No século XXI, os celulares tornaram-se onipresentes em nossas vidas. Em muitos aspectos, eles ajudam a iniciar e manter relacionamentos: proporcionam o encontro de pessoas que têm os mesmos gostos e objetivos, por exemplo, além de permitir que as pessoas olhem nos olhos de familiares e amigos que estão longe e se conectam, independente da distância. No entanto, devemos refletir sobre como este aparelho tecnológico afeta nossas relações interpessoais e, em particular, nossas relações amorosas e matrimoniais.
O termo “phubbing”, que é quando alguém no meio de uma conversa continua checando seu telefone ou respondendo mensagens, é cada vez mais comum. O que pode parecer uma atividade inofensiva tem um impacto real nos relacionamentos, diminuindo a qualidade das interações pessoais. Estudos apontam que, enquanto os celulares permitem uma conexão fácil, também podem interferir nas conversas cara a cara, causando ressentimento e isolamento emocional.
Os casamentos, em especial, estão enfrentando desafios com o uso excessivo de tecnologia. Em um ambiente onde o sono já é comprometido pelos dispositivos eletrônicos, a presença da televisão e dos celulares no quarto do casal só piora a situação. Após um longo dia de atividades esgotantes, o casal se vê incapaz de se reconectar, perdendo momentos de intimidade e diálogo, essenciais para um bom relacionamento. Entretanto, um quarto livre de telas pode transformar-se em um refúgio para conversas essenciais para sustentar uma convivência saudável.
Estudos indicam que o uso excessivo de smartphones está associado a uma menor satisfação nos relacionamentos. Uma pesquisa da Kaspersky Lab revelou que 55% dos casais já tiveram discussões devido ao uso excessivo desses dispositivos pelos parceiros. Além disso, 51% dos entrevistados relataram desentendimentos semelhantes durante momentos de convivência, como nas refeições.
Além disso, o estudo indica que a distração constante com os celulares está reduzindo significativamente as chances de os casais se considerarem felizes e conectados no casamento. Com base na minha experiência clínica, posso afirmar que a indisponibilidade emocional e a falta de resposta às necessidades do parceiro, resultantes do uso excessivo do celular, causam um declínio na intimidade, afeto e experiências compartilhadas.
A conexão emocional entre parceiros está em jogo, à medida que o uso incessante de celulares cria barreiras invisíveis. Com isso, surgem conflitos não resolvidos, discussões importantes e um declínio na qualidade das interações, que são apenas alguns dos riscos que a dependência tecnológica traz aos relacionamentos matrimoniais. Em muitos casos, essa realidade exacerba problemas já existentes, aumentando o risco percebido de divórcio.
Saúde mental
Tão preocupante como a falta de conexão no relacionamento amoroso é o impacto na saúde mental dos indivíduos envolvidos. O vício em smartphones pode dificultar a manutenção de relacionamentos e atividades sociais, bem como causar problemas de alimentação irregular e distúrbios do sono. Portanto, a convivência com a tecnologia exige um equilíbrio difícil de alcançar, mas absolutamente necessário.
A busca por equilíbrio é uma jornada que muitos casais estão trilhando juntos. Estabelecer limites para o tempo de tela, especialmente antes de dormir, e criar momentos livres de celular para fomentar a conexão são passos essenciais. O uso consciente da tecnologia pode permitir que casais mantenham contato durante o dia sem excessos, favorecendo a qualidade do tempo passado juntos em vez da quantidade.
A chave está em encontrar um uso equilibrado e consciente da tecnologia, priorizando momentos de conexão real e intimidade entre os parceiros. A reflexão sobre nosso uso diário dos celulares pode ser o primeiro passo para melhorar a qualidade das nossas interações e garantir a saúde dos relacionamentos em um mundo cada vez mais digital.