Atualizada às 12h20 com nota dos advogados
A Polícia Civil de São Paulo começou a ouvir os depoimentos dos ex-pacientes que prestaram queixa contra o cirurgião plástico Alan Landecker alegando terem sofrido deformações no nariz e problemas de saúde após rinoplastia. Novos boletins de ocorrência foram registrados e a polícia apura seis inquéritos instaurados. Ao todo, dez registros foram feitos no 15º Distrito Policial (DP), segundo a Polícia Civil.
A estilista e empresária Juliana Castro de Macedo, 29, decidiu fazer um boletim de ocorrência após ver os relatos de outros casos na mídia. Ela fez a primeira cirurgia com Landecker em janeiro deste ano para consertar um desvio de septo e reparar questões estéticas, teve uma infecção e precisou realizar outras quatro. Dos cinco procedimentos cirúrgicos, dois foram feitos no Hospital São Luiz do Morumbi e os outros três, na clínica do cirurgião, segundo a empresária. "Até começar a aparecer as reportagens, ele falava que nunca tinha visto isso em todo o tempo de carreira dele. Meu nariz abria completamente, eu tinha necrose e cartilagem exposta", conta.
Foram 100 dias tomando antibióticos e seguindo o tratamento recomendado por Landecker, que Juliana diz ter seguido até o último mês de outubro. Ainda assim, continua sem olfato e sem conseguir respirar bem. "Eu perdi quase completamente meu olfato, passei isso para ele diversas vezes e ele não deu a menor bola. O mínimo que meu nariz deveria fazer é sentir cheiro e respirar", relembra.
A assessora de imprensa Paula Oliveira, 38, uma das ex-pacientes que prestou queixa contra o cirurgião, afirma que 15 pessoas procuraram quem já havia denunciado Alan com relatos semelhantes. Um grupo no WhatsApp chamado 'Pacientes do Alan', que reunia, até o último dia 6, 17 ex-pacientes que afirmam ter sofrido danos decorrentes do procedimento estético, hoje conta com 26 membros.
"Ainda tem a turma de pacientes que se sentem ameaçados pelo Alan, estão ali no grupo para trocar informação e ter suporte psicológico, mas preferem não entrar na briga", afirma a assessora. Paula fez a primeira cirurgia em dezembro de 2020 e, após os procedimentos, perdeu o olfato, não respira normalmente por uma das narinas e sofreu deformações estéticas no nariz.
No caso de Paula, um mês após a cirurgia os pontos começaram a abrir e a cartilagem do nariz caiu. No mês seguinte foi comunicada que não poderia mudar para os Estados Unidos para assumir uma vaga de emprego pois estava com infecção e precisaria passar por nova cirurgia. "Quando fiz o boletim pensei: 'a gente vai pra luta'. A gente tem direitos e vai lutar por eles", relembra.
A assessora diz ter investigado as datas dos casos relacionados a infecções com pacientes do cirurgião. "Desse surto de infecção, o primeiro caso foi em junho de 2020, minha cirurgia foi em dezembro de 2020, já haviam vários casos e mesmo assim ele não comentou", diz.
Para Paula, a omissão do cirurgião tirou o direito de os pacientes procurarem outros profissionais - e, em seu caso, de ter um plano de saúde para tratar as sequelas. "Isso fez com que a gente ficasse se culpando. Foi um ano da minha vida parado", pontua. Ela estima que seu investimento em saúde, após as cirurgias, chegou na casa dos R$ 100 mil.
Após as denúncias, o cirurgião foi afastado de suas atividades nos hospitais Vila Nova Star, Sírio-Libanês e Israelita Albert Einstein, onde realizava cirurgias. O Ministério Público de São Paulo e o Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp) também foram acionados para investigar os casos.
COM A PALAVRA, OS ADVOGADOS DANIEL BIALSKI E FERNANDO LOTTENBERG, QUE REPRESENTAM O CIRURGIÃO
"O Dr. Alan Landecker nunca realizou procedimentos cirúrgicos em sua clínica: todos eles foram feitos nos centros cirúrgicos de hospitais de primeira linha e o profissional sempre atendeu com diligência seus pacientes.
É incomum este surto de infecções que atingiu alguns pacientes do Dr. Alan Landecker. Não há provas de que o Dr. Alan tenha deixado de praticar ou praticado algum ato que tenha dado origem ou seja a causa das infecções, não havendo nexo causal destas com o atendimento prestado, antes, durante ou depois dos procedimentos cirúrgicos.
A conclusão das investigações demonstrará que não houve negligência, imperícia ou imprudência no caso."
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