
A Polícia Federal deflagrou na manhã desta terça, 17, a Operação Simonia com o objetivo de desarticular suposto esquema criminoso na cúpula administrativa da Secretaria de Administração Penitenciária do Estado do Rio de Janeiro. O chefe da pasta, Raphael Montenegro, foi preso durante a ofensiva, assim como o subsecretário Wellington Nunes da Silva e o superintendente Sandro Farias Gimenes.
A Simonia mira supostas negociações espúrias entre a cúpula da SEAP do Rio e líderes da facção criminosa Comando Vermelho. As apurações indicam que os crimes sob suspeita 'foram praticados em troca de influência sobre os locais de domínio destes traficantes e outras vantagens ilícitas', diz a PF.
De acordo com o Ministério Público Federal, Montenegro realizou diligências para viabilizar o retorno de integrantes da facção que estavam presos na penitenciária federal de Catanduvas (PR), a fim de beneficiar a atuação da organização no Estado. Há suspeitas de que tais tentativas sejam continuidade de um esquema que já existe no Sistema Prisional do Rio de Janeiro, em relação a outros membros do Comando Vermelho, diz a Procuradoria.
Os investigadores ainda identificaram 'que servidores da pasta facilitavam a entrada de pessoas e itens proibidos em unidades prisionais estaduais, tendo, inclusive, realizado a soltura irregular de criminoso de altíssima periculosidade, contra quem havia sabidamente mandados de prisão pendentes de cumprimento'.
Cerca de 40 agentes cumprem três mandados de prisão temporária e cinco de busca e apreensão no Rio de Janeiro, em Nova Iguaçu e em Duque de Caxias. As ordens foram expedidas pela Tribunal Regional Federal da 2ª Região, que ainda decretou a quebra de sigilo telefônico e telemático deles.
De acordo com a PF, a investigação é desenvolvida em conjunto com o Ministério Público Federal e o Departamento Penitenciário Federal. O nome da ofensiva, Simonia, faz referência a 'uma prática medieval em que detentores de cargos trocavam benefícios ilegítimos por vantagens espúrias', diz a corporação.
As suspeitas que recaem sobre Montenegro
De acordo com o Ministério Público Federal, Montenegro solicitou à penitenciária paranaense entrevistas com presos integrantes da facção sob a justificativa de colher informações para relatório técnico sobre a possibilidade de retorno deles ao Rio, o que foi considerado 'incomum' pela corregedoria da penitenciária.
"Mas escutas das reuniões do secretário com os presos, realizadas com autorização judicial, identificaram uma série de acordos informais, sem embasamento legal, por meio dos quais o secretário e demais servidores investigados prometiam esforços para viabilizar o retorno deles ao Rio para retomar a liderança da organização criminosa. As promessas eram feitas em troca de influência sobre os locais de domínio destes traficantes e outras vantagens ilícitas", registrou a Procuradoria em nota.
Os investigadores apontam ainda que foram identificadas 'outras iniciativas para viabilizar os acordos espúrios com os criminosos', entre elas uma ordem se serviço permitindo à SEAP aferir a periculosidade de criminosos, classificação que possibilitaria a transferência de presos.
"Em outra situação, contrariando a manifestação de órgãos de segurança pública e do Ministério Público do Rio de Janeiro, Raphael Montenegro interveio no processo de execução da pena de um condenado e opinou de forma favorável a sua transferência ao Rio, ocultando informações importantes ao órgão julgador do caso", registrou ainda o MPF em nota.