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PF encontra planilhas de 'contabilidade da propina' a servidores do Acre e diz ter 'padrão ouro' de provas

Documentos e conversas extraídas pelos investigadores da Operação Ptolomeu reforçam suspeitas de fraudes e desvios na gestão Gladson Cameli (PP); 'geralmente, o que eles cobram é de 5 a 7%', diz empreiteiro em grupo de WhatsApp

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Foto do author Rayssa Motta
Foto do author Fausto Macedo

A Polícia Federal (PF) afirma ter encontrado planilhas que registram o pagamento de propinas de empresários a servidores do Governo do Acre em troca do direcionamento de licitações.

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A terceira fase da Operação Ptolomeu foi deflagrada na quinta-feira, 9, por ordem da ministra Nancy Andrighi, do Superior Tribunal de Justiça (STJ). A PF fez buscas inclusive em endereços comerciais e residenciais de familiares do governador Gladson Cameli (PP), principal alvo da investigação.

Os registros das contabilidades paralelas foram localizados em celulares apreendidos na investigação e são descritos pela PF no relatório da perícia feita nos aparelhos.

"O pagamento de propina a servidores públicos é tratado com naturalidade e planilhado na prestação de contas entre os empresários", escreve o delegado Pedro Henrique do Monte Miranda, da Divisão de Combate à Corrupção e Crimes Financeiros da PF no Acre.

Um dos arquivos é atribuído ao empresário João Paulo Alves do Nascimento, sócio da Atlas Construção e Comércio, que tem contratos milionários com o governo estadual.

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O rascunho, escrito à mão, seria uma repartição da receita recebida a partir de uma nota de pagamento emitida pelo Departamento de Estradas e Rodagens do Acre (Deacre). O documento tem uma rubrica para 'funcionário do Deacre', com o valor correspondente de R$ 11,7 mil.

Rubrica para 'funcionário do Deacre' indica pagamento de propinas, afirma PF. Foto: Reprodução

O arquivo foi enviado a Rudilei Soares de Souza, o 'Rudilei Estrela', apontado como amigo pessoal e operador financeiro do governador Gladson Cameli (PP), além de alguém com influência nos 'bastidores' do governo.

A PF cruzou os dados das anotações com transferências bancárias feitas na sequência e afirma que os valores batem. "A rubrica 'funcionário Deacre' já traz um comprovante cabal de que a Atlas, a exemplo do que ocorre com a EAS, realiza pagamento de propina a servidores públicos em virtude de contratos celebrados", afirma o delegado.

PF vê 'padrão ouro' de provas: 'riqueza de detalhes que confirmam materialidade e autoria'. Foto: Reprodução

Outra planilha teria sido enviada por Douglas Soares do Nascimento, da EAS Engenharia, no grupo de WhatsApp intitulado 'Diretoria EAS'. O documento detalha a contabilidade da reforma da Secretaria de Estado de Produção e Agronegócio (Sepa). Nascimento afirma expressamente que os 'nomes estranhos' são as propinas. Os valores chegam a R$ 462 mil, segundo a PF.

Vantagens indevidas seriam pagas a servidores do Governo do Acre em troca do direcionamento de contratos. Foto: Reprodução

Os investigadores também encontraram conversas que reforçam as suspeitas do pagamento de propina pela EAS. O sócio da construtora, Diego Soares do Nascimento, escreve no mesmo grupo de WhatsApp: "Se tiver que negociar, vai lá, negocia direto com ele, veja a porcentagem. Geralmente o que eles cobram é de 5 a 7%. É pouco", afirma. Para a PF, esse seria o percentual de propina cobrado para favorecer as empresas em contratos públicos.

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Em outra mensagem, no mesmo grupo, o empresário combina a entrega de dinheiro pessoalmente e afirma que 'queria uma mochila, uma pasta, alguma coisa para entregar esse dinheiro'.

PF acredita que empresários tratavam do pagamento de propinas em conversas de WhatsApp. Foto: Reprodução

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Para os investigadores, a análise dos diálogos travados no grupo 'corrobora de forma decisiva e densa' o suposto esquema de fraudes nos contratos do Governo do Acre.

"A riqueza de detalhes que confirmam materialidade e autoria de diversos crimes no presente caso é raríssima de se encontrar em uma investigação criminal. Estamos com o padrão ouro de elemento de informação no presente caso. Os investigados conversam com absoluta naturalidade, 'confessando' a prática dos mais diversos crimes e envolvendo o governador, empresários e servidores do alto escalão nos mais diversos ilícitos", afirma o delegado.

COM A PALAVRA, A DEFESA DO GOVERNADOR

"O governador não cometeu qualquer ilegalidade. A investigação caminha sem conclusão há dois anos e, ao final, servirá para comprovar sua inocência.

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O inquérito é todo ele derivado de relatórios encomendados do COAF, que além de tudo são desprovidos de qualquer coerência.

A gestão do Governador Gladson Cameli sempre foi pautada pela ética e eficiência e, não por outra razão, foi reeleito pelo povo do Acre.

Desde o início do inquérito, o governador já prestou os devidos esclarecimentos, colocou-se à disposição das autoridades e assim permanece."

Ticiano Figueiredo, Pedro Ivo Velloso, Tarcísio Vieira de Carvalho Neto e Telson Ferreira, advogados do governador Gladson Cameli.

COM A PALAVRA, A ATLAS ENGENHARIA

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"O próprio relatório identificou a pessoa que recebeu o dinheiro, que não é funcionário do órgão, mas um serralheiro que presta serviços há anos na manutenção das balsas que fazem as travessias nos rios que cortam as rodovias estaduais. Como não sabia o nome do profissional na hora, no rascunho foi indicada essa infeliz expressão que findou por causar outra interpretação, mas que nada significa quanto a pagamento de propinas."

COM A PALAVRA, OS DEMAIS CITADOS

A reportagem busca contato com os demais citados na reportagem. O espaço está aberto para manifestação (rayssa.motta@estadao.com ou fausto.macedo@estadao.com).

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