Foto do(a) blog

Notícias e artigos do mundo do Direito: a rotina da Polícia, Ministério Público e Tribunais

‘O 01 sabe disso?, questionou tenente-coronel sobre carta golpista; ‘Sabe’, respondeu Mauro Cid

Relatório da Polícia Federal com 884 páginas sustenta que ex-presidente Jair Bolsonaro, o ‘01′, tinha ‘conhecimento e anuência’ da elaboração e disseminação de uma carta com pregação golpista assinada por oficiais do Exército; diálogos de ex-ajudante de ordens Mauro Cid levam à conclusão de que Bolsonaro ‘sabia’ de documento

PUBLICIDADE

Foto do author Pepita Ortega
Foto do author Fausto Macedo
Foto do author Marcelo Godoy
Foto do author Rayssa Motta
Atualização:

A Polícia Federal afirma que o ex-presidente Jair Bolsonaro tinha “conhecimento e anuência” sobre a confecção e disseminação de uma carta com teor golpista assinada por oficiais do Exército. A carta seria “uma estratégia para incitar os militares e pressionar o Comando do Exército a aderir a ruptura institucional”.

A informação surgiu a partir de um diálogo entre o tenente-coronel do Exército Sergio Ricardo Cavaliere de Medeiros e o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, no dia 26 de novembro de 2022, quando os militares ainda ajustavam o teor e a forma de divulgação da carta golpista.

“01 sabe disso?”, questionou Cavaliere. ‘Sabe’, respondeu Mauro Cid.

Trecho de diálogo apreendido na Tempus Veritatis Foto: Polícia Federal

PUBLICIDADE

O inquérito da Operação Contragolpe culminou no indiciamento de Bolsonaro e mais 36 investigados por golpe de Estado, abolição violenta do Estado de Direito e organização criminosa. Nesta terça, 26, o ministro Alexandre de Moraes enviou os autos para a Procuradoria-Geral da República.

Segundo a PF, os elementos de prova demonstram que os militares, com formação em Forças Especiais do Exército, reuniram-se no dia 28 de novembro de 2022, em Brasília, “com a finalidade de planejar e executar ações voltadas a incitar as Forças Armadas, recrudescer as manifestações que aconteciam em frente às instalações militares e pressionar o então comandante do Exército, general Freire Gomes e o Alto Comando, a aderirem ao Golpe de Estado”.

Publicidade

“Os integrantes da organização criminosa buscavam obter o suporte do braço armado do Estado para que o então presidente da República assinasse o decreto golpista, mantendo-se no poder, sem oposição dos poderes constituídos, especialmente do poder Judiciário”, assinala a PF no relatório final do inquérito da Operação Contragolpe, documento de 884 páginas.

A carta do golpe circulou nos quartéis sob o título ‘carta dos oficiais superiores ao comandante do Exército brasileiro’. Em outra frente os investigados atuaram para pressionar o então comandante militar do Nordeste, o então comandante militar do Sudeste, e o então comandante do Estado Maior do Exército.

A execução das ações foi definida em uma reunião no dia 28 de novembro de 2022 com coronéis.

“Os investigados, ao concluírem a reunião, estabeleceram as ações que deveriam adotar (ideias-força), especialmente no campo informacional com o fim de estabelecer uma relação de confiança entre o então comandante do Exército e o presidente Jair Bolsonaro, para garantir o êxito das ações que subverteriam o Estado Democrático de Direito”, aponta o relatório da PF.

Segundo o documento, os alvos da investigação “identificaram a necessidade de neutralizar o ministro Alexandre de Moraes, considerando o ‘ponto de gravidade’, a resistência, que poderia impedir a consumação do intento golpista”.

Publicidade

Em agosto, o Exército concluiu o inquérito sobre a carta, apontando os autores do documento. Foi verificada a participação de 12 coronéis, nove tenentes-coronéis, um major, três tenentes e um sargento na carta. Os responsáveis pela redação são os coroneis Alexandre Castilho Bitencourt da Silva e Anderson Lima de Moura Carlos Giovani Delevati Pasini e José Otávio Machado Rezo Cardoso. Outros 11 militares, mesmo com o nome na carta, deram explicações consideradas suficientes por seus superiores e, por isso, não sofreram nenhuma punição.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.