Atualizada às 19h21
A empreiteira OAS pagou durante cinco anos pelo aluguel de dez guarda-móveis usados para armazenar parte da mudança do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva quando ele deixou o Palácio do Planalto no segundo mandato. A empreiteira desembolsou entre janeiro de 2011 a janeiro de 2016, R$ 1,3 milhão pelos contêineres, ao custo mensal de R$ 22.536,84 cada.
O contrato com a OAS foi um dos motivos que levaram à Justiça a autorizar mandado de condução coercitiva cumprido ontem pela Polícia Federal contra Lula. Toda negociação com a transportadora Granero foi intermediada pelo presidente do Instituto Lula, Paulo Okamotto, que indicou a OAS como pagante com o argumento de que a empreiteira é uma "apoiadora do Instituto Lula."
A mudança que ficou armazenada nos contêineres foi levada de Brasília para São Paulo pela transportadora Três Poderes, do grupo Granero. Várias empresas foram contratadas em 2011 para levar os pertences de Lula quando ele deixou o segundo mandato. Os objetos ficaram nos guarda-volumes até janeiro deste ano quando foram retirados por caminhões do sindicato dos metalúrgicos do ABC. Os investigadores da Operação Lava Jato tentam descobrir o destino da carga. Em e-mail apresentado pela Granero para a Lava Jato, Okamotto indica Alexandre Antonio da Silva, do sindicato do ABC, como seu procurador juntamente à empresa de armazenagem.
Para investigadores da Operação Lava Jato, os fatos demonstram "fortes indícios de pagamentos dissimulados" pela OAS em favor do ex-presidente Lula. Isso porque o contrato se destinava a "armazenagem de materiais de escritório e mobiliário corporativo de propriedade da construtora OAS Ltda", mas na verdade os guarda-móveis atendiam a Lula.
A OAS também pagou a cozinha de um sítio em Atibaia (SP) freqüentado pelo ex-presidente Lula e mobiliário de um tríplex no Guarujá que pertenceria ao petista.
Em nota, a Granero informou que os contêineres abrigaram o acervo museológico do ex-presidente Lula e que ao procurar a empresa, em 2011, Okamotto disse que a armazenagem seria "por um curto período" e paga pela "apoiadora OAS". O "curto período" durou cinco anos, até o dia 19 de janeiro de 2016, quando o acervo foi retirado por "transportadora contratada por Okamotto". A OAS não respondeu aos questionamentos da reportagem.
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