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Opinião | Paz, polícia e violência

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convidado
Por Maria Tereza Aina Sadek

Nesta semana, a Polícia Federal promove um curso sobre o significado da paz e a educação para a não violência. A programação tem por objetivo disseminar a cultura da paz, com base nos ensinamentos de Pierre Weil (1924-2008). O educador e psicólogo francês fundamenta seus argumentos a partir de três níveis: a paz consigo mesmo; a paz com os outros; a paz com a natureza.

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Trata-se de iniciativa inédita, com potencial de provocar discussões e questionamentos sobre valores predominantes na sociedade e na corporação. Em tempos em que a violência tem se propagado e que vários ambientes são dominados por radicalismos e intolerância, a temática ganha extrema relevância. Esse tipo de ação pedagógica é ainda mais significativo por se desenvolver na Academia da Polícia Federal.

A instituição, como se sabe, tem legitimidade para o uso da violência, da força estatal. Essa legitimidade não implica o uso ilimitado da violência e menos ainda a associação entre polícia e violência.

É necessário esclarecer que a Polícia Federal, que se tornou mais conhecida a partir do ‘mensalão’ e, posteriormente, com a operação ‘lava jato’, tem funções próprias, distinguindo-se da Polícia Militar e da Polícia Civil.

Mas a população, especialmente os grupos de menor renda e nível educacional, usa o termo ‘polícia’ de forma genérica. A polícia que a maior parte conhece é a que está nas ruas e que, com frequência, usa a violência de forma discriminatória, contra pobres e negros.

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Cursos como o agora patrocinado pela Academia de Polícia Federal buscam apoiar seus integrantes, valorizando sua atuação, considerando os riscos a que estão sujeitos e, sobretudo, levando em consideração que a agressividade e/ou a violência podem ser fatores de risco, levando a doenças mentais e até ao suicídio (são conhecidas as altas taxa dessas ocorrências entre policiais).

A rigor, eventos dessa natureza têm impactos não apenas entre os servidores, mas também junto à população em geral, cada vez mais crítica da violência estatal.

A despeito dessas vantagens, ocorreram reações por parte de alguns integrantes da instituição a disseminação de fake news, afirmando, de forma jocosa, que a Academia iria fornecer ‘curso zen’ e de meditação!

Tais manifestações revelam o quanto valores retrógrados, não republicanos, estão arraigados e como é difícil a mudança de paradigmas. O policial ‘brucutu’, que encontra no uso da violência sua identidade, resiste a buscar na cultura da paz o alicerce de uma polícia cidadã e democrática.

Para a construção de um país menos violento e pacificado, o aperfeiçoamento da prestação de serviços buscado pela Polícia Federal poderia ser fonte de inspiração para as demais polícias e para a sociedade.

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Vivemos tempos sombrios, onde as piores pessoas perderam o medo e as melhores perderam a esperança” (citação adaptada de Hannah Arendt)

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Maria Tereza Aina Sadek
Graduada em Ciências Sociais, possui mestrado em Ciência Sociais pela PUC-SP e doutorado em Ciência Política pela Universidade de São Paulo. Tem pós-doutorado na Universidade de Londres, na Universidade da Califórnia e na USP. Professora do Departamento de Ciência Política da USP
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