Em um mundo dividido, o equilíbrio é a bússola que poderá nos guiar para um futuro mais justo e democrático. Não considero o radicalismo como algo natural, mas, sim, induzido. Posso afirmar isso com convicção porque, nos últimos seis anos, como presidente da OAB/DF, fiz questão de promover o diálogo entre advogados e advogadas que se posicionavam como radicais – seja à esquerda, seja à direita. Coloquei-os na mesma mesa, incentivando o debate. E o que descobri? Que, no fundo, suas prioridades convergiam.
Independentemente das paixões políticas, notei que ambos estavam interessados em melhorar a qualidade de vida das pessoas impactadas pelas políticas da Ordem. E queriam fazer mais com menos recursos, alcançar eficiência e resultados práticos.
Identifiquei, portanto, que o radicalismo é frequentemente utilizado como uma ferramenta de simplificação excessiva de questões complexas, com o objetivo de mobilizar determinados grupos. Essa simplificação, no entanto, pode distorcer a realidade e limitar a compreensão dos problemas. Em contrapartida, a advocacia, no dia a dia, demonstra um pensamento mais equilibrado e humano, buscando pontes e diálogos construtivos. Ou seja, o ser humano, por natureza, busca pontos de conexão e ocorre que o pensamento em bloco é artificial e reducionista.
Não foi sem razão que, em quase todas as Seccionais da OAB no país, a situação venceu as eleições, assim como no Distrito Federal. Entendo que a advocacia escolheu o equilíbrio técnico e a postura moderada da Ordem para lidar com um momento político e social profundamente conturbado. Escolheu, majoritariamente, quem sabe dialogar, porque é o que permite construir pontes entre diferentes perspectivas, encontrar soluções consensuais e fortalecer a democracia.
Recordo que no período posterior à pandemia, fui reconduzido à presidência da OAB/DF com uma marca importante de digitalização da casa. Contudo, em minha opinião, a maior tecnologia que implantamos e que deixaremos como legado foi a institucionalização do diálogo para 100% das disputas. Minha experiência à frente da Seccional permite afirmar que um movimento mais amplo na sociedade brasileira, com a busca de soluções equilibradas e consensuais tem tudo para ganhar cada vez mais força, visando a superação do estado de crise em que nos encontramos.
Esse movimento é significativo. Historicamente, a advocacia tem sido a vanguarda da sociedade civil. O recado é claro e reforço: precisamos construir pontes capazes de atrair investimentos, fomentar oportunidades e alcançar a tão desejada paz social.
No entanto, notícias chocantes que apontam a tentativa de golpe militar e de assassinatos de líderes políticos em pleno 2024; outras que tratam do ativismo desmedido em algumas esferas do poder nos preocupam profundamente, porque justiça não se faz desrespeitando a lei. Não é por esses caminhos sombrios que manteremos em pé a nossa democracia. Isso é o que contribui para minar os seus próprios fundamentos.
Assim, tanto internamente, quanto no cenário nacional, a Ordem dos Advogados do Brasil, especialmente a Seccional do Distrito Federal, deve estar pronta para seguir contribuindo mais em prol do equilíbrio. Devemos refletir sobre uma atuação firme da OAB como uma voz moderada e técnica no centro dos debates nacionais.
Esse papel não é apenas da advocacia. Ressalto que a população brasileira tem um lugar fundamental nesse processo, pois é chegada a hora de nos afastarmos dos extremos, de rejeitarmos o discurso fácil do radicalismo e abraçarmos o diálogo como solução. Algo que temos de fazer como nação.
O equilíbrio pode não ser tão atraente quanto os discursos inflamados e polarizados, mas é o rumo capaz de construir um futuro de paz e prosperidade.
Como advogado, presidente da OAB/DF e eleito Conselheiro Federal para o próximo triênio, reafirmo meu compromisso com esses valores. Juntos, podemos superar mais esse triste capítulo da história e virar a página para seguir pavimentando o caminho de uma democracia sólida, inclusiva e verdadeiramente justa.
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