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O mês da Consciência Negra chegou: o que sua empresa fez nos meses anteriores?

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Por Deives Rezende Filho e José Vitor Capello Rezende
Atualização:

Deives Rezende Filho e José Vitor Capello Rezende. FOTO: DIVULGAÇÃO Foto: Estadão

No mês da Consciência Negra, as empresas utilizam a data como uma oportunidade de falar sobre raça, um tema tão caro e relevante - especialmente no Brasil, que é composto majoritariamente pela população negra (56%). Mas, precisamos avançar o debate para além de novembro.

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No cenário geral do mercado de trabalho brasileiro, os dados oficiais apontam que dos 13,9 milhões de desempregados no Brasil, 72,9% do total são pessoas negras. Esse contexto foi agravado durante a pandemia; um levantamento feito pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) indica que das oito milhões de pessoas que perderam o emprego entre o primeiro e o segundo trimestre de 2020, 71% foram homens e mulheres negras, o que equivale a 6,3 milhões. Caso a proporção fosse a mesma da população, esse número deveria ser de 4,9 milhões de pessoas.

Muito mais do que apenas falar sobre termos que não devem ser utilizados e/ou condutas que não são toleradas (o que também é, de fato, importante), é preciso rever as políticas de contratação, quem são as pessoas promovidas dentro da estrutura organizacional, a retenção de colaboradoras e colaboradores negros e a saúde mental daqueles que ali ocupam.

Uma pesquisa realizada pela Vagas.com mostra que 47% dos trabalhadores pretos e pardos ocupam posições operacionais e 11,4% posições técnicas, dos quais apenas 0,7% entre os negros detêm o cargo de diretoria, supervisão e coordenação, de alta e média gestão.

A falta de lideranças negras dentro das empresas faz com que o avanço das pautas raciais nas organizações seja mais lento. As contratações, quando focadas apenas em cargos de entrada como jovem aprendiz, estágio e trainee, por exemplo, têm menor impacto na estrutura e na cultura organizacional, tendo em vista que a tomada de decisão continuará na mão de um perfil hegemônico de líderes executivos.

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Fazer este movimento também por meio das lideranças é essencial. Quando acontece de forma concentrada na base empresarial, parece mais fácil e praticável, mas a transformação na alta liderança é vital por dois motivos: o primeiro seria a mudança mais acelerada, afinal esperar que os estagiários assumam cargos de alta gestão leva um tempo grande e natural; o segundo motivo seria o espelhamento, para que todas e todos vejam que é possível e que as pessoas negras da empresa percebam que a possibilidade de crescimento dentro da organização é uma realidade palpável e não apenas uma esperança ou sonho.

Quando falamos sobre a implementação de uma cultura antirracista dentro das organizações, nenhum dos processos citados acima é excludente. Pelo contrário, todos eles se complementam. É necessário treinar colaboradores sobre a pauta racial, orientar sobre condutas, assim como incentivar as pessoas colaboradoras a processos de denúncia seguros; ao mesmo tempo, é preciso olhar diariamente para métricas de contratação em prol da equidade nos mais diversos níveis hierárquicos da empresa. Esse é um processo que vai além do mês de novembro.

*Deives Rezende Filho é fundador e CEO da Condurú Consultoria e especialista em ética, diversidade e inclusão. Escolhido pelo Forbes 2021 como uma das 10 pessoas com +50 que se reinventaram na carreira

*José Vitor Capello Rezende é sócio, psicólogo e analista de Projetos na Condurú Consultoria

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