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Opinião|Não se aprendeu com Campos Salles

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convidado
Por José Renato Nalini*

Manoel Ferraz de Campos Salles nasceu em 13 de fevereiro de 1841 em Campinas. Seus pais: o tenente-coronel Francisco de Paula Salles e Ana Cândida Ferraz de Salles.

Manoel Ferraz de Campos Salles por Jonas de Barros Foto: Centro de Memória/Câmara Municipal de SP

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Vetusta linhagem, as origens remotas de sua família foram objeto de minucioso estudo de Leôncio do Amaral Gurgel, que escreveu “Genealogia do dr. Manoel Ferraz de Campos Salles”.

Desde cedo, Campos Salles demonstrava energia e combatividade. Era fogoso, rude na luta, pronto na réplica. Também sabia se divertir. Um trote nos “bichos” deu causa a um processo acadêmico. Colou grau em 10.12.1863 e foi para Campinas, onde se casou em 1865 com sua prima-irmã, Ana Gabriela de Campos Salles. Aos 26, foi eleito deputado à Assembleia Provincial. Em pleno fastígio do Império, que ganhara a guerra do Paraguai, torna-se fervoroso republicano. Eleito vereador da Câmara Municipal de Campinas em 1873, conviveu com o presidente da edilidade, o monarquista Barão de Três Rios.

Em 1881 é eleito deputado provincial e em 1885 chega como Deputado à Câmara do Rio. Em 1888, é deputado provincial paulista, ao lado de Prudente de Morais e Bernardino de Campos. Agonizava o Império e depois do 15 de novembro de 1889, Campos Salles é Ministro da Justiça do Governo Provisório. De 1892 a 1896, esteve no Senado Federal.

O Brasil enfrentava séria crise. Se a República surgiu de um golpe, sem sangue e sem a participação da cidadania, o traumatismo da mudança fez-se sentir. Politicalha desenfreada, motins populares, insegurança geral e espantosa crise econômico-financeira.

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Campos Salles percorre a Europa em 1894, publica “Cartas da Europa” e exalta o que ali viu. Invocou o exemplo da Suíça no ideal de um governo modesto. Nada de carruagens, nada de luxo, nem de grandeza, nem de aparato. O prestígio da autoridade, em todas as esferas, deve ser guardado pela incorruptibilidade dos homens públicos. A força moral advém da austera singeleza dos hábitos e na modéstia das ações.

Quem ouviu essa prédica? Quem se proporia a adotá-la, num país que exibe ostentação e cujo governo é perdulário no gasto dos suados tributos extraídos de uma cidadania sufocada por insuportável carga tributária?

Campos Salles foi eleito presidente do Estado de São Paulo em 1896. Sobre ele, dizia Lúcio de Mendonça: “o belo nome deste sólido e completo homem de bem, o nome puro deste caipira de São Paulo, que se elevara da honrada modéstia de uma abastada família de lavradores, aos mais elevados cimos da vida pública. Em plena maturidade, é, dos fundadores da República, um dos que mais robustos se conservam e a quem ainda mais vasto futuro parece destinado”.

E assim foi. Em 1898 sucedeu a Prudente de Morais. Atravessaria o século com garra, em tormentosa fase da vida brasileira. Na verdade, existiu alguma fase da República tupiniquim que não tenha sido tormentosa?

Antes de tomar posse, em março de 1898, volta à Europa, a fim de salvar a república da verdadeira falência. Fez tratativas junto aos banqueiros Rotschild, em Londres e aceitou o contrato do Funding Loan, espécie de moratória. Concretizar o plano de recuperação financeira ocupou todo o seu governo.

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Quatro anos terríveis, desligando-se da injunção partidária – o que até hoje os presidentes-reféns não conseguem fazer – e comprimiu sem piedade os gastos públicos. Aumentou os impostos, sem se comover com protestos. Sóbrio, honestíssimo, inflexível, na emergência de salvação pública, não podia ceder a interesses menores. Foi combatido, acusado como responsável pela situação do país, execrado pelas multidões. Sofreu a incompreensão, calúnia e ódio. Ao terminar seu calvário, aos 15 de novembro de 1902, foi vaiado e atiraram-lhe ovos e verdura podre.

Sereno, altivo e pobre, voltou a Campinas. Chegou a escrever “Da Propaganda à República”, publicada em 1908. Ainda foi senador e ministro do Brasil. Como às vezes acontece em nossa Pátria, viu-se justiçado e o povo queria que ele voltasse à Presidência da República. Teria razão Amiel, quando escreveu: “É quando se é desinteressado que se é mais forte, e o mundo cai aos pés daquele a quem não pode seduzir”.

Campos Salles faleceu repentinamente no Guarujá, aos 28 de junho de 1913.

*José Renato Nalini é reitor da Uniregistral, docente da pós-graduação da Uninove e secretário-geral da Academia Paulista de Letras

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