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Influencer fitness lucrou R$ 3,7 milhões com venda de químicos para o tráfico, diz PF

Polícia Federal pediu prisão preventiva de Renato Cariani e teve endosso da Promotoria de São Paulo, mas Justiça só autorizou buscas nos endereços do alvo da Operação Hinsberg; investigadores interceptaram diálogo em que fisiculturista chama policiais civis de ‘vermes’; Cariani diz que sua empresa ‘trabalha totalmente regulada’

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Atualização:
O influenciador Renato Cariani. Foto: Instagram/Reprodução/@renato_cariani

Ao requerer a abertura da Operação Hinsberg, que investiga o desvio de 12 toneladas de produtos químicos para a produção de cocaína e crack, o Ministério Público de São Paulo estimou que a empresa no centro do esquema, pertencente ao influenciador fitness Renato Cariani, teria lucrado ao menos R$ 3,7 milhões com a venda de insumos para o tráfico de drogas.

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O Ministério Público de São Paulo chegou a chancelar o pedido da Polícia Federal para que fosse expedido mandado de prisão contra Cariani e outros dois investigados - sua sócia, Roseli Dorth, e seu ‘amigo’ Fábio Spinola Mota.

A Justiça não acolheu pedido de prisão dos alvos da Operação Hinsberg. A ofensiva aberta nesta terça, 12, limitou-se a vasculhar endereços dos investigados.

Cariani diz que ainda não teve acesso ao conteúdo das investigações. Ele sustenta que sua empresa foi fundada em 1981 e é controlada por sua sócia, de 71 anos. “Tem sede própria, todas as licenças, certificações nacionais e internacionais. Trabalha totalmente regulada”, afirma.

A investigação que culminou na Operação Hinsberg teve início a partir de uma denúncia da farmacêutica AstraZeneca, em julho de 2019. Ela narrou a emissão de notas fiscais em 2017 referentes a movimentações de produtos químicos que não reconhecia como suas. Depois, a PF recebeu mais dois relatos semelhantes, da Cloroquímica e da LBS Laborasa.

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Tais denúncias colocaram os promotores do Ministério Público de São Paulo no encalço da Anidrol e da Quimietest. Eles descobriram que as empresas integram um mesmo grupo administrado por Cariani e Roseli Dorth.

De acordo com a Promotoria, restou confirmado que a Quimietest não tem sede física e atua como ‘braço’ da Anidrol.

Ao longo do inquérito, o Ministério Público reuniu indícios de que as empresas de Cariani e Dorth realizavam vendas fictícias às farmacêuticas para mascarar a remessa de insumos para o tráfico. Eles teriam usado ‘laranjas’ como representantes das empresas para receber os pagamentos e ‘justificar’ o desvio dos produtos químicos para o narcotráfico.

Foram identificadas 60 vendas fraudadas de lidocaína, fenacetina e manitol. A PF estima que os insumos podem ter viabilizado a produção de 15,8 toneladas de cocaína ou 12,2 toneladas de crack. O lucro auferido pelo grupo investigado teria sido de R$ 3,7 milhões.

Na representação à Justiça, a Promotoria destacou não só a gravidade dos crimes sob suspeita, mas a ‘audácia, organização e capacidade financeira’ dos investigados que arquitetaram o esquema. “Por meio de estabelecimentos credenciados na Polícia Federal para atuar no ramo controlado de produtos químicos, eles se utilizaram das licenças concedidas pelo Estado para atingir fins escusos.”

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Trechos do parecer do MP-SP sobre a Operação Hinsberg Foto: Reprodução

Prisões indeferidas

Ao pedir à Justiça deferimento das diligências cumpridas nesta terça, 12, a Promotoria sustentou existência de ‘indícios atuais de estabilidade e permanência’ da associação criminosa que atua desde 2014, pelo menos.

O Ministério Público argumentou a imprescindibilidade das prisões preventivas - não autorizadas pela Justiça - indicando que, em liberdade, os investigados poderiam ‘frustrar a obtenção de provas e eliminar eventuais materiais dos fatos, bem assim a identidade dos demais envolvidos’.

Os promotores encontraram uma troca de mensagens entre Cariani e Dorth, na qual o influenciador diz: “Graças a Deus esta semana é curta, poderemos trabalhar no feriado para arrumar de vez a casa e fugir da Polícia.”

Trechos do parecer do MP-SP sobre a Operação Hinsberg Foto: Reprodução

Nessa conversa com a sócia, o influencer fitness chama policiais civis de ‘vermes’. Segundo a Promotoria, o contexto das mensagens - datadas de 2014 - seria a ‘iminência’ de uma fiscalização da Polícia Civil nas instalações da Anidrol.

“Embora as mensagens sejam de 2014, as imagens evidenciam o risco dos agentes em ações destinadas a influenciar nas provas e vestígios dos crimes ora investigados, o que é bastante crível, considerando a contemporaneidade da associação criminosa”, sustentou o Ministério Público à Justiça.

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Ligação pessoal entre Cariani e um ‘corretor imobiliário’ do narcotráfico já preso pela PF

Documento do Ministério Público sobre as atividades do influencer é subscrito pelos promotores Juliano Carvalho Atoji, Luiz Fernando Bugiga Rebellato, Luís Fernando de Moraes Manzano e Fábio Ramazzini Bechara. Eles integram o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), braço do Ministério Público paulista.

Aprofundando as apurações sobre a venda fraudulenta mais expressiva identificada, os promotores chegaram a Augusto Guerra, suposto representante da Astrazeneca. No entanto, segundo a Promotoria, a análise de dados telemáticos colacionados na investigação mostraram que, na verdade, a conta de e-mail de ‘Augusto’ era controlada por Fábio Spinola Mota, nome já conhecido pela Polícia Federal.

Trechos do parecer do MP-SP sobre a Operação Hinsberg Foto: Reprodução

Fábio foi preso na Operação Downfall, aberta pela PF em maio. De acordo com o inquérito, ele fazia parte de uma quadrilha atuando como ‘corretor imobiliário informal’ para operacionalizar a compra de imóveis de luxo como método de lavar dinheiro do narcotráfico.

Segundo o Ministério Público de São Paulo, Fábio mantém ‘ligação pessoal’ com Cariani. São amigos de ‘longa data’, dizem os investigadores.

O inquérito ainda enfatiza a ligação de Cariani com um funcionário de Fábio, Rodrigo Gomes Pereira, que seria usado no esquema para fazer depósitos na conta da Anidrol, sob responsabilidade das empresas vítimas das fraudes.

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Lança Perfume

A Promotoria argumentou à Justiça que existem ‘diversos elementos que robustecem a utilização reiterada da Anidrol como peça do mecanismo engendrado para o tráfico de drogas.

Os promotores destacam o envolvimento da empresa em ‘transações suspeitas’ que ensejaram investigação da Polícia Civil de São Paulo. A Promotoria cita um inquérito, conduzido em São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo, que levou à condenação de uma quadrilha por associação para o tráfico de drogas.

No bojo do processo, um sentenciado afirmou que fornecia tricloroetileno - usado para a fabricação de lança-perfume - para um traficante conhecido como ‘Rato’. Ele alegou que retirava o insumo químico no laboratório Anidrol.

Segundo o MP, a empresa emitiu 107 notas fiscais para a empresa do réu, totalizando a venda de 9 mil litros do produto químico usado na produção de lança perfume.

Nesse contexto, a Promotoria sustenta. “Tais antecedentes agravam as suspeitas de que a Anidrol obtém vantagens financeiras sendo parceira ou, no mínimo, conivente com grupos criminosos dedicados à produção de entorpecentes.”

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A organização da quadrilha

A Promotoria coloca Cariani e sua sócia no topo da quadrilha sob suspeita, como integrantes do núcleo responsável pela venda dos produtos químicos destinados à preparação das drogas.

Outro integrante desse núcleo seria Fábio Spínola, que também é apontado como ‘principal elo entre as empresas químicas e os interessados nos insumos’. Spínola faz parte do ‘núcleo encarregado de intermediar o fornecimento das substâncias controladas à produção de entorpecentes’.

A Promotoria aponta ainda que o grupo ‘ocultava os reais beneficiários do esquema’ formado por 14 investigados que ‘agiram de modo a blindar os verdadeiros nomes da associação’.

O influenciador Renato Cariani. Foto: Instagram/Reprodução/@renato_cariani
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