A Polícia Federal abriu uma operação na manhã desta sexta-feira, 11, para investigar suposto grupo que teria vendido bens entregues a autoridades brasileiras em missões oficiais. Entre os alvos da ofensiva estão o general Mauro César Lourena Cid - pai de Mauro Cid -, o advogado Frederick Wassef, que representou o ex-chefe do Executivo perante a Justiça, e o tenente Osmar Crivelatti, ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro.
De acordo com a PF, os montantes ‘obtidos das vendas foram convertidos em dinheiro em espécie e ingressaram no patrimônio pessoal dos investigados, por meio de laranjas e sem utilizar o sistema bancário formal, com o objetivo de ocultar a origem, localização e propriedade dos valores’.
Os investigadores suspeitam da tentativa de venda de quatro conjuntos de presentes dados ao ex-presidente durante sua gestão.
Segundo a Polícia Federal, o grupo conseguido vender um relógio Rolex para a empresa Precision Watches. O item acabou ‘recuperado’ em março, pelo advogado Frederick Wassef, após o Tribunal de Contas da União determinar a devolução de presentes recebidos por Bolsonaro. Em abril, Wassef encontrou Cid e lhe entregou o relógio. O ex-ajudante de ordens de Bolsonaro então voltou à Brasília e entrregou o relógio a Crivelatti, assessor do ex-chefe do Executivo.
Batizada Lucas 12:2, a operação vasculha quatro endereços em Brasília (2), São Paulo e Niterói. São investigados supostos crimes de peculato e lavagem de dinheiro. As ordens foram expedidas pelo ministro Alexandre de Moraes no bojo do inquérito das milícias digitais.
Bolsonaro e Mauro Cid não foram alvo de buscas na manhã desta sexta porque já tiveram as residências vasculhadas no bojo da investigação sobre inserções de dados falsos de vacinação contra a Covid-19 nos sistemas do Ministério da Saúde. A PF entendeu que seria ‘desnecessária a realização de novas medidas cautelares’ contra os dois.
Segundo a PF, o nome da ofensiva faz alusão a versículo da Bíblia que diz: “Não há nada escondido que não venha a ser descoberto, ou oculto que não venha a ser conhecido “.
Após a deflagração da operação, o ministro da Justiça Flávio Dino escreveu em seu perfil no Twitter que, segundo estudos, ‘a compra e venda de joias é caminho clássico de corrupção e lavagem de dinheiro’.
Ao analisar documentos do Planalto, a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do 8 de Janeiro identificou uma troca de e-mails que mostra que Cid tentou vender, por R$ 300 mil, um relógio da marca Rolex recebido em viagem oficial. A negociação se deu no dia 6 de junho. Em e-mail em inglês, uma interlocutora pergunta a Cid quanto ele quer no relógio e dá a entender que ele seria cravejado de platina e diamantes.
Em viagem oficial a Doha, no Catar, e em Riade, na Arábia Saudita, em outubro de 2019, o então presidente Bolsonaro recebeu um estojo de joias, que incluía um relógio da marca Rolex, de ouro branco, cravejado de diamantes. Três anos depois, no mesmo dia em que Cid enviou o e-mail identificado pela CPMI, foi registrado pelo sistema da Presidência que os itens foram “encaminhados ao gabinete do presidente Jair Bolsonaro”. Dois dias depois, em 8 de junho, conforme os registros oficiais, as joias já se encontravam “sob a guarda do Presidente da República”.
COM A PALAVRA, A DEFESA DE BOLSONARO
“A defesa do presidente Jair Bolsonaro voluntariamente e sem que houvesse sido instada, peticionou junto ao TCU — ainda em meados de março, p.p. —, requerendo o depósito dos itens naquela Corte, até final decisão sobre seu tratamento, o que de fato foi feito. O Presidente Bolsonaro reitera que jamais apropriou-se ou desviou quaisquer bens públicos, colocando à disposição do Poder Judiciário sua movimentação bancária.”
Paulo Amador da Cunha Bueno, Daniel Bettamio Tesser e Fábio Wajngarten
COM A PALAVRA, FREDERICK WASSEF
Em nota, Frederick Wassef afirma estar “sofrendo uma campanha de fake news e mentiras de todos os tipos” e ter sido “acusado falsamente de ter um papel central em um suposto esquema de vendas de joias”. O advogado alega que nunca vendeu, ofereceu ou teve posse de qualquer joia. “Nunca participei de nenhuma tratativa, nem auxiliei nenhuma venda, nem de forma direta nem indireta. Jamais participei ou ajudei de qualquer forma qualquer pessoa a realizar nenhuma negociação ou venda”, afirma.
Leia mais
Leia a nota na íntegra:
Como advogado de Jair Messias Bolsonaro, venho informar que, mais uma vez, estou sofrendo uma campanha de fake news e mentiras de todos os tipos, além de informações contraditórias e fora de contexto. Fui acusado falsamente de ter um papel central em um suposto esquema de vendas de joias. Isso é calúnia que venho sofrendo e pura mentira. Total armação.
A primeira vez que tomei conhecimento da existência das joias foi no início deste ano de 2023 pela imprensa. Quando liguei para Jair Bolsonaro, ele me autorizou, como seu advogado, a dar entrevistas e fazer uma nota à imprensa. Antes disso, jamais soube da existência de joias ou quaisquer outros presentes recebidos. Nunca vendi nenhuma joia, ofereci ou tive posse. Nunca participei de nenhuma tratativa, nem auxiliei nenhuma venda, nem de forma direta nem indireta. Jamais participei ou ajudei de qualquer forma qualquer pessoa a realizar nenhuma negociação ou venda.
A Polícia Federal efetuou busca em minha residência no Morumbi, em São Paulo, e não encontrou nada de irregular ou ilegal, não tendo apreendido nenhum objeto, joias ou dinheiro. Fui exposto em toda televisão com graves mentiras e calúnias.
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.