, que damos voz e oportunidade àqueles que buscam por justiça ou são silenciados.

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Muito embora eu ache linda a nossa profissão (aos que me conhecem já sabe disso), passados muitos anos com atuação exclusiva e dedicada à advocacia, hoje sei que não é fácil o “advogar”. Não é fácil saber que precisamos nos capacitar cada vez mais, aprender e aliar todas essas competências/habilidades, lidar com nosso lado pessoal, desenvolver capacidades emocionais e comportamentais entre outras diversas exigências que nos são apresentadas na prática e no decorrer dos anos de experiência.

Mas que nós nunca desistamos de defender o que é correto, de lutar contra qualquer forma de discriminação, buscar a responsabilização daqueles que ameaçam às liberdades e garantias fundamentais que foram conquistadas com tanta luta e sofrimento.

Por isso, neste mês de agosto, muito mais do que homenagear todos os meus colegas e aqueles futuros ou jovens advogados, quero lembrar a todos da importância que representamos à sociedade e o poder que temos de transformar. Transformar vidas, posicionamentos, engajar novos profissionais, colaborar de forma ativa com estratégias de negócios e, principalmente, transformar a figura dos advogados em um parceiro real, aquele que sabe e conhece dos anseios do outro, trata com cuidado das suas motivações e preocupações, enxerga o cliente e todas as partes envolvidas do negócio com sensibilidade e age com razoabilidade.

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Giselle Vergal Lopes
Sócia do escritório Viseu Advogados; especialista em Direito Processual Cível pela PUC-SP e em Direito Imobiliário pela Universidade Secovi-SP. Foto: Arquivo pessoal
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Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Estadão.

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