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PF prende advogado que recebeu R$ 400 mil do PCC para influenciar eleições municipais em São Paulo

Ahmed Hassan Saleh, o Mude, foi preso nesta terça-feira, 17, na Operação Tacitus; ele teria recebido dinheiro do alto escalão da facção, segundo investigação; defesa diz que prisão é arbitrária

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Atualização:

Preso nesta terça-feira, 17, na Operação Tacitus, o advogado Ahmed Hassan Saleh, o Mude, teria recebido R$ 400 mil do alto escalão do Primeiro Comando da Capital (PCC) para influenciar as eleições municipais em São Paulo, segundo o Ministério Público do Estado.

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A defesa disse ter recebido com “imensa surpresa a notícia” e informou que está tomando as medidas judiciais cabíveis para “revogar a ilegal prisão temporária” (leia a íntegra ao final da matéria)

A informação sobre o repasse de R$ 400 mil consta na decisão do juiz Paulo Fernando Deroma de Mello, da 1.ª Vara de Crimes Tributários, Organização Criminosa e Lavagem de Bens e Valores da Capital, que autorizou a Operação Tacitus.

“Não é de hoje que se tem notícias que o PCC tem se infiltrado na política nacional”, escreveu o magistrado.

Além do advogado, foram presos nesta terça o delegado Fábio Baena Martin e os investigadores Eduardo Lopes Monteiro e Rogério de Almeida Felício, todos da Polícia Civil de São Paulo, por suspeita de envolvimento com o PCC.

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O advogado já havia sido preso em agosto, depois que vieram a público as suspeitas de envolvimento de empresas de ônibus que contratadas pela Prefeitura de São Paulo com o PCC, reveladas na Operação Fim da Linha e na Operação Decurio. Mude é acionista de uma dessas empresas, a UPBus, que segundo o Ministério Público era usada para lavar dinheiro do tráfico de drogas.

Foi durante as investigações da Operação Decurio que o Ministério Público de São Paulo apontou pela primeira vez a atuação do PCC para se infiltrar nas eleições municipais, lançando candidatos próprios em cidades como Mogi das Cruzes e Santo André.

Para os investigadores, Mude usa as prerrogativas de advogado para tentar blindar a organização criminosa. Ele também é suspeito lavar dinheiro do PCC. O nome do advogado já apareceu em diferentes relatórios do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf).

Ahmed Hassan Saleh, o Mude, advogado suspeito de ligação com o PCC Foto: Reprodução/OAB-SP

A Operação Tacitus tem como base a delação do empresário Vinicius Gritzbach, executado na área de desembarque do aeroporto de Guarulhos no dia 8 de novembro.

Segundo o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), braço do Ministério Público de São Paulo, Mude teria oferecido R$ 3 milhões em nome do PCC a Valdenir Paulo de Almeida, o Xixo, e Valmir Pinheiro, conhecido como Bolsonaro, policiais do Departamento de Prevenção e Repressão ao Narcotráfico, pela execução do empresário.

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Ao decretar a prisão temporária do advogado, o juiz Paulo Fernando Deroma de Mello afirmou que ele é um indivíduo de “alta periculosidade, enorme poder econômico” e tem capacidade de tentar atrapalhar a investigação, “inclusive encomendando assassinato de desafetos ou testemunhas que tenham elementos que possam comprometê-lo”.

A Operação Tacitus recebeu esse nome em razão de um informante responsável por uma série de e-mails enviados a policiais, promotores e jornalistas com informações sobre corrupção policial e o caso Gritzbach. Sua identidade não foi revelada.

O informante acusava o delegado Baena de corrupção, bem como investigadores da Polícia Civil que teriam estourado 15 casas-cofre do PCC para se apossar de cerca de R$ 90 milhões que a facção escondia nesses endereços.

Tacitus afirmou em um dos e-mails que era dono de R$ 6 milhões de que os policiais teriam se apropriado. Ele foi ainda o responsável por vazar, em agosto, a proposta de delação premiada de Gritzbach por meio do envio de e-mails para diversas pessoas. O mistério em torno de sua identidade, no entanto, não impede os investigadores de desconfiar de que ele seria alguém próximo de Gritzbach e de outros integrantes da facção criminosa.

A operação nasceu do inquérito aberto pela Delepat, delegacia da PF que ficou responsável por participar da força-tarefa montada para apurar tanto o assassinato de Gritzbach como os dados de sua delação.

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E foi justamente apurando a delação do empresário assassinado no dia 8 de novembro, no aeroporto de Guarulhos, que os federais e os promotores do Gaeco chegaram aos policiais que tiveram suas prisões decretadas - todos acusados por Gritzbach como autores de achaques milionários - e a Mude, ao empresário Robinson Granger de Moura, o Molly, e a Ademir Pereira de Andrade.

Ademir, Mude e Molly foram apontados pelo empresário em sua delação como os principais responsáveis pela lavagem de dinheiro do PCC em imóveis de luxo na região do Tatuapé, na compra de casas na Riviera de São Lourenço, bem como pelo esquema de captura de parte do transporte público da capital por meio do domínio exercido pela facção na empresa UPBus.

COM A PALAVRA, O ADVOGADO ÁTILA MACHADO, QUE REPRESENTA SALEH

A defesa do advogado Ahmed Hassan Saleh recebeu com imensa surpresa a notícia da decretação de sua prisão temporária.

Isso porque, as autoridades, ao mesmo tempo em que, de um lado, buscam criminalizar a pessoa do advogado por fatos supostamente praticados por seus clientes, de outro, insistem em trazer como “novos” fatos que já foram apurados e esclarecidos pela Justiça, ou seguem em apuração.

Bem por isso, reafirmando que o Dr. Ahmed jamais praticou ou contribuiu para prática de qualquer crime, a aefesa informa que está tomando as medidas judiciais cabíveis para revogar a ilegal prisão temporária decretada.

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COM A PALAVRA, A DEFESA DE FÁBIO BAENA MARTINS E EDUARDO MONTEIRO

A defesa constituída do Delegado de polícia Dr. Fábio Baena Martin e do investigador Eduardo Monteiro, indignada, esclarece que a prisão hoje cumprida não possui necessidade, idoneidade e se constitui em arbitrariedade flagrante.

Inadmissível no Brasil se banalizar o direito à liberdade, decretando-se prisão midiática, sem contemporaneidade, e o mais grave, por fatos que já foram investigados e arquivados pela Justiça, por recomendação do próprio Ministério Público.

A palavra pueril de um mitômano, sem qualquer elemento novo de prova, não poderia jamais motivar medida tão excepcional, afrontando o status dignitatis e libertatis dos nossos constituídos. Esclareça-se também que ambos compareceram espontaneamente para serem ouvidos e jamais causaram qualquer embaraço às repetidas investigações.

Ademais, a defesa denuncia o gravíssimo fato que não se deu o Direito e oportunidade ao Delegado Baena contactar seus advogados avisando de sua prisão e do cumprimento do mandado de busca, o que somente reforça a ilegalidade denunciada.

A defesa está tomando todas as medidas para fazer cessar, imediatamente, a coação espúria constatada.

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Daniel Bialski, Bruno Borragine, Luís Felipe D’Alóia, Gustavo Alvarez Cruz, Daniele Casteluci Oliveira e André Bialski

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