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Opinião|Nem tudo está perdido…

A realidade é inexorável e só existe uma solução: o limite. Limite para os nossos filhos e, mais do que tudo, para nós mesmos. É preciso resistir ao vício da dopamina gerada pelos “likes” das redes sociais, pelos infindáveis grupos de WhatsApp e tudo mais que nos mantém robotizadamente conectados

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convidado
Por Fernando Goldsztein

Os aparatos eletrônicos me encantam não é de hoje. Assim como todos que têm mais do que 35 anos de idade, acompanhei o mundo analógico se transformar em digital.

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São incontáveis os itens que migraram das nossas mesas e gavetas de trabalho – e estudo – para dentro da caixinha de vidro e aço chamada smartphone. Telefone, rádio, relógio, gravador, música, máquina fotográfica, cinema, agenda, bloco de notas, jornais, revistas, redes sociais, enfim, a lista parece não ter fim, tal qual a nossa dependência da tecnologia.

Gostemos ou não, passamos – em média – dois terços do nosso dia conectados. As crianças, por sua vez, cada vez correm menos, brincam menos, desenham menos. Subir em árvores, então, nem pensar… A realidade é inexorável e só existe uma solução: o limite. Limite para os nossos filhos e, mais do que tudo, para nós mesmos. É preciso resistir ao vício da dopamina gerada pelos “likes” das redes sociais, pelos infindáveis grupos de WhatsApp e tudo mais que nos mantém robotizadamente conectados.

Outro dia, assisti ao vídeo de lançamento do novo tablet da empresa líder do setor. O vídeo mostra uma prensa hidráulica gigante esmagando instrumentos musicais, potes de tintas, lápis, cadernos, livros, brinquedos, esculturas, entre outros objetos ligados ao lazer e às artes. Tudo é esmagado, transformando-se no (voilá!) tablet ultra-fino. Do ponto de vista publicitário, o vídeo é muito bem feito. Passa a mensagem de forma clara e muito contundente de que tudo que precisamos está contido naquele tablet. Parabéns à agência de propaganda que o produziu!

Entretanto, para surpresa da empresa, não houve uma boa repercussão. Isso porque a propaganda materializa o medo e a incerteza de que a tecnologia e a inteligência artificial vão acabar assumindo o controle das nossas vidas. Seria mesmo o princípio do fim das experiências ditas humanas? O fim das interações, emoções, percepções e pensamentos?

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Espero que consigamos resistir a tanta tentação. E que, para o bem da humanidade, as crianças de hoje – e as que estão por vir – nunca abram mão do ursinho de pelúcia, da boneca, da bola de futebol, do giz de cera, da tesoura e da cola.

Vale aproveitar também para registrar um episódio recente, pois, tal qual a moeda, tudo na vida tem um outro lado. Tive um problema de desconfiguração no meu tablet. Liguei para o 0800 do fabricante e fui rapidamente atendido por alguém de carne e osso – o que é raro nos dias de hoje. Foram necessárias duas sessões (de uma hora cada) para resolver o problema. O técnico do serviço de suporte foi muito educado, gentil e eficiente. A exeriência foi ótima.

Quem diria? A empresa que causa espanto com um comercial que esmaga todas as nossas referências do passado, é a mesma que atende de forma cordial e humana. Este fato alimentou a minha esperança de que, quem sabe, nem tudo esteja perdido.

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Fernando Goldsztein
Fundador The Medulloblastoma Initiative e conselheiro da Children’s National Foundation. Foto: Marcos Nagelstein/Estadão
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