A Polícia Federal (PF) apreendeu o equivalente a R$ 1 milhão em moeda estrangeira com um dos alvos da investigação sobre o aparelhamento da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) no governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
A quantia foi encontrada na Operação Última Milha, primeira ação ostensiva da PF na investigação, em outubro de 2023.
O material apreendido na ocasião levou a Polícia Federal a pedir autorização do Supremo Tribunal Federal (STF) para fazer buscas na casa e no gabinete do deputado Alexandre Ramagem (PL-RJ), ex-diretor da Abin, e de outros investigados no caso. Os mandados foram cumpridos na quinta-feira, 25, na Operação Vigilância Aproximada. O deputado nega irregularidades, afirma que a investigação é uma “salada de narrativas” e que a Polícia Federal quer incriminá-lo.
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O procurador-geral da República, Paulo Gonet, foi a favor do desdobramento. O parecer enviado ao STF põe sob suspeita a apreensão do dinheiro na etapa anterior.
“É útil rememorar que em outras etapas das investigações foram encontradas substanciosas quantias em moeda estrangeira sem explicação de origem (próximas a 1 milhão de reais) na posse de um dos investigados. Deve ser ressaltado que a agência dispunha de verbas financeiras identificadas como secretas, que dispensavam a comprovação da despesa a que deveriam se vincular”, diz a manifestação.
Outra suspeita levantada a partir do material apreendido em outubro é a de que a Abin pode ter usado indevidamente outras ferramentas de espionagem além do software First Mile, que permite o monitoramento de geolocalização de celulares em tempo real.
A PF afirma ter encontrado anotações compatíveis com a ferramenta Cobalt Strike, que pode ser usada para invadir computadores. O aplicativo LTESniffer, que intercepta tráfego em redes 4G, é outro que, segundo a Polícia Federal, pode ter sido usado pela “Abin paralela”.
Para a PF, a Abin foi loteada e instrumentalizada contra desafetos de Bolsonaro e para apoiar seus aliados. Dois departamentos da agência estão no centro da investigação, o Centro de Inteligência Nacional (CIN) e o Departamento de Operações de Inteligência (DOINT).
A Polícia Federal afirma que o aparato da Abin foi usado para monitorar políticos de oposição ao governo e para auxiliar a defesa de filhos do ex-presidente em investigações criminais. A agência também teria sido usada para atacar as urnas e para tentar associar ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) ao Primeiro Comando da Capital (PCC).
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