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Opinião | O Brasil estressado

O estresse, em si, não é algo definitivamente ruim. Também há muitos espectros de estresse e só chamamos assim os casos mais graves. Mas é uma reação absolutamente normal e necessária para a sobrevivência. É a própria natureza que cuida de responder a situações de mudança ou adaptação a novas situações

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convidado
Por José Renato Nalini

Construímos uma espécie de vida para nós que nos fragiliza. Somos requisitados ininterruptamente, para trabalhar, para nos locomover, para receber e transmitir mensagens. As redes sociais representam um vício que causa dependência superior à do álcool e do cigarro.

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A cobrança é tamanha, que a depressão e o estresse estão no nosso cardápio. Nunca houve crescimento tão evidente e célere de casos de anomalia mental. Alzheimer, demência, esquizofrenia, são hoje hipóteses presentes na vida de todos. Pensava-se que o intelectual estivesse liberado do mal de Alzheimer, pois manteria a consciência sempre atilada. Não é verdade. Há muito pensador, filósofo, professor e erudito que passa a apresentar sintomas preocupantes e caminha para uma situação aflitiva. Sofrem mais os familiares do que o próprio acometido. Às vezes, perder a razão é dar uma tranquilidade que o discernimento elimina.

No dia mundial da saúde mental, foi divulgado um relatório em que o Brasil praticamente vence o ranking do estresse. É um dos cinco países mais estressados do planeta.

Na nossa frente, apenas a Suécia, Turquia e Polônia. Uma surpresa: os “baby-boomers”, nascidos entre 1946 e 1964, são menos sujeitos a estresse do que os integrantes da “geração Z”, composta por quem nasceu entre 1995 e 2010.

O relatório também indicou que, no mundo inteiro, as mulheres apresentam mais episódios de estresse com impacto na rotina do que os homens. É que elas não se constrangem ao procurar auxílio psicoterapêutico, psicológico, psicanalítico ou psiquiátrico. Já os homens costumam evitar, tergiversar e fugir a qualquer consulta médica nessa área de comportamento, de problemas que possam lembrar fragilidade mental.

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A pesquisa foi online e contemplou quase vinte e cinco mil pessoas, de trinta e três países. A média dos participantes foi de dezesseis a setenta e quatro anos, em população urbana, com alto grau de educação e condições econômicas favoráveis, seres influenciadores de seus semelhantes.

Algumas curiosidades: quando se indagou aos pesquisados se, durante o último ano, eles se sentiram estressados a ponto de atrapalhar a doutrina, a resposta foi: 29% para homens, 37% para mulheres.

Ao serem inquiridos se o estresse deu a sensação de que não se conseguiria lidar com as coisas, os homens responderam afirmativamente num percentual de 27%, enquanto as mulheres chegaram a 34%.

Em relação a faltas no trabalho em virtude de estresse, a percentagem dos homens foi 17%, enquanto que as mulheres chegaram a 19%. Se o estresse desesperançou e levou ao desalento por mais de um dia, foram 23% os homens que admitiram essa condição e 30% de mulheres.

Quando se considerou apenas o ano de 2024, 29% dos brasileiros entrevistados afirmaram que o país trata a saúde mental e a saúde física com a mesma importância. Já 45% disseram que o foco está prioritariamente na saúde física e apenas 12% na saúde mental.

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O estresse, em si, não é algo definitivamente ruim. Também há muitos espectros de estresse e só chamamos assim os casos mais graves. Mas é uma reação absolutamente normal e necessária para a sobrevivência. É a própria natureza que cuida de responder a situações de mudança ou adaptação a novas situações. O estresse pode se considerado uma reação normal do organismo. O perigo é esse estresse converter-se num estágio crônico, aí sim uma questão patológica mais grave.

Para evitar o estresse crônico, é preciso diversificar atividades. Fazer hiatos para aquilo que alegre, reanime, reconforte. Cada um sabe como desanuviar a mente sob contínua e estafante pressão. Leitura, cinema, teatro? Artes manuais? Jardinagem? Observação de pássaros? Natação? Entregar-se à meditação, ioga, exercícios mentais que desviem a atenção daquilo que está a nos preocupar, para a constatação de que o mundo tem mais maravilhas - e gratuitas, - do que se pode imaginar.

Escrever é outro devaneio muito útil. Transmitir para o papel, ou para a tela do computador, os sentimentos que se embaralham na mente requisitada para tantas operações que podem parecer sem sentido, é um derivativo tranquilizador. Quem escreve preserva a lucidez e é capaz de transferir o seu estresse para o produto de sua escrita.

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José Renato Nalini
Reitor da Uniregistral, docente da pós-graduação da Uninove e secretário executivo das Mudanças Climáticas de São Paulo. Foto: Daniel Teixeira/Estadão
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