A Polícia Federal deflagrou na manhã desta quinta-feira, 27, a Operação Disclosure para investigar a suposta participação de ex-diretores da empresa Americanas em fraudes contábeis de R$ 25,3 bilhões. Agentes vasculharam 15 endereços ligados a ex-dirigentes da companhia no Rio de Janeiro.
Em nota, a rede varejista diz que “foi vítima de uma fraude de resultados pela sua antiga diretoria, que manipulou dolosamente os controles internos existentes”.
Os agentes foram às ruas para cumprir também duas ordens de prisão preventiva, contra o ex-CEO Miguel Gutierrez e a ex-diretora Anna Christina Ramos Saicali. Os mandados, no entanto, não foram executados em razão de os alvos estarem no exterior.
Em setembro do ano passado, Gutierrez negou que tivesse conhecimento das fraudes contábeis. À época, o ex-CEO era acusado pela nova diretoria das Lojas Americanas de uma ação orquestrada para enquadrar acionistas.
As ordens foram expedidas pela 10ª Vara Federal Criminal do Rio de Janeiro, que decretou o sequestro de bens e valores de mais de R$ 500 milhões dos investigados.
A ofensiva apura supostos crimes de manipulação de mercado, uso de informação privilegiada, associação criminosa e lavagem de dinheiro. Segundo a PF, se condenados, as penas impostas aos investigados podem chegar a 26 anos de reclusão.
O nome da Operação, “Disclosure”, faz referência a expressão recorrente no mercado financeiro, que significa “fornecer informações para todos os interessados na situação de uma companhia”, segundo a PF. A corporação diz que a medida “pode ser traduzido como o ato de dar transparência à situação econômica da empresa”.
A Polícia Federal indica que os ex-diretores da Americanas teriam fraudado operações de risco sacado - operação na qual empresa consegue antecipar o pagamento a fornecedores por meio de empréstimo junto aos bancos.
Também foram identificadas fraudes envolvendo contratos de verba de propaganda cooperada (VPC), incentivos comerciais que geralmente são utilizados no setor. No entanto, no caso da Americanas, foram contabilizadas VPCs que nunca existiram, diz a PF.
De acordo com o Ministério Público Federal, as investigações tiveram início em 2023, após a Americanas divulgar um rombo de R$ 20 bilhões em seu balanço devido a “inconsistências contábeis”. A Polícia Federal começou as apurações junto da Procuradoria e da Comissão de Valores Mobiliários (CVM).
Depois, dirigentes da empresa procuraram o MPF para fechar acordos de colaboração premiada sobre um “esquema de fraude para ludibriar o mercado de capitais”. O órgão diz que o comitê externo constituído pela empresa para apurar o caso colaborou com as investigações.
COM A PALAVRA, A AMERICANAS
A Americanas reitera sua confiança nas autoridades que investigam o caso e reforça que foi vítima de uma fraude de resultados pela sua antiga diretoria, que manipulou dolosamente os controles internos existentes. A Americanas acredita na Justiça e aguarda a conclusão das investigações para responsabilizar judicialmente todos os envolvidos.
COM A PALAVRA, A DEFESA DE MIGUEL GUTIERREZ
“Miguel reitera que jamais participou ou teve conhecimento de qualquer fraude e que vem colaborando com as autoridades, prestando os esclarecimentos devidos nos foros próprios”
COM A PALAVRA, A DEFESA DE ANNA SAICALI
A reportagem do Estadão busca contato com a defesa da ex-diretora das Lojas Americanas. O espaço está aberto para manifestação também dos outros citados na Operação Disclosure (pepita.ortega@estadao.com; fausto.macedo@estadão.com)
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