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Opinião | O que fazer com o lixo?

Chamam-se hoje ‘resíduos sólidos’ aquilo que se chamava simplesmente ‘lixo’. Com razão, porque, na cultura ainda negligenciada no Brasil da logística reversa e da economia circular, nem sempre lixo é lixo. Ou seja, quase tudo é valioso e pode voltar à cadeia da produtividade, hipótese em que todos sairiam ganhando

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convidado
Por José Renato Nalini

Os três vilões que emitem dióxido de carbono e outros gases venenosos causadores do efeito-estufa em São Paulo estão num ranking indesejável para a saúde da população: transportes, 60%, energia estacionária, 31% e resíduos sólidos, 9%.

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Os dois primeiros oferecem dificuldades que o município, sozinho, nem sempre consegue superar. Os assuntos são de competência federal e isso tolhe o Executivo local de tratá-los com o necessário rigor. Já o terceiro é tema tipicamente municipal.

Chamam-se hoje “resíduos sólidos” aquilo que se chamava simplesmente “lixo”. Com razão, porque na cultura ainda negligenciada no Brasil da logística reversa e da economia circular, nem sempre lixo é lixo. Ou seja, quase tudo é valioso e pode voltar à cadeia da produtividade, hipótese em que todos sairiam ganhando: a natureza, a cadeia que vive da exploração desses resíduos e o Erário, que não é senão a soma da contribuição de todos os munícipes.

É preocupante verificar o que o cidadão paulistano gasta com a varrição das ruas e a coleta dos resíduos sólidos. Em recente e valiosa contribuição para o encaminhamento do tema, o cientista Professor José Goldemberg encaminhou à Prefeitura um capítulo de sugestões sobre os procedimentos referentes à coleta e à destinação de resíduos na capital.

Enfatizou os custos dessa empreitada no Brasil. Ressaltou “que o impacto das falhas na gestão de resíduos no Brasil, quando somados os custos ambientais e climáticos da poluição com os danos relacionados à biodiversidade e à saúde humana, foi da ordem de R$ 97 bilhões em 2020, que devem ser adicionados aos R$ 30,5 bilhões de despesas diretas de coleta, de transporte, de triagem e de aterramento, totalizando mais de R$ 127 bilhões”. Salienta o respeitado ex-Ministro da Educação e ex-Secretário do Meio Ambiente que, “se esse modelo for mantido, em 2050 serão respectivamente R$ 135,9 bilhões e R$ 42,6 bilhões, representando quase R$ 180 bilhões”.

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O presente momento é o da prorrogação da concessão da coleta e destinação dos resíduos por mais vinte anos, com aval do Tribunal de Contas do Município e observância de uma série de recomendações. Daí a oportunidade de formalizar sugestões colhidas numa reunião do Conselho de Sustentabilidade da Fecomércio, que propôs à Municipalidade: a) destacar no carnê do IPTU o custo da coleta e destinação de resíduos, a fim de que os munícipes e as empresas saibam o real dispêndio com esse serviço. B) Beneficia, por meio da diminuição da taxa relativa a essa atividade, o cidadão e o empresário que fizerem a triagem dos recicláveis para descarte e participarem da coleta seletiva/reciclagem e de sistemas de logística reversa. É uma forma de aumentar a produtividade das centrais mecanizadas, gerar renda para as cooperativas e melhorar os índices de reciclagem e, assim, contribuir para a implementação da economia circular no município e para a redução da emissão de gases de efeito estufa, vez que haverá menos caminhões transportando os resíduos até os distantes aterros sanitários.

De fato, a reciclagem ainda é um projeto que fica a dever à população paulistana. Embora todos os cem distritos municipais sejam atendidos pela coleta seletiva, há vinte e quatro por cento das vias públicas ainda não cobertas por esse serviço. É que são comunidades ou favelas nas quais a ocupação desordenada do território não permite que os caminhões da coleta adentrem. Com isso, boa parte dos resíduos é arremessada na via pública. De onde partem para entupir bueiros e contaminar córregos.

As outras sugestões do Professor Goldemberg são: c) considerar o tratamento térmico de Resíduos Sólidos Urbanos – RSU como opção tecnológica eficiente para a destinação ambientalmente adequada daqueles gerados na cidade e d) instituir a educação ambiental permanente, seja por meio do aumento da difusão nas redes sociais do “Recicla Sampa”, que desempenha importante papel de orientação, seja pela intensificação da abordagem desse tema nos currículos escolares.

É uma contribuição a mais que esse notável cientista e homem público oferece para o enfrentamento de um dos dramas paulistanos. A cuja consecução, é necessária a adesão da Academia, do empresariado, do Terceiro Setor e de toda a sociedade civil bandeirante.

O que fazer com a excessiva produção de lixo em São Paulo? Quem tiver mais alguma ideia, a municipalidade agradece a colaboração.

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José Renato Nalini
Reitor da Uniregistral, docente da pós-graduação da Uninove e secretário executivo das Mudanças Climáticas de São Paulo. Foto: Alex Silva/Estadão
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