Após confiscar os celulares de empresários bolsonaristas durante operação nesta terça-feira, 23, sob suspeita de defenderem um golpe de Estado em caso de vitória do ex-presidente Lula nas eleições 2022, investigadores avaliam que a ofensiva pode ter reflexo sobre a organização de eventuais 'atos golpistas' no feriado de 7 de Setembro. Eles entendem que 'ficou mais difícil' o financiamento para movimentos radicais.
Na operação da PF, foram recolhidos aparelhos de oito empresários que apoiam o presidente Jair Bolsonaro, por ordem do ministro Alexandre de Moraes, a pedido da própria Polícia Federal. A decisão do ministro, para os investigadores, pode provocar um impacto indireto sobre possíveis iniciativas contra a democracia no 7 de Setembro.
O relator do inquérito das milícias digitais também decretou o bloqueio de contas dos empresários. Alexandre suspendeu perfis nas redes sociais e quebrou o sigilo bancário e telemático (de e-mails) dos empresários. As medidas foram tomadas após o portal Metrópoles revelar mensagens em que eles estariam defendendo um golpe.
A PF vai agora cruzar os dados obtidos nas diligências com informações sobre o financiamento de atos no 7 de Setembro, tanto os ocorridos em 2021, quanto os previstos para o próximo feriado da Independência.
No ano passado, diante do receio de atos antidemocráticos no 7 de Setembro, Alexandre adotou estratégia semelhante à que decretou agora. Na ocasião, a pedido da Procuradoria-Geral da República, ele bloqueou contas de bolsonaristas sob suspeita de ligação com movimentos radicais.
Em um primeiro momento, o ministro sustou arrecadação para o ato que era planejado para o 7 de Setembro. Depois, às vésperas do feriado, proibiu até saques de contas bancárias de entidades sob suspeita de financiarem as manifestações de ataque à democracia e às instituições.
Também foram embargadas 'diversas chaves PIX e contas bancárias' ligadas a pessoas supostamente envolvidas no financiamento dos atos. Na época, o ministro também decretou a prisão de investigados sob suspeita de 'incitação à prática de atos violentos e ameaçadores contra a democracia'.
Entre os alvos da ordem de Alexandre estava o caminhoneiro Marcos Antônio Pereira Gomes, o 'Zé Trovão'.
Antes da operação desta terça-feira, 23, Alexandre já havia tomado medidas que são consideradas por investigadores como um claro recado de que não serão toleradas ameaças no 7 de Setembro deste ano e que grupos de extremistas estão sendo monitorados.
Em meio à tensão que cerca este 7 de Setembro, Alexandre de Moraes decretou, ainda em julho, a prisão de Ivan Rejane Fonte Boa Pinto - responsável por vídeos em que diz que vai 'invadir' e 'destituir' a corte máxima, 'pendurar os ministros de cabeça pra baixo', além de ameaçar o ex-presidente Lula e outros petistas.
Ivan Rejane é alvo de um outro braço do inquérito das milícias digitais. No bojo de tal apuração, a PF tem 15 dias para identificar todos os 159 integrantes de um grupo de Telegram criado por Ivan Rejane. Os investigadores ainda vão analisar o teor de mensagens trocadas no grupo 'Caçadores de ratos do STF'.
O inquérito das milícias digitais, uma das investigações que preocupa o Planalto e atinge bolsonaristas, nasceu do inquérito dos atos antidemocráticos. Tal investigação remonta de abril de 2020 e acabou arquivada em julho de 2021. Na ocasião do arquivamento, Alexandre de Moraes determinou a abertura de novas frentes de apuração conexas, resultando no inquérito sobre suposta organização criminosa, 'de forte atuação digital, com a nítida finalidade de atentar contra a Democracia e o Estado de Direito'.
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