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Pela saúde mental e emocional dos professores agora

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Por Mariana Arantes
Atualização:
Mariana Arantes. FOTO: DIVULGAÇÃO Foto: Estadão

Como a escola invadiu a rotina doméstica, muitos de nós sentimos dificuldades de cuidar dos próprios filhos na pandemia, quem dirá ensinar a eles coisas novas e sem o apelo dos jogos eletrônicos e dos vídeos com recursos de edição fascinantes. Então, ao final de um ano letivo inteiro e mais um semestre atípico na Educação, quase toda mãe, pai, avó, avô, tio, tia, já perguntou a si mesmo: "Como é que a professora consegue?" E até desabafou nas redes sociais: - "O que ela faz para essa criança prestar atenção na aula? Comigo não fica nem dez minutos!"

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Sem querer comparar com as suas dores nesta pandemia, caro leitor, obviamente também muito grandes, eu gostaria de lhe sugerir mais algumas perguntas sobre a professora dos seus filhos que, se você não fez, ainda dá tempo de fazer já que este pesadelo não acabou. São perguntas que, embora não pareçam à primeira vista, também têm muito impacto sobre a vida das nossas crianças.

Começando pela realidade profissional da docência: Quanto a professora ganha por mês? Ela recebe hora extra preparando aulas fora do horário da escola? Quanto tempo a professora ou o professor leva na preparação de cada aula? O que mudou nas aulas remotas? O que os professores tiveram que aprender de novo? Eles têm mais de um celular ou tablet disponível em casa? Quem paga a internet da casa da professora nestes tempos de pandemia? A escola emprestou algum computador para ela poder usar nas aulas? Em qual horário ela fez cursos de youtuber para tornar a aula mais atraente?  Como se sente quando ninguém liga a câmera? Será que a tela trava porque a internet dela é lenta ou o computador já está velho? Por que ela não aprendeu antes sobre metodologias ativas e ensino híbrido? De onde ela tira esses joguinhos que ensinam língua portuguesa, ciências e até matemática?

Os professores, obviamente, também têm uma vida pessoal que foi profundamente afetada pela pandemia. Então, cabem estas perguntas: Com quem a professora deixou os próprios filhos enquanto dava aula para os nossos filhos? Ela perdeu alguém da família? Teve de adiar o casamento por causa da pandemia ou se separou porque percebeu que o relacionamento estava se sustentando na pouca convivência? Quantas horas dorme por noite? Ela está cuidando dos pais idosos ou doentes? Quanto tempo ela passou sem visitar a própria família? Ela já ficou angustiada achando que estava com Covid-19? Como a professora faz quando alguém toca a campainha e ela está dando aulas?  Ela sente a vista cansada de tanto usar o celular por várias horas por dia? Quem faz o almoço se ela está dando aulas até meio-dia? Dá tempo de fazer a comida e lavar a louça antes de iniciar o turno da tarde? O que ela faz quando os filhos choram querendo atenção no meio da explicação? Ela usa o horário do intervalo ou recreio para tomar um café, ir ao banheiro, fazer um lanche, dar atenção aos próprios filhos, ajeitar a casa, adiantar o almoço ou checar se os exercícios seguintes estão todos bem? Ela já deu aulas com a parte de baixo do pijama porque acordou tão atrasada que não deu tempo nem de se trocar? Por que ela não responde às mensagens de whatsapp?

Para terminar a lista de sugestões, vamos pensar na saúde mental dessa professora, a quem nós, paradoxalmente, enxergamos como muito importante na vida dos nossos filhos, mas ao mesmo tempo, invisibilizamos seu modo de vida: Ela sofre de crises de ansiedade? Tem depressão? Ela se sentiu menos produtiva na pandemia? Passou a tomar remédio controlado? Tem tempo para ir ao médico? Sente cansaço mental? Está com dificuldades de concentração? Sente o peito apertar por causa da angústia de querer dar aulas presenciais porque sabe que são melhores para as crianças, mas não se sente segura?  Ela já fez exames clínicos para descobrir por qual razão tem tantas dores de cabeça?

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Como a pandemia não acabou, faça essas perguntas para as professoras e professores dos seus filhos. Perceba o tamanho da mudança pela qual a Educação está passando e como todos os educadores, sem exceção, estão precisando de ajuda, de acolhimento, de suporte emocional e de muito apoio para resgatar o orgulho de ser professora, de ser professor. O Portal Educação Emocional, que é uma instituição de impacto social alinhada aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU de Educação de Qualidade e Saúde e Bem-Estar e agora está em fase de aceleração no Programa Mulheres Inovadoras 2021 da Finep, foi fundando em 2018 com essa intenção. Com o apoio da Universidade Federal de Pernambuco, do Instituto de Formação Humana e outras entidades civis, implantamos ações para humanizar os processos de ensino e aprendizagem por meio de cursos, palestras e trilhas de aprendizagem. Também idealizamos o Programa de Apoio Emocional de Escola Pública para cuidar dos professores, hoje impactando cerca de 30 mil educadores no país, especialmente no Nordeste. E, esse ano, fizemos uma campanha de #protagonismodocente para dar visibilidade à mudança de vida dos educadores na pandemia.

Não é exagero temer pelo futuro da Educação do Brasil. Converse com a professora do seu filho a partir desse olhar ampliado e mais humanizado e verá o quão preocupante é a situação que afeta não só a eles, mas a todos nós.  Ajude a cuidar da saúde emocional da professora do seu filho hoje, nem que seja para você ser o(a) beneficiário(a) final disso tudo também.

*Mariana Arantes, doutora em Educação, pesquisadora na Universidade Federal de Pernambuco e  diretora do Portal Educação Emocional

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